Azevedo e Silva deixa Ministério da Defesa em mais uma baixa no Governo Bolsonaro
General foi demitido por presidente, que disse a um de seus mais antigos colaboradores que precisava do cargo estratégico. Gestão do ministro foi marcada por conduta dúbia ante manifestações antidemocráticas do mandatário
O general da reserva do Exército Fernando Azevedo e Silva anunciou nesta segunda-feira que irá deixar o comando do Ministério da Defesa. Sem informar os motivos da decisão, o militar divulgou uma nota agradecendo a confiança do presidente Jair Bolsonaro, e afirmou estar saindo “na certeza da missão cumprida”. Nos bastidores, sabe-se que Bolsonaro demitiu sumariamente Azevedo em uma breve reunião nesta segunda. Com uma gestão marcada por uma conduta dúbia ante manifestações antidemocráticas do mandatário, o general fez questão de afirmar que no período em que esteve à frente da pasta preservou “as Forças Armadas como instituições de Estado”. O substituto de Azevedo no cargo será o também general Walter Souza Braga Netto, que até então ocupava a chefia da Casa Civil.
A saída de Azevedo e Silva, uma movida importante para um Planalto que busca ativamente a simbiose entre Governo e Forças Armadas, foi a segunda baixa dentro do primeiro escalão do Governo no mesmo dia. Horas antes foi anunciado que o chanceler Ernesto Araújo, uma estrela para a base bolsonarista mais radicalizada, deixaria o cargo, após forte pressão por parte de senadores e deputados do Centrão.
No cargo, Azevedo e Silva fez várias declarações públicas e políticas, muitas vezes de sinais contrários. A frequente voz do então ministro da Defesa na política interna —algo inusual em democracias estáveis— era só um sintoma da crise institucional em curso e do dúbio papel que as Forças Armadas decidiram assumir no atual Governo, o de maior participação militar desde o fim da ditadura. A gestão de Azevedo à frente do ministério foi marcada por uma série de manifestações inconstitucionais do presidente, que mais de uma vez insinuou a necessidade da intervenção dos militares para garantir a governabilidade. Bolsonaro chegou a participar pessoalmente de um ato antidemocrático em frente ao quartel-general do Exército em Brasília em abril de 2020, quando a pandemia já ganhava força no país. Após o episódio, o general foi cobrado pelo ministro Antonio Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal, a dar uma explicação sobre o ocorrido (antes de chefiar a Defesa, Azevedo foi assessor do magistrado na corte). O general da reserva, então, se manifestou por nota com um tom legalista, afirmando que o papel das Forças Armadas é “manter a paz e a estabilidade do país, sempre obedientes à Constituição Federal”, e que o momento requeria uma “adaptação das capacidades das Forças Armadas para combater um inimigo comum a todos: o coronavírus e suas consequências sociais. É isso o que estamos fazendo”.
Apesar do tom conciliatório da nota, um mês depois, em maio do ano passado, Azevedo participou ao lado do presidente de um sobrevoo de helicóptero sobre outro ato antidemocrático em Brasília. O ministério alegou que o general acompanhou Bolsonaro “para checar as condições de segurança” na Esplanada dos Ministérios. O agora ex-ministro também chancelou uma nota de
Segundo o jornal O Estado de São Paulo, a saída de Azevedo teria sido uma retaliação de Bolsonaro a uma entrevista do general Paulo Sérgio, responsável pela área de saúde do Exército, ao jornal O Estado de Minas e ao Correio Braziliense, na qual ele defende o lockdown e aponta para a possibilidade de uma terceira onda da covid-19 no Brasil. O teor das falas teria incomodado o mandatário —crítico de primeira hora de qualquer forma de restrição de circulação como ferramenta para frear os efeitos da pandemia— e consequentemente colocado pressão no ministro.
De tom moderado, Azevedo chegou a dar declarações que contrariavam a prática agressiva do Planalto. Quando simpatizantes do presidente insuflados por ele começaram a agredir e ameaçar jornalistas que cobriam as atividades do mandatário na saída do Palácio do Alvorada, o general criticou a violência contra a imprensa: “A liberdade de expressão é requisito fundamental de um País democrático (...) qualquer agressão a profissionais de imprensa é inaceitável”.
Apesar de ter ingressado no Governo Bolsonaro já em 2018, o histórico político de Azevedo é mais antigo. Ele assumiu o cargo de presidente da Autoridade Pública Olímpica em 2013, durante o mandato da então presidenta Dilma Rousseff, e antes disso foi ajudante de ordens do ex-presidente Fernando Collor de Mello.
Os militares sempre foram prestigiados por Bolsonaro. Além de ocuparem ministérios e uma série de cargos-chave em estatais e autarquias, eles escaparam de uma reforma da Previdência mais dura no final de 2019. Dentre as vantagens obtidas por eles com relação aos servidores públicos e trabalhadores do setor privado, se estabeleceu que os membros das Forças Armadas receberão salário integral ao se aposentar, e não terão idade mínima obrigatória. Outra vitória econômica para a classe foi a aprovação, em março, da Lei Orçamentária Anual (LOA) para 2021. O texto liberou um aumento de remuneração para a categoria, que agora passa a ser a única que poderá receber reajuste este ano em um contexto no qual as demais tiveram o salário congelado até dezembro. Por fim, a verba destinada para investimentos nas Forças Armadas prevista na LOA subiu de 8,17 bilhões de reais para 8,32 bilhões de reais.
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