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Crítica | Cinema
Crítica
Género de opinião que descreve, elogia ou censura, totalmente ou em parte, uma obra cultural ou de entretenimento. Deve sempre ser escrita por um expert na matéria

‘Jojo Rabbit’: Meu amigo Adolf Hitler

Acaba sendo um filme estupendo para toda a família, com tudo o que ele envolve: suas virtudes populares e seus inevitáveis defeitos melosos e sem importância

Imagem de 'Jojo Rabbit'. Em vídeo, um trailer do filme.
Javier Ocaña
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77th Golden Globe Awards - Arrivals - Beverly Hills, California, U.S., January 5, 2020 - Rita Wilson and Tom Hanks. REUTERS/Mario Anzuoni
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A pontual e saudável tradição do risco em torno do nazismo, de sua poderosa e ridícula parafernália, nascida inclusive com Adolf Hitler em vida, com Ser Ou Não Ser, de Ernst Lubitsch (“Heil, eu mesmo!”), e com O Grande Ditador, de Charlie Chaplin (“Demokratia schtunk!”), tem um novo capítulo com Jojo Rabbit, filme do talentoso neozelandês Taika Waititi, baseado no romance Caging Skies (O céu enjaulado, inédito no Brasil), de Christine Leunens. Aparentemente de humor negro por sua temática, na realidade com um tom mais ameno porque a gargalhada cruel aparece em menor medida que a pantomima e inclusive o melodrama, Jojo Rabbit, que estreia nesta quinta-feira, 6 de fevereiro, acaba sendo um filme estupendo para toda a família, com tudo o que ele envolve: suas virtudes populares e seus inevitáveis defeitos melosos e sem importância. Waititi, desmitificador do universo vampiresco no divertido O Que Fazemos nas Sombras (2014), apólogo da fortaleza lúdica e do frescor super-heroico em Thor: Ragnarok (2017), compôs uma sátira sobre a necessidade dos afetos na idade infantil a partir de uma situação fabulosa e arriscadíssima: um menino da Alemanha nazista que tem Hitler como seu amigo imaginário, o que proporciona os melhores momentos do filme, junto às brilhantes sequências no acampamento da Juventude Hitlerista e à preciosa amizade com um garoto gordinho.

Waititi, também intérprete do ditador, reúne em seu brilhante gestual físico e sua tonalidade de voz o perigoso absurdo, o pateticismo e a inevitável comicidade de um personagem trágico para a história. E, como diretor, parece ter se inspirado no cinema de Wes Anderson, tanto no uso da cor como na frontalidade dos planos, compondo assim um conto procaz sobre a facilidade de matar e ―o que é mais discreto no filme― uma fábula moral sobre a amizade entre diferentes, o menino nazista e o arquétipo judaico de Anne Frank, que num momento faz lembrar muito O Menino do Pijama Listrado.

Quanto mais cruel e sem-vergonha melhor, Jojo Rabbit, indicado a seis Oscars, será recordado em maior medida por suas piadas insolentes e suas deslumbrantes montagens musicais do que por seu impulso humanista, mais tristonho do que emotivo. Mas isso, numa obra sobre um tema tão comprometido, é um mérito duplo.

JOJO RABBIT

Direção: Taika Waititi

Elenco: Roman Griffin Davis, Scarlett Johansson, Sam Rockwell, Taika Waititi

Gênero: comédia

EUA, 2019

Duração: 108 minutos

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