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Xavi, novo treinador do Barcelona: “Ser comparado a Guardiola já é um êxito”

Treinador é aclamado por quase 10.000 torcedores no Camp Nou. Ele revelou que disse não a proposta da seleção brasileira: “Minha ideia sempre foi vir para o Barça”

Novo treinador do FC Barcelona, ​​Xavi Hernández cumprimenta os torcedores que se reuniram nas arquibancadas do Camp Nou para assistir à cerimônia de apresentação.Vídeo: ALEJANDRO GARCÍA/ EFE/ AGENCIAS
Juan I. Irigoyen

A equipe do Barcelona é a mais fraca das últimas temporadas. A enfermaria do time viu 20 jogadores passarem por suas instalações desde o início desta jornada. O clube está envolvido em uma crise econômica aguda, com dívidas de 1,35 bilhão de euros e patrimônio líquido negativo de 471 milhões de euros. Mas Xavi Hernández apareceu esta segunda-feira no Camp Nou e algo mudou no Barça. O futebol é uma ilusão e nada melhor para este momento em Barcelona do que a volta de um símbolo. “Já vi pessoas empolgadas como nunca e isso é culpa do Xavi. Ele é um homem da casa. Hoje é um dia que vai marcar a história do Barcelona“, declarou a presidente, Joan Laporta. Foi um acontecimento sem precedentes na história do Barça: pela primeira vez as portas do estádio foram abertas para receber um novo treinador e 9.442 torcedores compareceram para festejar o regresso do ex-capitão ao clube. “Estou muito emocionado com a forma como os fãs me receberam”, confessou Xavi, que, encorajado por Laporta, até se atreveu a cantar un dia de partit (canto da torcida do Barça).

“Tenho a sensação de que é este o momento”, confessou Xavi Hernández, de 41 anos, que assinou contrato no gramado do Camp Nou até 2024. O treinador teve a possibilidade de regressar ao Barcelona em janeiro de 2020, quando o clube demitiu Ernesto Valverde. Poucos meses depois, no verão daquele mesmo ano, o então presidente Josep Maria Bartomeu bateu à porta de Xavi novamente no Qatar. Encontrou a mesma resposta negativa. “Na primeira vez, não sentimos isso, tanto no nível familiar quanto em mim. Eu precisava de mais margem. Então [em referência à segunda oferta] houve eleições no meio e houve muita incerteza. Também não foi o momento. Mas desta vez Jan [Laporta] me ligou. Sempre disse que ele é o melhor presidente da história do Barça. Vai custar caro“, explicou Xavi. E, para que não reste dúvida, insistiu: “É o momento.”

Laporta também havia negado Xavi duas vezes. Ele considerou, assim como o técnico, que não era sua hora. O fez durante a temporada— “Xavi não está na proposta do meu clube”, disse em fevereiro— e também não o via como substituto de Ronald Koeman —“lhe falta estrada”, disse no verão passado. O presidente apagou o que foi dito. É hora de olhar para o futuro. “Sempre disse que Xavi seria treinador do Barça, mas não sabia quando”, disse nesta segunda-feira. O presidente mudou de ideia, e até lamentou o grupo que lhe entrega: “Eu gostaria de dar um plantel melhor para ele. Mas ele terá nosso apoio se as coisas ficarem difíceis. E se ficarem ainda mais difíceis, ele vai ter o nosso apoio até que tudo dê certo.“

Xavi deixou o Camp Nou há seis anos: em 2015, após o segundo triplete da história do clube e após 17 temporadas no time titular. Então, estavam no vestiário do Barcelona Ter Stegen, Jordi Alba, Gerard Piqué, Sergio Busquets e Sergi Roberto. Hoje os quatro catalães são os líderes do grupo. “Tenho uma relação amigável com todos os capitães. Com o Marc o relacionamento é muito bom. Falei com vários deles. São eles que têm que ajudar a nós e aos jovens“, disse Xavi. O treinador catalão esclareceu, em qualquer caso, que não haverá exceções. “Como eu os conheço, são eles que vou empurrar mais. Eu sei que pé eles usam. Vejo isso como uma vantagem. Gerard, Busi, Jordi, Marc e Sergi têm que puxar o carro. Mas, como todo mundo, eles começam do zero“, explicou o treinador do Barça. Xavi confia na velha guarda, vai apostar na base e espera revitalizar Dembélé. “Ele pode ser o melhor jogador do mundo na sua posição. A sua renovação é uma prioridade para mim“, revelou.

Entre os desafios colocados pelo novo treinador do Barcelona está redirecionar a disciplina no time e estabelecer “ordem” e “regras”. Xavi se encontra em um vestiário sem Messi, mas terá que mudar a atitude da velha guarda. O treinador quer que os jogadores tomem café da manhã e comam na Cidade Esportiva, buscará melhorar a preparação física e aumentar a intensidade nas sessões de trabalho, maior controle do rendimento e mais cuidado na prevenção de lesões. Além disso, tentará estimular atividades em grupo para gerar mais união no vestiário. “Não posso falar do que aconteceu nas últimas temporadas porque não estava. Mas quando tínhamos regras e exigências, estávamos bem“, frisou Xavi. E, por via das dúvidas, esclareceu: “Você não tem que ser duro, tem que estabelecer regras e cumpri-las. Não é disciplina, é ordem“.

Laporta se juntou à visão do clube de Xavi. “Ele tem que comandar. É difícil para ele. É uma situação complicada porque é uma equipe que ainda está por fazer. Ele me convenceu porque me disse que pode tirar muito proveito dessa equipe. Rijkaard também teve dificuldade porque o time ainda não tinha sido montado, enquanto Pep [Guardiola] teve mais facilidade porque o time já estava pronto“, lembrou o presidente. Xavi procura fazer o seu caminho, para longe daquela sombra de Guardiola que já o perseguiu durante anos como jogador: “Me comparar a Guardiola é um êxito, por tudo o que ele já deu ao futebol e ao Barcelona. Para mim, é o melhor técnico do mundo, mas qualquer comparação para mim é ruim agora.” “Ele não tem uma tarefa fácil, mas com seu conhecimento e sua vontade, vamos conseguir”, concluiu Laporta.

Xavi retorna ao Camp Nou e o Barça respira. Ou ao menos volta a se animar. Um sentimento nada desprezível em um clube angustiado esportiva e economicamente.

Ambiguidade sobre a cláusula e o não à seleção brasileira

Joan Laporta não viajou ao Catar para acertar a saída de Xavi do Al-Sadd como o emir Tamim bin Hamad Al Zani queria. O treinador queria encerrar o tempo no clube da melhor maneira —ele é embaixador da Copa do Mundo de 2022— e o Barça queria evitar o pagamento da cláusula de rescisão de cinco milhões. O presidente do Barcelona, porém, evitou responder em três ocasiões se o clube catalão havia pago algo para liberar Xavi. “Foi uma rescisão do contrato, tanto por parte do Xavi como do clube, e fizemos todo o possível para chegar a este acordo. Fizemos um esforço para resolver a questão da cláusula. A relação entre o Barça e o Al-Sadd é aberta. Vamos ver como evolui“, afirmou Laporta.

O retorno de Xavi ao Camp Nou não alterará as regras de fair play financeiro impostas pela LaLiga. “LaLiga olha para tudo com uma lupa. Todos os dias eles inventam algo. Agora fazem uma contra-auditoria sobre nós. Querem que assinemos operações que não vemos com clareza. Se quiserem revisar agora esta operação, estaremos abertos como sempre. Nesse sentido, não temos muita margem salarial, mas ainda temos alguma. Espero que LaLiga pense o mesmo“, disse Laporta. E olhou para o diretor de futebol do clube, Mateu Alemany. “Não haverá problema”, acrescentou o executivo.

Sem problemas com a LaLiga e com a saída de Xavi do Catar resolvida, o treinador revelou uma importante oferta que recebeu da América do Sul. A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) lhe ofereceu atuar como adjunto de Tite na próxima Copa do Mundo e, depois, permanecer como treinador da seleção brasileira. “É verdade que eu tive essa possibilidade, mas a minha ideia sempre foi vir para o Barça”, esclareceu Xavi.

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