Bruce Lee já dizia: “Seja água, meu amigo”

Em tempos de incertezas, saber improvisar, se adaptar, viver o momento e criar o futuro nos afasta de frustrações e fracassos

ILUSTRACIÓN DE JUAN DÍAZ-FAES

Neste processo de desescalada, mais de uma pessoa se sentiu como Charlton Heston no final de O Planeta dos Macacos, quando descobre a Estátua da Liberdade afundada na praia. Somente então percebe que, sem mudar de planeta, o mundo que conhecia havia deixado de existir. Poderemos sentir algo assim quando chegarmos à “nova normalidade” pós pandemia de covid-19 que ninguém sabe com certeza como será. Se no século XX o poeta e filósofo Paul Valéry dizia que o futuro havia deixado de ser o que era, no século XXI já ninguém se atreve a prognosticar como será. Não sabemos o que acontecerá na semana que vem, como e em que lugar tiraremos férias, quando as crianças voltarão à escola... Acostumados a fazer planos, como manejar a vida em meio à tanta incerteza? Vamos ver alguns pontos para não perder o rumo no mar do imprevisível.

Mais informações
O sonho do ‘home office’ vira pesadelo na pandemia
O luto pela velha normalidade: como superar o fato de que nossos projetos desapareceram
Dizer “não”, algo tão simples e tão complexo

Improvisar em vez de planificar. Deixemos de falar desse futuro incerto que nos estressa e decidamos sobre a marcha. De fato, algo que caracteriza os grandes viajantes é que nunca sabem onde se detêm e quanto tempo ficam em um lugar. Podemos adotar o mesmo espírito e nos acostumar a “tocar de ouvido”, segundo as circunstâncias, mas também segundo o que nos apetece fazer em cada momento. Isso significa viver plenamente o dia de hoje em vez de programar o amanhã.

Aproveitar a vida líquida. Em sua entrevista mais famosa, Bruce Lee nos recomendava ser como a água e dava como exemplo o fluido que adota a forma da xícara, da garrafa e da mamadeira. Aplicado ao que estamos vivendo, significa desenvolver ao máximo nossa flexibilidade. “Não se estabeleça em uma forma, adapte-a”, dizia Bruce Lee. “A água que corre nunca fica parada”. Estar sempre em movimento, nos adaptar ao que precisamos fazer a cada momento, no lugar de nos queixar e de tentar nadar contra a corrente, é o segundo ponto.

Menos é mais. Uma das lições que a pandemia nos deu é que não era necessário nos movimentar tanto. Sobre a crença de que é preciso viajar para ver o mundo, Paul Auster dizia que “se você está quieto e com os olhos bem abertos, verá tudo o que pode manejar”.

Estar atentos às oportunidades. O cenário da incerteza colocará em perigo as grandes estruturas, mas pode ser um campo propício aos freelancer, às startups e aos novos negócios. Pessoalmente, é também a ocasião de introduzir mudanças em nossas rotinas graças ao aprendido durante o confinamento. Do que prescindiu e não tem vontade de retomar? Quais novos hábitos positivos você se propõe a manter? Quais são suas prioridades agora?

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Centrando no dia a dia, apostando pela proximidade e os pequenos objetivos, é o melhor bálsamo à incerteza. Ser incapazes de prognosticar o futuro, mais do que um castigo, pode ser uma libertação. O consultor Peter Drucker já alertava há décadas que, na verdade, ninguém sabe nunca o que vai acontecer. E explicava dessa forma: “Tentar prever o futuro é como tentar dirigir por uma estrada rural de noite, sem luzes de nenhum tipo, enquanto olha pelo vidro traseiro”. E Abraham Lincoln dizia sobre isso que “a forma mais segura de prever o futuro é criá-lo”.

As pequenas coisas. Podemos decidir as pequenas coisas que acabarão configurando nossa vida. Escolher de que maneira vamos nos alimentar, como e para onde vamos viajar, que relações e atividades ocuparão nosso tempo. Também em que gastamos o dinheiro. E isso nos fará mais coerentes com nosso propósito vital.

Grandes mudanças se aproximam, mas as mais importantes são as que cada um irá realizar.

Francesc Miralles é escritor e jornalista especializado em psicologia.

Mais informações

Arquivado Em