Nelson Sargento, ícone do samba, morre aos 96 anos por complicações da covid-19
Um dos principais nomes da Mangueira e da música popular brasileira, o artista havia sido internado na sexta-feira, 21 de maio. Músico também tratava um câncer
Um dos principais nomes do samba e da música popular brasileira, Nelson Sargento, figura histórica da Escola de Samba Mangueira, morreu nesta quinta-feira, aos 96 anos, vítima de covid-19. O artista, que recebeu a segunda dose da vacina contra o coronavírus no dia 26 de fevereiro, foi diagnosticado com a doença no dia 21 de maio, quando foi internado no Instituto Nacional de Câncer (INCA), no Rio de Janeiro, para tratar um câncer de próstata. Ele foi intubado na noite de quarta-feira e o boletim médico informava que seu estado era grave. O tumor e a idade avançada pioraram sua saúde, uma vez que há consenso entre médicos, cientistas e outras autoridades da área que pessoas vacinadas contra a covid-19 raramente ficam em estado grave caso se contaminem com o coronavírus.
Cantor, compositor, pesquisador, artista plástico, ator e escritor, Nelson Sargento levou a arte do samba para além da música. Além de compor sucessos como Agoniza, mas não morre, Cântico à natureza, Encanto da paisagem, Falso amor sincero, Século do samba e Acabou meu sossego, escreveu os livros Prisioneiro do mundo e Um certo Geraldo Pereira. Em 1997, o mestre do samba recebeu o Kikito de melhor trilha sonora no Festival de Gramado pelo curta-metragem Nelson Sargento da Mangueira, do diretor Estêvão Pantoja. Ele também atuou nos filmes O primeiro dia, de Walter Salles e Daniela Thomas e Orfeu, de Cacá Diegues.
Na música, Nelson Sargento foi parceiro de composição de grandes nomes como Cartola, Carlos Cachaça, Darcy da Mangueira, João de Aquino, Pedro Amorim, Daniel Gonzaga e Rô Fonseca.
Carioca da gema —nasceu em 25 de julho de 1924, na Praça 15, região central do Rio de Janeiro—, Nelson Mattos ganhou o apelido de Nelson Sargento depois de uma rápida passagem pelo Exército. Rápida mesmo, porque desde a adolescência já sabia que sua paixão era a música, apesar de ter composto sua primeira canção de sucesso apenas aos 31 anos: Primavera, escrita em 1955 em parceria com Alfredo Português e considerada pelos críticos um dos mais belos sambas já feitos. A música foi samba-enredo da Mangueira, escola da qual se tornaria o presidente de honra, e também ficou conhecida como As quatro estações. Depois desse sucesso, Sargento integrou o grupo A Voz do Morro, nos anos sessenta, ao lado de Paulinho da Viola, Zé Kéti, Elton Medeiros, Jair do Cavaquinho, José da Cruz e Anescarzinho.
Quando completou 96 anos, em 2020, Sargento recebeu um vídeo de carinho feito por grandes nomes da cultura popular: Regina Casé, Preta Gil, Mart’nália, Alcione e Paulinho da Viola, entre outros, cantaram o samba Agoniza mas não morre em homenagem ao seu autor.
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