ONU alerta para o maior êxodo de civis sírios desde o início da guerra
Mais de 900.000 pessoas fogem em meio ao frio da ofensiva lançada pelo regime em Idlib
A ofensiva final do Governo de Damasco contra a província de Idlib, no noroeste, último reduto da oposição, está causando o maior êxodo de civis de uma guerra que está prestes a completar nove anos de hostilidades. Dois meses após o início dos ataques do Exército de Damasco coordenados com a aviação aliada da Rússia, mais de 900.000 pessoas, 80% mulheres e crianças, tiveram que deixar suas casas no meio do frio, da neve e da chuva desde o início dos combates, que custaram cerca de 300 vidas de não combatentes. A Alta Comissária da ONU para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, denunciou na terça-feira os ataques “indiscriminados” e “desumanos” sofridos pela população no noroeste da Síria, e instou as partes a criar corredores humanitários.
O Escritório de Direitos Humanos das Nações Unidas confirmou a morte de pelo menos 298 civis nas regiões de Idlib e Aleppo desde 1º de janeiro —pelo menos cem deles nos primeiros 16 dias de fevereiro. A grande maioria dessas vítimas, 93%, corresponderia a ataques do Governo sírio e de seus aliados. Entre as vítimas mortais estão 112 crianças, segundo a ONG Observatório Sírio dos Direitos Humanos, que tem informantes no local.
O subsecretário-geral de Assuntos Humanitários da ONU, Mark Lowcock, denunciou, por sua vez, que bebês e crianças de tenra idade estão “morrendo por causa do frio” no meio de “uma onda de violência cega”. A ONG Save the Children está documentando vários desses casos. O deslocamento maciço de população acontece no meio da neve e das chuvas de inverno, que no Oriente Médio está mostrando este ano toda a sua crueza. O UNICEF teve de fechar os dois últimos hospitais em operação na região por causa dos combates.
“Famílias inteiras, algumas das quais cruzaram a Síria de um extremo ao outro na última década, veem tragicamente que as bombas fazem parte de suas vidas diárias”, lamentou Bachelet em um comunicado em que pergunta “como alguém pode justificar esse tipo de ataques indiscriminados e desumanos” contra a população civil.
A Rússia, que apoia o regime, e a Turquia, que apoia os rebeldes, estão tentando evitar um confronto direto entre as tropas de Ancara e as forças sírias na província rebelde. A Turquia enviou milhares de efetivos para a fronteira de Idlib na expectativa de que os refugiados se dirijam para o norte.
O escritório de Bachelet confirmou que pelo menos dez instalações médicas e 19 centros educacionais foram afetados direta ou indiretamente pelo conflito. Os ataques também chegaram aos campos improvisados para pessoas deslocadas internamente, o que reduz a possibilidade de estar a salvo em qualquer lugar da região. Bachelet disse em outras ocasiões que ataques diretos a esse tipo de lugar podem constituir crimes de guerra.
Um porta-voz de seu escritório, Rupert Colville, respondeu segunda-feira em Genebra sobre questionamentos de que a Síria e a Rússia estavam atacando deliberadamente civis e edifícios protegidos segundo o direito internacional. “A quantidade de ataques a hospitais, centros de saúde e escolas indicaria que não pode ser algo acidental”, alertou Colville, que apontou a suposta prática de crimes contra a humanidade na ofensiva desencadeada pelo regime do presidente Bashar Al-Assad.
“Os civis que fogem dos confrontos estão se acumulando em áreas sem abrigos seguros e se reduzem a cada hora que passa. E ainda assim continuam sob bombardeio. Não têm para onde ir”, disse a Alta Comissária das Nações Unidas, que teme que o saldo de vítimas só aumente se as partes em conflito não agirem.
Os civis “agora correm mais risco do que nunca, com poucas esperanças ou garantias de conseguir um retorno seguro e voluntário às suas regiões de origem ou a outras de sua escolha”, acrescentou.
Bachelet pediu o fim imediato das hostilidades, bem como corredores humanitários para que os civis possam escapar com segurança das áreas em conflito e as organizações possam distribuir a ajuda. A esse respeito, alertou que colocar a população em risco implica um descumprimento do Direito Internacional Humanitário e dos Direitos Humanos.
A Alta Comissária ficou “alarmada” com o “fracasso da diplomacia”, que “deveria colocar a proteção dos civis acima de qualquer vitória política e militar”.
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