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Elaine Thompson-Herah, a mulher mais rápida do mundo

Jamaicana repete o ouro da Rio 2016 nos 100 metros rasos e supera suas compatriotas Fraser e Jackson, que completam um pódio 100% jamaicano. Velocista de 29 anos quebra o recorde olímpico de 33 anos

Elaine Thompson Juegos Olimpicos
A jamaicana Elaine Thompson-Herah celebra o ouro nos 100m, no qual bateu novo recorde olímpico.HANNAH MCKAY (Reuters)
Carlos Arribas
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Luisa Stefani, left, and Laura Pigossi, of Brazil, celebrate after defeating Veronika Kudermetova and Elena Vesnina, of the Russian Olympic Committee, in the women's doubles bronze medal tennis match at the 2020 Summer Olympics, Saturday, July 31, 2021, in Tokyo, Japan. (AP Photo/Patrick Semansky)
Laura Pigossi e Luisa Stefani conquistam a 1ª medalha olímpica da história do tênis brasileiro
Brazil's Rebeca Andrade celebrates after winning the silver medal for the artistic gymnastics women's all-around at the 2020 Summer Olympics, Thursday, July 29, 2021, in Tokyo. (AP Photo/Ashley Landis)
Em meio às cinzas, a ideia de um Brasil que vale a pena
Tokyo (Japan), 30/07/2021.- An San of South Korea in action in the women's individual Gold Medal match against Elena Osipova of Russia during the Archery events of the Tokyo 2020 Olympic Games at the Yumenoshima Park in Tokyo, Japan, 30 July 2021. (Japón, Corea del Sur, Rusia, Tokio) EFE/EPA/KIYOSHI OTA
Atacada nas Olimpíadas por usar o cabelo curto

Toca ABBA no Estádio Olímpico de Tóquio, um grande teatro com as arquibancadas vazias. Ao som de Dancing Queen, dois corpulentos suecos ―gigantescos e com sua bandeira e suas camisetas amarelas― comemoram ostentando nos pescoços o ouro e a prata, conquistados no lançamento de disco pouco antes. São Daniel Stahl (68,90m) e Simon Petterson comemorando silenciosamente, em modo pandemia. Quando, de repente, o estádio se apaga e só brilham nas arquibancadas escuras os espaços das portas. Como um foguete, a bicampeã olímpica Shelly-Ann Fraser-Pryce, 32 anos, dispara deixando pra trás as concorrentes. É a prova dos 100 metros rasos ―uma das mais esperadas disputas, senão a mais esperada, das Olimpíadas. Mas atrás dela, como um tiro, vinha a também jamaicana Elaine Thompson-Herah, 29 anos, que a supera na reta final, conquistando não só o ouro, mas também quebrando por um centésimo de segundo o recorde olímpico, marcando 10,61s. Ao lado de Shericka Jackson, que chegou em terceiro, o trio completou um pódio 100% jamaicano nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

Atual líder do ranking mundial na modalidade, Fraser é alcançada por sua compatriota Elaine Thompson e, com ela, lado a lado, metro por metro, mantém um duelo de respirações, passos, e olhares para frente e, com o rabo do olho, vigiando os menores gestos, e nos últimos 20 metros o duelo se resolve. É resolvido por Thompson e suas sapatilhas Maxfly de molas, sobre as que quica e avança mais rápido do que qualquer mulher na história com exceção de uma. E quando se aproxima do final, e já deixou Fraser para trás, e seu cabelo dourado como a medalha que a espera, e sua tiara de imperatriz, Thompson, de Kingston como seu herói, se sente Usain Bolt. E, como o deus da velocidade, aponta o cronômetro e o tempo que ele marca, 10,61s, e com um ligeiro vento contrário, uma brisa de 0,6 metros por segundo.

Fraser costuma dizer em entrevistas que é a mãe de Zyon, e que voltou da maternidade mais rápida, ainda mais veloz do que quando ganhou o ouro em Pequim, em 2008, e em Londres, em 2012, como seu amigo Usain Bolt, já há tantos anos. A velocista chega 13 centésimos depois (10,74s) da medalha de ouro, com apenas dois centésimos de margem sobre a terceira, a compatriota Shericka Jackson (10,76s), que também foi bronze nos 400m dos Jogos Olímpicos Rio 2016, e aqui se completa o pódio mais rápido da história. E fica de fora Marie Josee Ta Lou, da Costa do Marfim, que foi capaz de ser a mais rápida de todas nas eliminatórias e nas semifinais (10,78s nas duas) e na final não baixou de 10,91s.

E todos concordam, o novo Bolt que o atletismo procura é uma mulher, uma deusa, Elaine Thompson, que repete o triunfo olímpico, a vitória do Rio, e espera duplicar nos 200m como já o fez no Rio há cinco anos.

As três jamaicanas cruzam a linha de chegada na final dos 100m rasos nos Jogos Olímpicos de Tóquio.
As três jamaicanas cruzam a linha de chegada na final dos 100m rasos nos Jogos Olímpicos de Tóquio.Morry Gash (AP)

A vizinha do homem mais rápido da história dá trabalho aos estatístico, que já a colocam como nova recordista olímpica, um centésimo a menos do que os 10,62s de Florence Griffith nas semifinais da Olimpíada Seul 1988. Thompson dá uma pequena alegria a tantos fãs que querem ver superados o recorde da norte-americana, que deixou o mundo estupefato no final dos anos oitenta, e morreu tão jovem, aos 39 anos, somente 10 depois de fixar nos trials dos Estados Unidos, em julho de 1988, um recorde mundial, 10,49s. A velocista norte-americana teve o recorde questionado por muitos, na ocasião, pelas dúvidas sobre o misterioso anemômetro do estádio de Indianápolis que marcava 0,0 metros por segundo quando, ao lado, a prova do salto triplo era disputado sob um vendaval de mais de quatro metros. Mesmo depois de morrer em consequência de uma crise de epilepsia, muitos tentaram ligar o incidente às suspeitas de doping.

Épocas tristes que foram lembradas em Tóquio, trinta anos depois, com a notícia no dia anterior da suspensão da velocista Blessing Okagbare, após o resultado positivo do teste detector de hormônio de crescimento. A nigeriana, que treina na Flórida, era uma das favoritas para estar na final dos 100m. A atleta foi testada quatro dias antes do início dos Jogos Olímpicos.

As luzes já estavam acessas no estádio quando o trio jamaicano chegou à marca dos 100m. Talvez este tenha sido o maior espetáculo o Estádio Nacional dará aos Jogos. Elaine Thompso, a campeã, caminha sozinha com sua bandeira e sua alegria, o júbilo que a invadiu nas últimas passadas fulgurantes, quando viu a velocidade inferior com que avançavam as adversárias, o tempo mais lento do que suas pernas, e que não desaparece.

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