Elaine Thompson-Herah, a mulher mais rápida do mundo
Jamaicana repete o ouro da Rio 2016 nos 100 metros rasos e supera suas compatriotas Fraser e Jackson, que completam um pódio 100% jamaicano. Velocista de 29 anos quebra o recorde olímpico de 33 anos
Toca ABBA no Estádio Olímpico de Tóquio, um grande teatro com as arquibancadas vazias. Ao som de Dancing Queen, dois corpulentos suecos ―gigantescos e com sua bandeira e suas camisetas amarelas― comemoram ostentando nos pescoços o ouro e a prata, conquistados no lançamento de disco pouco antes. São Daniel Stahl (68,90m) e Simon Petterson comemorando silenciosamente, em modo pandemia. Quando, de repente, o estádio se apaga e só brilham nas arquibancadas escuras os espaços das portas. Como um foguete, a bicampeã olímpica Shelly-Ann Fraser-Pryce, 32 anos, dispara deixando pra trás as concorrentes. É a prova dos 100 metros rasos ―uma das mais esperadas disputas, senão a mais esperada, das Olimpíadas. Mas atrás dela, como um tiro, vinha a também jamaicana Elaine Thompson-Herah, 29 anos, que a supera na reta final, conquistando não só o ouro, mas também quebrando por um centésimo de segundo o recorde olímpico, marcando 10,61s. Ao lado de Shericka Jackson, que chegou em terceiro, o trio completou um pódio 100% jamaicano nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
Atual líder do ranking mundial na modalidade, Fraser é alcançada por sua compatriota Elaine Thompson e, com ela, lado a lado, metro por metro, mantém um duelo de respirações, passos, e olhares para frente e, com o rabo do olho, vigiando os menores gestos, e nos últimos 20 metros o duelo se resolve. É resolvido por Thompson e suas sapatilhas Maxfly de molas, sobre as que quica e avança mais rápido do que qualquer mulher na história com exceção de uma. E quando se aproxima do final, e já deixou Fraser para trás, e seu cabelo dourado como a medalha que a espera, e sua tiara de imperatriz, Thompson, de Kingston como seu herói, se sente Usain Bolt. E, como o deus da velocidade, aponta o cronômetro e o tempo que ele marca, 10,61s, e com um ligeiro vento contrário, uma brisa de 0,6 metros por segundo.
Fraser costuma dizer em entrevistas que é a mãe de Zyon, e que voltou da maternidade mais rápida, ainda mais veloz do que quando ganhou o ouro em Pequim, em 2008, e em Londres, em 2012, como seu amigo Usain Bolt, já há tantos anos. A velocista chega 13 centésimos depois (10,74s) da medalha de ouro, com apenas dois centésimos de margem sobre a terceira, a compatriota Shericka Jackson (10,76s), que também foi bronze nos 400m dos Jogos Olímpicos Rio 2016, e aqui se completa o pódio mais rápido da história. E fica de fora Marie Josee Ta Lou, da Costa do Marfim, que foi capaz de ser a mais rápida de todas nas eliminatórias e nas semifinais (10,78s nas duas) e na final não baixou de 10,91s.
E todos concordam, o novo Bolt que o atletismo procura é uma mulher, uma deusa, Elaine Thompson, que repete o triunfo olímpico, a vitória do Rio, e espera duplicar nos 200m como já o fez no Rio há cinco anos.
A vizinha do homem mais rápido da história dá trabalho aos estatístico, que já a colocam como nova recordista olímpica, um centésimo a menos do que os 10,62s de Florence Griffith nas semifinais da Olimpíada Seul 1988. Thompson dá uma pequena alegria a tantos fãs que querem ver superados o recorde da norte-americana, que deixou o mundo estupefato no final dos anos oitenta, e morreu tão jovem, aos 39 anos, somente 10 depois de fixar nos trials dos Estados Unidos, em julho de 1988, um recorde mundial, 10,49s. A velocista norte-americana teve o recorde questionado por muitos, na ocasião, pelas dúvidas sobre o misterioso anemômetro do estádio de Indianápolis que marcava 0,0 metros por segundo quando, ao lado, a prova do salto triplo era disputado sob um vendaval de mais de quatro metros. Mesmo depois de morrer em consequência de uma crise de epilepsia, muitos tentaram ligar o incidente às suspeitas de doping.
Épocas tristes que foram lembradas em Tóquio, trinta anos depois, com a notícia no dia anterior da suspensão da velocista Blessing Okagbare, após o resultado positivo do teste detector de hormônio de crescimento. A nigeriana, que treina na Flórida, era uma das favoritas para estar na final dos 100m. A atleta foi testada quatro dias antes do início dos Jogos Olímpicos.
As luzes já estavam acessas no estádio quando o trio jamaicano chegou à marca dos 100m. Talvez este tenha sido o maior espetáculo o Estádio Nacional dará aos Jogos. Elaine Thompso, a campeã, caminha sozinha com sua bandeira e sua alegria, o júbilo que a invadiu nas últimas passadas fulgurantes, quando viu a velocidade inferior com que avançavam as adversárias, o tempo mais lento do que suas pernas, e que não desaparece.
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