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Portugal se envergonha dos insultos racistas a Marega

Partidos políticos, autoridades e o mundo do futebol condenam os gritos xenofóbicos contra o jogador

Jogadores e o técnico do Porto tentam impedir Marega de deixar o campo durante o jogo contra o Vitória de Guimarães.
Jogadores e o técnico do Porto tentam impedir Marega de deixar o campo durante o jogo contra o Vitória de Guimarães.MIGUEL RIOPA (AFP)

O atacante franco-malinês Marega, vítima de insultos raciais neste domingo durante o jogo entre Vitória de Guimarães e Porto, pela Primeira Divisão do futebol português, recebeu manifestações quase unânimes de solidariedade em Portugal. Marega marcou o gol da vitória (2 x 1) no campo do rival e, durante a comemoração, ouviu insultos racistas vindos da arquibancada. Deixou o gramado apesar de os colegas de time tentarem demovê-lo, sem que o árbitro interviesse, e acabou sendo substituído aos 26 minutos do segundo tempo. Imediatamente, o mundo do futebol e da política se manifestou em favor de Marega. Nas redes sociais, o atleta de nacionalidade malinesa (embora nascido na França, em 1991) criticou duramente ao árbitro Luís Godinho —“Não tem vergonha”—, que o advertiu e não suspendeu a partida.

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O primeiro-ministro de Portugal, o socialista António Costa, foi um dos primeiros a reagirem ao incidente. Em uma primeira mensagem no Twitter, mais formal, escreveu: “Nenhum ser humano deve ser submetido a tal humilhação, ninguém pode ficar indiferente. Condeno todos os atos de racismo, em qualquer circunstância”. Posteriormente, em outro tuíte mais informal, escreveu: "Total solidariedade a #Marega, que no campo provou não ser só um grande jogador, mas também um grande cidadão”.

Segundo a súmula do jogo, o atleta advertiu ao árbitro sobre os insultos racistas, este confirmou a informação com os auxiliares e foi avisar o delegado de campo sobre uma possível suspensão caso esses insultos não cessassem. Mas em meio a tudo isso Marega acabou se encaminhando para o vestiário.

De volta de uma viagem a Índia, o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, emitiu às 8h de segunda-feira (5h em Brasília) um comunicado na página oficial da Presidência, declarando que “o povo português sabe, até por experiência histórica, que o caminho do racismo, da xenofobia e da discriminação, além de representar a violação da dignidade da pessoa humana e de seus direitos fundamentais, é um caminho dramático em termos de cultura, de civilização e de paz social”.

Todos os dirigentes de partidos políticos se solidarizaram com Marega, exceto André Ventura, do ultradireitista Chega. Também nas redes sociais, esse deputado —que se define como “antissistema”— criticou os que o criticavam: “País de hipocrisia em que tudo é racismo e tudo merece imediatamente uma chuva de lamentos e de análises histórico-megalômanas. O nosso problema não é o racismo. É a hipocrisia [...] Por mim não passarão”.

Ventura é o único deputado do Chega, um partido criado por ele mesmo há menos de um ano e que conseguiu 1% dos votos nas eleições de outubro. Segundo pesquisas deste fim de semana, atualmente receberia 6% dos votos. Sua posição foi seguida também em numerosas respostas críticas aos tuítes do primeiro-ministro.

Tampouco o presidente do Vitória de Guimarães se solidarizou com Marega. Depois de relembrar que o escudo do clube é preto e branco e que tem "jogadores de todas as cores, raças e credos", acusou o atacante, sem citar seu nome, de ter provocado a situação: “Não percebi insultos racistas, percebi uma atitude provocadora de um futebolista”, afirmou, em referência à forma como Marega comemorou o gol, dirigindo-se à arquibancada.

O incidente acabou revelando que os insultos racistas não começaram naquele momento, mas já no aquecimento, segundo vários vídeos publicados nesta segunda na mídia portuguesa. O secretário de Estado para o Esporte prometeu uma investigação sobre os autores dos insultos, que, se ficarem provados, podem ser condenados até a cinco anos da prisão.

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