“Disseram que se eu crescesse nas pesquisas iriam me matar”, diz candidata que sobreviveu a atentado
Solange Freitas (PSDB), que concorre no município da Baixada Santista, teve o carro alvejado por cinco tiros na última quarta-feira. Para ela, violência desestimula mulheres a entrarem para a política. Mais de 80 candidatos e militantes foram mortos durante a campanha eleitoral
A jornalista Solange Freitas, candidata do PSDB à Prefeitura de São Vicente, na Baixada Santista (SP), afirma ter recebido duas ameaças de morte ao longo da campanha antes de ter sido alvo de um atentado na última quarta-feira (11). Um homem em uma moto disparou cinco vezes contra a janela do banco do carona do veículo em que ela estava. O carro era blindado e os projéteis não conseguiram romper o vidro. Além de Solange, estavam no veículo três assessores e o candidato a vice, Gil do Conselho. Ninguém ficou ferido.
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A candidata é mais uma vítima da escalada de violência política nas eleições municipais brasileiras, que já soma 82 candidatos ou militantes assassinados. A polícia ainda investiga quem foram o autor e o mandante do atentado sofrido pela tucana. “Ainda precisa ser investigado, mas, para mim, teve motivação política. Na hora é um grande susto, uma choradeira e vem um sentimento de revolta. Saber que as pessoas fazem isso pelo poder. Mas, depois, dá ainda mais força de continuar”, afirma a candidata ao EL PAÍS. Solange havia trocado de lugar no carro pouco antes antes do atentado. Deixou o banco do carona, na frente, para sentar-se atrás e revisar a agenda do dia com uma assessora. O uso do automóvel blindado, segundo ela, era uma prevenção.
Solange, que voltou fazer campanha nas ruas nesta sexta-feira, afirmou que não “se sente intimidada”. “Eu estou firme no meu propósito, não vou desistir. Esse atentado à democracia também é lamentável porque pode desestimular as mulheres a se candidatarem diante de tanta violência, de uma tentativa de assassinato de uma candidata”, afirma. “Esse movimento forte de mais mulheres na política é muito bom e importante”.
A jornalista, de 50 anos, trabalhava como repórter da TV Tribuna, afiliada da Rede Globo, até maio, quando se afastou para cuidar da campanha. Desde que entrou no mundo político, ela conta ter sido fortemente atacada nas redes sociais. “Não com ataques como esse de tiros. Sempre foram tentativas de desgastar a minha imagem. Muitas fake news, denúncias mentirosas, tanto que tive que entrar com muitas ações na Justiça”, conta.
Para Solange, os ataques nas redes sociais foram apenas para desestabilizá-la. “Até pela minha condição de mulher, essa é a primeira vez que temos candidatas mulheres tentando a prefeitura. Já esse que aconteceu nesta semana é uma questão de poder mesmo”, diz.
Durante a campanha, ela afirma ter sofrido duas ameaças de morte, mas que não deu muita importância. No dia 14 de outubro, um dos comitês da candidata foi destruído por um incêndio, supostamente criminoso. O caso ainda é investigado pela Polícia Civil. Dias depois, quando visitou o local, a candidata foi abordada por um desconhecido em uma bicicleta.
“O cara me disse que trabalhava para uma pessoa, não disse quem, mas que tinha informação de que se eu crescesse muito nas pesquisas, iriam me matar. E que se não me matassem e eu ganhasse as eleições, eu não iria assumir”, conta Solange. Ela conclui com assessoras que aquela deveria ser mais uma tentativa de desestabilizá-la e resolveu “deixar pra lá”. “Em outro dia, chegou uma mensagem de Whatsapp com um número do Chile me ameaçando e bloqueie. De ameaça efetiva foram essas duas”, explica.
‘Salve’ do PCC
Desde o atentado à candidata, se comenta na cidade se o ato poderia estar relacionado a um suposto aviso dado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC) proibindo campanha política do PSDB e aliados em comunidades de todo o Estado de São Paulo. Solange não acredita que o episódio sofrido esteja relacionado a esse aviso. “Desde o início da campanha, começou esse ‘salve’ [aviso] do PCC, que depois foi ampliado a todos os partidos ligados ao Governo do Estado. Aqui em São Vicente praticamente nenhum candidato podia fazer campanha em alguma comunidade”, explica.
Ela afirma que não foi a comunidades e que foi abordada apenas uma vez, quando gravava uma propaganda eleitoral na Ponte dos Barreiros, principal ligação entre as áreas Continental e Insular da cidade. “Eu estava fazendo uma passagem, estava no caminho, mas os caras falaram que eu não podia ficar ali. Eu questionei que não estava fazendo nada, não estava dentro da comunidade nem pedindo voto. Mesmo assim, falaram que como era para a campanha, não podia, e então apagaram as fotos e o vídeo. Eu não consigo ver algo ligado a eles nem vejo motivos para terem feito isso”.
Em nota, o PSDB afirmou que espera a rápida apuração sobre a autoria do crime. “O PSDB de São Paulo se solidariza com a candidata a prefeita de São Vicente Solange Freitas e sua equipe, vítimas de um atentado a tiros na manhã desta quarta-feira. Solange é a esperança de dias melhores na cidade e sem dúvida vai seguir firme com esse propósito. O PSDB espera a rápida elucidação do caso pelas autoridades policiais e a exemplar punição de seus autores”.
Já o governador João Doria (PSDB) se manifestou pelo Twitter e afirmou que a violência contra a candidata é “um ataque à democracia” e informou que determinou à Polícia Civil que esclareça o episódio.
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