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Em dia de colapso nos mercados, Ibovespa despenca mais de 12%

Guerra de preços de petróleo cria pânico entre investidores globais e Bolsa de Valores do Brasil aciona ‘circuit breaker’. Dólar tem novo recorde e fecha a quase 4,73 reais

Em São Paulo, analista da Bolsa observa o Ibovespa despencar após denúncias contra o Governo. Bovespa chegou a suspender operações.
Em São Paulo, analista da Bolsa observa o Ibovespa despencar após denúncias contra o Governo. Bovespa chegou a suspender operações.PAULO WHITAKER (REUTERS)
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A guerra de preços do petróleo entre Arábia Saudita e Rússia derreteu as bolsas em todo o mundo, em meio ao pânico global de investidores com a crise mundial do coronavírus (Covid-19). Às 10h31, o índice Ibovespa chegou a uma queda de 10% e a Bolsa de Valores do Brasil (B3) acionou o circuit breaker, um mecanismo de segurança utilizado para interromper todas as operações da Bolsa, que foram suspensas a 88.178 pontos. As negociações ficaram paradas por 30 minutos, o que não foi suficiente para acalmar os ânimos. O pregão voltou em baixa e no decorrer do dia, as perdas se aceleraram. A Bolsa despencou 12,17% para 86.067 pontos no fechamento, a maior queda percentual diária desde desde 10 de setembro de 1998, ano da moratória russa, segundo Reuters.

O temor de que uma recessão global acompanhe o surto do coronavírus criou um efeito dominó que seguiu o fechamento dos mercados desde as bolsas asiáticas ― o índice Nikkei de Tóquio caiu 5,07%, Hong Kong Hang Seng perdeu 4,23% e Shanghai CSI, 3,01%. O castigo é maior para os indicadores dependentes de matérias-primas, especialmente o petróleo, como é o caso do brasileiro. As ações da Petrobras aceleraram as perdas, fechando em queda de quase 30% para 16,05 reais. Durante o dia, a empresa chegou a perder 90 bilhões de reais em valor de mercado.

De acordo com previsões da Agência Internacional de Energia (AIE), a expectativa é que a demanda global por petróleo cairá em 2020 devido ao impacto do coronavírus na economia mundial pela primeira vez desde 2009. Só as empresas europeias já perderam quase 3 trilhões de dólares em valor desde que a rápida disseminação da doença provocou uma liquidação mundial em fevereiro. Em Londres, o índice Financial Times recuou nesta segunda-feira 7,69%; em Frankfurt, o DAX caiu 7,94%; em Paris, o CAC-40 perdeu 8,39%; e em Madri, o Ibex-35 registrou baixa de 7,96%.

O dólar, que começou a semana em disparada acentuada contra o real, chegando a superar 4,79 reais, fechou com novo recorde a quase 4,73 reais. O Banco Central (BC) vendeu 1 bilhão de reais em reservas para tentar conter a alta na manhã desta segunda-feira, sem sucesso. Foi preciso um segundo leilão de 465 milhões à vista no meio da tarde para reduzir a volatilidade da moeda. Os leilões no mercado à vista marcam uma mudança na estratégia de intervenção da autoridade monetária, que até então vinha ofertando apenas contratos de swap cambial tradicional —que injetam dólares no mercado futuro. Na semana passada, o BC vendeu 5 bilhões de dólares nesses ativos.

Em Wall Street, a Bolsa de Nova York abriu em baixa e também interrompeu negociações temporariamente para frear o pânico dos mercados. No resto da América Latina, as principais moedas e Bolsas de Valores também abriram nesta segunda-feira com perdas dramáticas: são tempos ruins para uma região que arrasta uma dependência histórica da exportação de matérias-primas e sente o golpe da volatilidade com intensidade especial.

A última vez que a Bolsa de São Paulo havia acionado o circuit breaker foi em 18 de maio de 2017, em meio a delação de Joesley Batista, dono da JBS, que revelou detalhes de corrupção envolvendo o então presidente Michel Temer. Anteriormente, o mecanismo foi acionado apenas quatro vezes: na crise do subprime dos EUA, em 2008; na grande desvalorização do real de 1999; na ameaça de moratória russa, em 1998; e na crise dos tigres asiáticos, em 1997. O mecanismo de circuit break é realizado em três fases, conforme os percentuais de desvalorização do Ibovespa. Na primeira fase, quando o índice desvaloriza 10% em relação ao valor de fechamento do dia anterior ―no caso, o de sexta-feira, quando o índice teve queda de 4,14%, a 97.996 pontos―, a negociação é interrompida por 30 minutos, que foi o que aconteceu. Numa segunda fase, após reabertas as negociações, caso a variação do índice atinja queda de 15% (também em relação ao valor de sexta-feira), a negociação é novamente interrompida por uma hora. Num terceiro momento, após reabertas as negociações, caso a variação do Ibovespa chegue a uma queda de 20%, a B3 pode determinar a suspensão da negociação por um período indeterminado.

O choque global começou ainda no domingo. Os preços do petróleo chegaram a cair mais de 30% nesta segunda-feira, o maior recuo diário desde a Guerra do Golfo, em 1991, após a Arábia Saudita ter sinalizado que elevará a produção para ganhar participação no mercado, que já está com sobreoferta devido aos efeitos do coronavírus sobre a demanda. Os sauditas cortaram seus preços oficiais de venda. A Rússia, também um dos grandes produtores de petróleo mundial, vem reagindo contrariamente ao plano saudita. O petróleo Brent fechou em queda de 24,1%, a 34,36 dólares o barril.

O presidente Jair Bolsonaro, que nesta segunda-feira participou de um evento de empresários em Miami, comentou a crise pelo Twitter. “Não existe possibilidade do Governo aumentar a CIDE para manter os preços dos combustíveis. O barril do petróleo caiu, em média, 30% (35 dólares o barril). A Petrobras continuará mantendo sua política de preços sem interferências. A tendência é que os preços caiam nas refinarias”, afirmou, referindo-se a Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE-combustíveis), um tipo de tributação especial criada no Governo Fernando Henrique, que tem como objetivo ajudar a estabilizar o preço da gasolina.

Donald Trump também utilizou as redes sociais para falar dos problemas econômicos causados pelo coronavírus. “Arábia Saudita e Rússia estão discutindo sobre o preço e o fluxo do petróleo. Essa, e a Fake News, é a razão da queda do mercado!”, tuitou o presidente norte-americano. Trump foi criticado nas últimas semanas por relativizar a gravidade da epidemia do coronavírus, temendo que uma desaceleração da economia corroa seu principal argumento de reeleição. “No ano passado, 37.000 americanos morreram de gripe comum. É uma média de 27.000 a 70.000 mortes por ano. Nada foi fechado, a vida e a economia seguem em frente. Atualmente, 546 casos de coronavírus foram confirmados, com 22 mortes. Pense nisso! ”, publicou em seu Twitter após o fechamento temporário de Wall Street.

A ações da Petrobras já recuaram fortemente na sexta-feira, após a Rússia recusar aderir a cortes adicionais de oferta propostos pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) para estabilizar os mercados da commodity. Analistas do Bradesco BBI já cortaram a recomendação para os papéis da empresa para neutra, reduzindo o preço-alvo das preferenciais para 23,50 reais ante 38 reais, para incorporar “um cenário de preço do petróleo mais pessimista em nosso modelo após a enorme decepção com a última reunião da Opep e as repercussões anunciadas pela Arábia Saudita”.

O Goldman Sachs cortou sua previsão para os preços do petróleo Brent para o segundo e terceiro trimestres de 2020 para 30 dólares o barril, “com possíveis quedas de preços para níveis de estresse operacional e custos de caixa bem próximos de 20 dólares o barril”, conforme relatório a clientes ainda no domingo.

Bolsas no mundo

A Bolsa de Nova York abriu a sessão em queda de 7% e também parou as operações por 15 minutos para frear o pânico dos mercados. A interrupção temporária foi desencadeada por quedas nos índices Dow Jones e S&P 500, arrastadas pela queda nos preços do petróleo e pelo medo dos investidores com a expansão do coronavírus. Ao reabrir as negociações, os índices perderam ainda mais, ultrapassando a marca de 7%, e depois se recuperaram levemente, com o S&P 500 caindo para 5,9%. A operação pode parar novamente se a queda do índice, com base na capitalização de mercado de 500 grandes empresas listadas, atingir 13%.

Na América Latina, além do Brasil, o destaque negativo vai para Argentina. A crise encontra o país em uma posição de extrema fragilidade, devido à incerteza dos investidores por causa da renegociação de sua dívida com o FMI e com credores privados. A Bolsa de Buenos Aires caiu 12,12% na abertura e depois recuperou parte do terreno perdido, com uma queda de 9% em um dia com poucas operações. Os papeis da estatal petrolífera YPF, negociados no exterior, caíam mais de 23% em Wall Street.

No México, o principal índice da Bolsa subia quase 5% nesta segunda-feira, voltando aos níveis em setembro passado. Além disso, o petróleo em queda livre acrescenta um ponto adicional de incerteza em meio à crise de sua companhia estatal de petróleo (Pemex, a mais endividada do mundo), o que complica os prognósticos de crescimento para o país. Na Colômbia, a queda foi 6%, enquanto no Chile o declínio das ações já ultrapassa os 4%.

(Com informações de Reuters e Efe)


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