Abdulrazak Gurnah ganha o Nobel de Literatura por sua “comovedora descrição dos efeitos do colonialismo”
O escritor tanzaniano, radicado no Reino Unido desde o final da década de 1960, leva o prêmio mais importante das letras universais
Começou a escrever aos 21 anos como um jovem refugiado tanzaniano no Reino Unido, e nesta quinta-feira, aos 73, estava na cozinha da sua casa quando recebeu um telefonema da Academia Sueca para lhe informar que ganharia o maior prêmio literário que existe. Horas depois, em Estocolmo, era anunciado ao público que o Prêmio Nobel de Literatura de 2021, dotado de 10 milhões de coroas suecas (6,28 milhões de reais), foi dado ao tanzaniano Abdulrazak Gurnah, “por sua comovedora descrição dos efeitos do colonialismo na África e do destino dos refugiados, no abismo entre diferentes culturas e continentes”. A surpresa foi notável não só para o autor, cujo nome estava fora das listas e das apostas.
Nascido em 1948 na ilha de Zanzibar, Gurnah escreve em inglês e já lançou 10 romances – todos inéditos no Brasil – como Paradise (1994), que foi indicado ao Booker Prize e ao Whitebread Prize. Outros títulos conhecidos são By the sea (2001), Desertion (2015) e os mais recentes Gravel heart (2017) e Afterlives (2020), elogiados pela crítica. Na manhã desta quinta (hora do Brasil), Anders Olsson, membro da academia, explicou como em seu “magnífico último livro ele se afasta das descrições estereotipadas e abre nosso olhar a uma África culturalmente diversa, pouco conhecida em outras partes do mundo”.
Gurnah também escreveu e editou ensaios sobre literatura pós-colonial e é professor emérito no departamento de língua inglesa da Universidade de Kent. Em seus textos analisou o trabalho de outro Nobel, V.S. Naipaul, e de um eterno candidato ao prêmio da Academia, Salman Rushdie – sobre quem também publicou um livro de introdução à obra, Companion to Salman Rushdie (Cambridge University Press, 2007). Mas, na ficção do Nobel de 2021, o que mais ecoa é provavelmente esse exílio britânico sobre o qual o Nobel sul-africano J. M. Coetzee escreveu em Verão. Gurnah é o sexto africano a obter o prêmio, depois do argelino Albert Camus (1957), do nigeriano Wole Soyinka (1986), o egípcio Naguib Mahfouz (1988), e dos sul-africanos Nadine Gordimer (1991) e J. M. Coetzee (2003).
No ano passado, o Nobel de Literatura foi atribuído à poetisa americana Louise Glück. Em 2019, para a polonesa Olga Tokarczuk. O prêmio de 2018, ao austríaco Peter Handke, foi adiado para 2019 devido aos escândalos de abusos sexuais e vazamentos que atingiram a academia sueca no ano anterior. O prêmio para o romancista tanzaniano neste ano revela um autor desconhecido para o grande público, algo que também é parte da tradição da Academia Sueca.
O autor chegou ao Reino Unido no final da década de 1960, após sair do seu país em um momento no qual a minoria muçulmana estava sendo perseguida. Tinha estudado na Universidade Bayero Kano, na Nigéria, e de lá se transferiu para a Universidade de Kent, onde se doutorou em 1982. Seus estudos se centram no pós-colonialismo e no colonialismo, especialmente relacionado com a África, o Caribe e a Índia.
Abdulrazak Gurnah se impôs na decisão final diante de outros nomes que apareciam como apostas para o prêmio neste ano, como a francesa Annie Ernaux, o queniano Ngũgĩ wa Thiong’o, o japonês Haruki Murakami, o sul-coreano Ko Un, a guadalupense Maryse Condé ou a chinesa Can Xue. Outros autores que sempre aparecem como favoritos são Don Delillo, Salman Rushdie, Adonis, Jon Fosse, Mircea Cărtărescu, Hilary Mantel e Margaret Atwood.
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