Petróleo dos Estados Unidos é cotado em valor negativo após maior queda de sua história
A cotação do combustível para contratos com vencimentos em maio cai para 37 dólares negativos e arrasta as Bolsas de Nova York e Madri . No Brasil, Ibovespa também recua
Os tanques dos Estados Unidos não têm mais espaço para armazenar petróleo, que caiu para o menor preço neste século e atingiu a maior derrocada de sua história em um único dia. Os contratos futuros do barril do West Texas (WTI) foram negociados em valores negativos pela primeira vez na história nesta segunda-feira, com o vencimento em maio terminando o dia a impressionantes 37,63 dólares negativos por barril, dada a excepcional redução na demanda como resultado da crise causada pela Covid-19. Seu colapso arrastou as Bolsas de Valores: Dow Jones terminou o dia em -2,44%, o S&P recuou 1,79% e o Ibex de Madri também fecha em baixa, ao contrário dos principais indicadores europeus. No Brasil, o Ibovespa, principal índice do mercado acionário, recuou 0,02%, aos 78.972 pontos. No mercado de divisas, o dólar avançou 1,4% nesta segunda-feira, cotado a 5,30 reais. Foi a segunda maior cotação da história.
O mercado de petróleo começa a cumprir as profecias da Agência Internacional de Energia (AIE), que alertou na quarta-feira passada que este seria o pior ano da história dessa commodity. Com os Estados Unidos e meio mundo trancados em casa, não há compradores e os preços despencaram. Pouco adiantou o corte da produção em dez milhões de barris por dia pactuado duas semanas atrás. “Se o consumo de energia cai 30% e a OPEP reduz a oferta em 10%, ainda existe uma grande lacuna”, resume Elwin de Groot, chefe de estratégia macro do Rabobank, em declaração à Reuters. Sem carros nas estradas e aviões no céu, as economias afetadas por pandemias não precisam mais da quantidade projetada antes da crise.
Os contratos futuros também estão desabando porque as reservas armazenadas excedem a demanda e a perspectiva é que a desaceleração econômica continue a limitar o consumo. O contrato junho do WTI terminou, no entanto, a sessão em nível muito superior ao maio, cotado a 20,43 dólares o barril. Mesmo assim jogam para baixo as ações das companhias de petróleo na Bolsa de Nova York. A Europa, por sua vez, escapa à tendência.
Os pregões do Velho Continente continuaram a retomada, não sem timidez, e precisamente graças ao melhor comportamento do petróleo --o barril de Brent, referência no mercado europeu, cai 6% e custa em torno de 26 dólares (138 reais), menos da metade de antes da crise-- e os bons dados sobre a evolução da pandemia que vêm dos países mais atingidos pela Covid-19: na Espanha, o número de mortes diárias ficou abaixo de 400 pela primeira vez em um mês. Paris liderou os ganhos com uma alta de 0,65%.
A Bolsa de Madri é a única na zona do euro que fechou com perdas (-0,64%) e o Ibex se afasta dos 7.000 pontos, que deixou para trás na semana passada, depois das previsões pessimistas do FMI para a economia mundial. O indicador espanhol, no entanto, aguentou o limite de 6.800, que chegou a perder por alguns momentos do dia, afetado pelo setor financeiro e o turístico, bem como pelos novos prognósticos negativos para a economia: o Banco da Espanha prevê que o PIB pode cair até 13,6% em 2020 e afastou a tão esperada possibilidade de uma recuperação em forma de V.
Enquanto isso, as potências asiáticas estão dando novos estímulos: a China cortou as taxas de juros por um ano e o Japão lançou um plano de valor equivalente a 5,85 trilhão de reais. No entanto, a Bolsa de Tóquio recuou novamente, com perdas de 1,15%, após os dados ruins das exportações em março, que caíram 12% em relação ao mesmo período do ano anterior.
Danos de longo prazo
Robert Lind, economista do Capital Group, lembra que as previsões macroeconômicas antecipam meses excepcionalmente difíceis para a economia mundial. “Estamos lidando com escalas de atividade em declínio que ninguém viu antes. O potencial golpe no PIB no segundo trimestre provavelmente excederá em muito o que vimos no pior momento da crise financeira”, diz ele em uma nota divulgada pela Reuters. De Groot vai mais longe: "Haverá danos a longo prazo para a economia, sobretudo para a psicologia do consumidor".
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