MAM Rio diversifica direção artística para mudar a “cultura branca” dos museus no Brasil
Projeto da dupla de curadores Keyna Eleison e Pablo Lafuente para o Museu de Arte Moderna venceu concurso público com mais de uma centena de candidatos. Museu deve reabrir em 12 de setembro
O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM Rio) acaba de nomear uma direção artística em sintonia com estes tempos em que o feminismo, o antirracismo e a transparência estão revigorados. É uma direção bicéfala e diversa formada pelos curadores Keyna Eleison, uma carioca negra de 41 anos, e Pablo Lafuente, um espanhol branco de 44 anos. O projeto conjunto apresentado pela dupla de gestores culturais, amigos de longa data, foi o escolhido entre a centena de propostas apresentadas ao concurso público convocado em plena pandemia para o cargo, conforme anunciado terça-feira pelo MAM.
“Nossa proposta é aproveitar essa diversidade, trabalhar todos os aspectos (da direção artística) como uma dupla”, explica Lafuente do Rio. Nas palavras da codiretora Eleison, “uma curadoria em dupla oferece mais visões sobre cada questão. Desenvolver projetos coletivamente fortalece o trabalho, pois o espaço da dúvida é ocupado pelo ato de escutar”.
O MAM foi erguido há 70 anos, na esteira do MoMA de Nova York, às margens da Baía de Guanabara. Dedicado às vanguardas, à experimentação nas artes, no cinema e na cultura, ao longo de sua história experimentou altos e baixos espetaculares, incluindo um grande incêndio na década de setenta que destruiu quase toda sua coleção. Com 15.000 peças, possui uma das maiores cinematecas do Brasil e um dos maiores acervos de arte moderna e contemporânea da América Latina. Agora encara uma nova ressurreição nas mãos do novo diretor executivo, Fabio Szwarcwald, e da direção artística recém-eleita. Fechado devido à pandemia, este museu privado deve reabrir suas portas em 12 de setembro.
Assim que souberam do concurso, Eleison e Lafuente decidiram que se candidatariam ao cargo e que o fariam juntos. Pretendem realizar todas as funções do cargo em dupla. “A cultura dos museus no Brasil é muito branca. Nossa proposta era trabalhar tudo em dupla, o desenho das exposições, a negociação com os artistas, o acompanhamento dos projetos... “, detalha Lafuente, que mora no Brasil desde que chegou para dirigir ―com mais quatro profissionais― a Bienal de São Paulo de 2014.
A combinação de seus olhares é um dos trunfos que oferecem: “Nossas diferentes experiências tornam a estrutura mais inteligente. Não somos apenas uma dupla que se complementa, mas um conjunto de experiências, visões e saberes que ultrapassa a soma de Keyna e Pablo”, aponta ela, acadêmica e veterana gestora cultural brasileira.
Juntos, aspiram a “dar uma reconfiguração ao museu”. Querem abrir os três blocos de arquitetura brutalista que compõem a sede em direção ao parque projetado pelo paisagista Roberto Burle Max ―parceiro de Oscar Niemeyer em uma infinidade de projetos― e conectá-los à vista da espetacular baía. Abrir-se a todos os públicos em uma das cidades mais desiguais de um país tão diverso como o Brasil. Basta ampliar um pouco o foco da cidade que os turistas visitam para encontrar bairros paupérrimos e com enormes carências. Lafuente enfatiza que a dupla quer fazer cultura para todos, mas ressalta que “você não pode simplesmente dizer-lhes ‘Está aberto’ e esperar que venham. Pretendemos fazer programas específicos para cada grupo”. Para tanto, pretendem aproveitar a experiência que compartilham no campo da educação cultural.
O projeto contempla também que as várias almas que compõem o MAM dialoguem de forma mais próxima. “Que a cinemateca alimente as exposições, que estas alimentem a pesquisa e que a pesquisa alimente a escola”, diz o curador basco. São esses os ingredientes com que a dupla de curadores pretende dar nova vida ao museu, financiado entre outros pela Petrobras e pelo Itaú, que no ano passado teve de leiloar um Pollock para enfrentar uma crise financeira. Fora doado em 1952 por Nelson Rockefeller
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