Em batalha pelo patrimônio, México reivindica mais de 30 peças pré-colombianas que vão a leilão na França

Casa Christie’s oferecerá na próxima semana lotes com objetos das culturas asteca, maia e teotihuacana

A máscara teotihuacana (à esquerda) e a estátua da deusa Cihuatéotl.Christie's
Mais informações
México enfrenta missão “quase impossível” de recuperar o cocar de Montezuma e outros tesouros
Como foi o incêndio que destruiu Teotihuacán, a Cidade dos Deuses no México
Aves com ouro e colares, a oferenda encontrada no Templo Maior do México à espera dos líderes astecas

O México mantém sua luta para recuperar o patrimônio pré-colombiano exibido em acervos europeus, mas até agora obteve poucos resultados. Após tentar reaver o cocar de Montezuma, sob o poder de um museu austríaco, o país agora reivindica 33 objetos que a firma Christie’s leiloará no próximo dia 9 em Paris. O Instituto Nacional de Antropologia e História (INAH) solicitou ao Ministério Público mexicano que tome medidas legais contra a venda das peças e à Secretaria de Relações Exteriores (SRE) que empreenda ações diplomáticas para recuperar os objetos. “Determinou-se que o catálogo do leilão inclui peças que correspondem a culturas originárias do México, razão pela qual fazem parte do patrimônio da nação”, disse o Instituto em nota.

As peças correspondem a uma série de coleções exibidas no último século em países da Europa. Há esculturas, vasilhas, máscaras, pratos e estatuetas das culturas asteca, maia, tolteca, totonaca, teotihuacana e mixteca, provenientes de diversos Estados mexicanos. A maioria foi esculpida em pedra ou feita de barro. A Christie’s chamou o leilão de Quetzalcóatl, Serpente Emplumada, oferecendo suas peças por valores iniciais que variam de 4.000 a 900.000 euros (26.400 a 5,93 milhões de reais). A Christie’s garantiu a autenticidade dos lotes divulgando os acervos aos quais pertenciam as peças do catálogo.

No leilão, destacam-se dois objetos com o maior lance inicial. Por um lado, está uma máscara de pedra teotihuacana de 15 centímetros, do período clássico (450-650 d.C.), que foi chamada de Quetzalcóatl e cujo lance inicial deve se situar entre 350.000 e 550.000 euros (entre 2,3 e 3,63 milhões de reais). A Christie’s informa que a máscara pertenceu a Pierre Matisse, filho mais novo do pintor francês Henri Matisse, e foi exibida em duas ocasiões: em 2012, no Museu Quai Branly-Jacques Chirac, em Paris, e em 2018, no Palazzo Loredan, em Veneza. Não se sabe como a peça chegou à Europa. “Chamam-na Quetzalcóalt provavelmente porque acreditam que assim se venderá melhor. Esta venda é pouco ética, ilegal e muito sórdida”, escreveu no Twitter o arqueólogo Michael E. Smith, da Universidade Estadual do Arizona (EUA).

Apoie a produção de notícias como esta. Assine o EL PAÍS por 30 dias por 1 US$

Clique aqui

Também há uma escultura de pedra de Cihuatéotl, a deusa das mulheres que morrem no parto, achada no sítio arqueológico de Zapotal, em Veracruz (sul do México). A estatueta de 87 centímetros pertenceu à cultura totonaca no período clássico (600-1000 d.C.). A casa de leilões pede como preço inicial da disputa entre 600.000 e 900.000 euros (4 a 5,93 milhões de reais). A peça foi achada com outros 13 exemplares em um altar de adoração. A Christie’s diz que foi exibida ao público em duas ocasiões, em 1976 e 1982, em Bruxelas.

Há alguns anos, o México iniciou uma cruzada para recuperar o patrimônio histórico que se encontra em acervos privados no mundo. A França constantemente reluta em devolver as peças ao Governo mexicano, e a secretária de Cultura do país latino-americano, Alejandra Frausto, argumentou que a legislação francesa é “muito hostil” e impede a recuperação do patrimônio mexicano.

Em setembro de 2019, a diplomacia mexicana procurou deter a luta de 95 objetos pré-hispânicos leiloados pela casa francesa Millon. A SRE, através da Embaixada em Paris, reivindicou as peças, sem sucesso. Um mês mais tarde, a casa Sotheby’s ofereceu 44 peças pré-hispânicas que também foram reclamadas pelo Governo mexicano. A legislação mexicana estabelece que os achados de objetos das culturas antigas em território mexicano pertencem à nação, mas, uma vez que saem do país de forma ilegal, as autoridades perdem seu rastro. Nem todos os casos terminaram sem solução —uma exceção foi o baixo-relevo de Xoc, achado em Paris em 2015, num leilão da firma Binoche et Giquello, e que foi devolvido ao México dois anos mais tarde.

Mais informações

Arquivado Em