Bolsonaro nomeia para o MEC o professor Carlos Alberto Decotelli, que promete uma gestão técnica

Ex-presidente do FNDE e professor, novo ministro substitui o polêmico Abraham Weintraub e diz não ter competência para a discussão ideológica

Novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli.Reprodução Facebook

Uma gestão técnica e mais distante das discussões ideológicas é a promessa do novo ministro da Educação, Carlos Alberto Decotelli, nomeado nesta quinta-feira (25) ao comando da pasta pelo presidente Jair Bolsonaro. Ele assume o posto após a gestão caótica de Abraham Weintraub, que integrava a ala ideológica do Governo. Decotelli tem 67 anos, é financista e professor. Bacharel em Ciências Econômicas pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e pós-doutor pela Universidade de Wuppertal, na Alemanha, integrou a equipe de transição de Bolsonaro. Chegou a presidir o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) durante pouco mais de seis meses no ano passado, mas foi substituído e retomou sua atuação acadêmica. Decotelli presidia o FNDE, quando o órgão publicou um edital de R$ 3 bilhões que foi suspenso pela Controladoria-Geral da União (CGU) por suspeitas de fraudes. Ele é próximo do ministro da Economia Paulo Guedes e, junto ao ex-ministro Sergio Moro, participou da criação do curso de Pós-Graduação em Finanças na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul.

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Decotelli é visto como um perfil conservador, mas não integra a ala ideológica do Governo. E planeja adotar um tom diferente do seu antecessor, preconizando a conciliação com as demais instituições democráticas. O ex-ministro Weintraub protagonizou diversas crises à frente da pasta pelo seu perfil ideológico. Chegou a dizer que as universidades públicas faziam “badernas” e tinham plantações de maconha e a criticar cotas, travando uma verdadeira guerra com as universidades federais. Nas últimas semanas como ministro, teve sua imagem bastante desgastada após a divulgação do vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, em que chamava os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de “vagabundos” e defendia suas prisões. A participação dele num ato contra o STF acabou influenciando seu desembarque no Governo, não sem antes publicar uma portaria que acabava com o incentivo a cotas na pós-graduação, um último ato que acabou revogado.

Agora, o MEC passa a ser comandado por Decotelli, o primeiro ministro negro do Governo Bolsonaro. E o terceiro nomeado pelo presidente para liderar a pasta. O professor tem o desafio de reconstruir as pontes implodidas pelo seu antecessor. “Não tenho nem preparação para fazer discussão ideológica, minha função é técnica”, disse o novo ministro em entrevista ao jornal O Globo. Ele tem boa relação com o Congresso Nacional e sinalizou que pretende estreitar o diálogo com as secretarias estaduais e municipais de Educação. Por outro lado, tem um perfil conservador que não chega a gerar fortes tensões com a ala ideológica do Governo. Oficial da Reserva da Marinha, onde atuou como professor, também agrada os militares.

Decotelli participou de toda a transição de governo do presidente Jair Bolsonaro. E acumula experiência na sala de aula, especialmente no ensino superior. Embora suas primeiras declarações apontem que pretende adotar um perfil mais técnico e afastado das discussões ideológicas, entidades de Educação não têm expectativa de uma guinada no modelo de gestão da pasta. Desde o início do Governo Bolsonaro, o MEC está imerso em uma guerra cultural. O primeiro ministro da pasta, Ricardo Vélez, deixou o cargo após uma guerra travada entre as alas militar e ideológica.

Weintraub o sucedeu com um discurso de que retiraria aqueles que quisessem permanecer em guerra e que não era radical, mas elevou o tom ideológico na pasta. Decotelli adota um discurso mais pacificador e promete diálogo. “É uma pessoa que desconhece a gestão pedagógica, não tem nenhum tipo de domínio. Essa é uma tradição brasileira gravíssima, que perpassa todos os governos, mas que é pior no bolsonarismo, que tem como norte a guerra cultural olavista”, afirma o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara.

A presidente executiva do Todos pela Educação, Priscila Cruz, diz que é preciso esperar as ações do novo ministro para saber se ele vai, de fato, representar um afastamento da guerra ideológica. “Se ele quer uma gestão técnica, a primeira ação seria afastar os olavistas da pasta. Criar tolerância entre uma gestão técnica e a chamada revolução cultural que o Eduardo Bolsonaro diz que é papel MEC são incompatíveis. Temos que aguardar os primeiros passos”, afirma. Decotelli é visto como uma pessoa de perfil sério, com um estilo de gestão marcado pela austeridade de gastos. Tinha o plano de fazer uma espécie de lava-jato do FNDE.

Mas há um receio de que o novo ministro possa representar um retorno da agenda neoliberal de Paulo Guedes para dentro do Ministério, conforme diz Cara. “Weintraub foi menos privatista do que queria o Paulo Guedes”, analisa. O ex-ministro chegou a lançar o Future-se, um programa de financiamento para o Ensino Superior que pouco decolou. “Não tenho nenhuma expectativa positiva em relação ao novo ministro. Não tem como fazer gestão técnica se não conhece a questão pedagógica. Nem ele nem os outros ministros que saíram têm conhecimento científico pedagógico”, afirma Cara.

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