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Candidato de Trump à chefia do BID acusa Argentina de tentar “sequestrar a eleição” do novo presidente

Mauricio Claver-Carone chama de “uma minoria” os países que buscam adiar o processo de sucessão do maior banco regional do mundo. UE, Argentina e Chile não querem os EUA no controle

Um homem em frente a um logo do BID, em um centro de convenções no Panamá.
Um homem em frente a um logo do BID, em um centro de convenções no Panamá.Carlos Jasso (Reuters)
Sonia Corona
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Eric Parrado, Superintendent of Banks and Financial Institutions of Chile; Young Global Leader; Global Agenda Council on Latin America at the World Economic Forum on Latin America in Riviera Maya, Mexico 2015. Copyright by World Economic Forum / Benedikt von Loebell
“América Latina levará três ou quatro anos para recuperar o PIB anterior à pandemia”
European Union foreign policy chief Josep Borrell speaks during a media conference after a meeting of EU foreign ministers at the European Council building in Brussels, Monday, July 13, 2020. European Union foreign ministers met for the first time face-to-face since the pandemic lockdown and will assess their discuss their relations with China and Turkey. (Francois Lenoir, Pool Photo via AP)
UE propõe adiar escolha do presidente do BID para depois das eleições nos EUA
FILE - In this Jan. 15, 2020 file photo, Mauricio Claver-Carone, deputy assistant to President Donald Trump and senior director for Western Hemisphere affairs, right, arrives to meet with Bolivia's Foreign Minister Karen Longaric in La Paz, Bolivia. The Trump administration said Tuesday, June 16, 2020, that it plans to nominate Claver-Carone to lead the Inter-American Development Bank. (AP Photo/Juan Karita, File)
União Europeia, Argentina e Chile batalham para impedir que os Estados Unidos controlem o BID

O candidato dos Estados Unidos à direção do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Mauricio Claver-Carone, acusou nesta terça-feira a Argentina de adotar “uma tática obstrutiva” para “tentar sequestrar a eleição” prevista para setembro. A declaração foi feita depois que Buenos Aires organizou uma estratégia destinada a adiar o processo para escolher ao novo presidente da instituição. O homem forte do presidente Donald Trump para a América Latina se pôs ao telefone com a imprensa internacional e falou em espanhol sobre os questionamentos à sua candidatura e o crescente consenso sobre o adiamento da eleição para março de 2021.

Claver-Carone apontou sem titubear o Governo de Alberto Fernández, acusando-o de reunir “uma minoria” para impedir sua eleição no BID. “Querem roubar a bola e sair de campo”, queixou-se. A Argentina e a União Europeia foram os primeiros a chamar a atenção para a inédita indicação de um norte-americano para dirigir a instituição, rompendo um histórico acordo tácito, e por isso sugeriram o adiamento da votação para depois da eleição presidencial de novembro nos EUA, com a possibilidade de que Trump deixe de ser o inquilino da Casa Branca. Nos últimos dias, os apoios à estratégia argentina cresceram: México, Chile e Costa Rica se decidiram pela abstenção na votação de setembro, para assim evitar o quórum de 75% do poder de voto dos sócios, necessário para validar o resultado. Outros países ainda estão avaliando sua participação. Segundo Los Angeles Times, fontes diplomáticas afirmam que o Canadá poderia se somar nos próximos dias ao bloco liderado pela Argentina.

O BID, fundado em 1959, tem um capital de mais de 100 bilhões de dólares (538 bilhões de reais). É o maior banco regional do mundo e tem os Estados Unidos como principal acionista. Com créditos de 12 bilhões de dólares, lidera a lista de ajudas ao desenvolvimento no continente. Um acordo não escrito reserva a direção do banco a um latino-americano, mas Trump decidiu neste ano apresentar a candidatura de Claver-Carone. “O que me torna menos hispânico?”, diz, inflamado, o candidato norte-americano de ascendência cubana e articulador da agenda da Casa Branca para o subcontinente. “Os Estados Unidos são o segundo país com mais pessoas que falam espanhol, depois do México”, argumenta.

A eleição estaria assegurada pelo apoio dos Estados Unidos, que tem 30% dos votos, Brasil (11,3%), Colômbia (3,1%) e outros países latino-americanos alinhados com Washington. Mas o avanço de Trump não caiu bem na União Europeia e, sobretudo, na Argentina, que tem seu próprio candidato: Gustavo Beliz, atual secretário de Assuntos Estratégicos na Casa Rosada. Sem os votos necessários para vencer Claver-Carone, a única saída possível é o adiamento. O chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell, enviou em julho uma carta a todos os países do Eurogrupo para advertir que o candidato norte-americano romperia com um modelo dominantemente latino-americano.

Claver-Carone conta com o apoio de pelo menos 17 países, incluindo, segundo ele, alguns sócios europeus. “A opinião do senhor Borrell é pessoal e não representa o voto dos países europeus no BID”, afirma. Segundo diferentes fontes consultadas por este jornal, a intenção do bloco europeu é acompanhar a recomendação de Borrell – seguramente no caso da Espanha (1,94% do total de votos), ao passo que Alemanha (1,89%) e França (1,89%) estariam mais próximas do sim do que do não. O apoio destes três países europeus, mais os votos da Argentina, Chile, Costa Rica e México, seriam suficientes para consumar a estratégia abstencionista.

O principal argumento do candidato norte-americano é que os países que participam do banco decidiram por unanimidade em 9 de julho fazer a votação de setembro por teleconferência, quando o contexto da suspensão de atividades pela pandemia do coronavírus já existia. Claver-Carone, além disso, disse que pretende passar cinco anos à frente do banco, sem tentar um novo mandato. “Os Estados Unidos não têm nenhuma intenção imperialista”, disse. O candidato de Trump apelou ao trabalho que os Estados Unidos empreenderam na região para impulsionar o envio de recursos, por exemplo, no caso do México e da América Central, para onde Washington destinou cinco bilhões de dólares para impulsionar a geração de emprego e evitar a migração para os Estados Unidos.

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