PCC planejou explodir dois carros-bomba em São Paulo na Copa do Mundo de 2014
Facção criminosa elaborou plano ao saber que líderes poderiam ser transferidos para presídios federais, segundo investigação
O PCC (Primeiro Comando da Capital) ameaçou explodir dois carros-bomba em São Paulo durante a Copa do Mundo de 2014, caso algum líder da facção criminosa fosse transferido, à época, para presídios federais.
O plano foi descoberto pela Polícia Civil e pelo Gaeco (Grupo de Apoio Especial de Combate ao Crime Organizado) do MPE (Ministério Público Estadual) em uma investigação conjunta envolvendo 35 pessoas acusadas por tráfico de drogas no ABC Paulista.
Havia rumores de que o PCC iria cometer atentados e que a Copa do Mundo de Futebol seria o “Mundial do terror”. O temor por possíveis ataques teve repercussão até em jornais da Europa.
As autoridades, no entanto, jamais admitiram oficialmente a existência de planos terroristas da maior facção criminosa brasileira durante os jogos do Mundial de 2014 no Brasil.
Mas as escutas telefônicas interceptadas pela Polícia Civil e pelo Gaeco em 28 de abril de 2014 —45 dias antes da cerimônia de abertura da Copa do Mundo na Arena Corinthians— mostraram exatamente o contrário.
A Ponte teve acesso às transcrições dos diálogos. Um dos alvos, James Mendes da Silva, conhecido como Gordão ou Gê, liga para o parceiro de crime Marcos Laureano da Silva, o Galego ou São Paulino.
Gê manda Galego pegar caneta e papel para anotar um “salve” (recado), comunicando que “se alguém do PCC for arrastado (transferido) para presídio federal, não vai ter Copa do Mundo”.
A mensagem adverte que, em caso de transferência de algum líder do PCC para unidade federal, “vai morrer muita gente e vai ter um rio de sangue”.
O alvo da escuta avisa para o parceiro que o PCC “tem dois carros-bomba preparados para qualquer eventualidade”.
Depois de transmitir o recado, Gê pede para Galego repassar o “salve” e informa que vai quebrar o celular para evitar um possível grampo telefônico e promete arrumar outro aparelho.
Naquele mesmo dia, Galego atende ao pedido do amigo e transmite o recado para outros parceiros de crime, entre eles Bruno Abraão Santanna Xavier Lima, o Corintiano.
Segundo investigações da Polícia Civil de São Bernardo do Campo, Gê recebeu o “salve” de presos da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, onde, na época, estavam recolhidos os principais líderes do PCC.
De acordo com os policiais civis, Gê, Galego e Corintiano traficavam drogas e integravam a célula “sintonia dos 14”. Esse grupo tinha um líder em cada região do Estado, distribuído de acordo com o código de área, o DDD.
O código 012 era da região de São José dos Campos e Vale do Paraíba; 013 Santos e Baixada Santista; 014 região de Bauru; 015 Sorocaba; 016 Ribeirão Preto; 017 São José do Rio Preto; 018 região de Presidente Prudente e 019 Campinas.
Os outros seis restantes eram do código de DDD 011: zonas norte, sul, leste e oeste da capital paulista; cidades do ABC e municípios da Grande São Paulo.
A “sintonia dos 14” era formada por líderes do PCC em liberdade e subordinada apenas à “sintonia final geral”, integrada pelos chefes da facção recolhidos na P2 de Presidente Venceslau.
Em outubro de 2013, oito meses antes do início da Copa do Mundo, o Gaeco de Presidente Prudente denunciou 175 integrantes do PCC por associação à organização criminosa e pediu a internação de 35 deles no RDD (Regime Disciplinar Diferenciado).
No RDD, o preso fica em cela individual trancado 22 horas por dia, tem direito a duas horas de banho de sol, não há visita íntima e é proibido ouvir rádio, assistir televisão e ler jornais e revistas.
A Justiça de São Paulo indeferiu o pedido de internação dos líderes da facção no RDD, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o número 1 da organização.
Porém, no início de 2014, O Gaeco voltou a pedir a internação de Marcola e dos presos Cláudio Barbará, Célio Marcelo da Silva, o Bin Laden, e Luiz Eduardo Marcondes, o Du da Bela Vista.
Segundo o Gaeco de Presidente Prudente, havia um plano para resgatar os quatro presos da P2 de Presidente Venceslau.
Marcola foi internado em RDD no CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes em 11 de março de 2014, mas ficou apenas um mês no castigo.
Por determinação da 1ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP, Marcola deixou o RDD em 10 de abril de 2014. Dezoito dias depois, a Polícia Civil interceptou o “salve” para explodir dois carros-bomba em São Paulo, se algum líder do PCC fosse transferido para presídio federal.
No período da Copa do Mundo de 2014, Marcola e seus principais colegas presos na P2 de Venceslau não foram removidos para unidades federais. A transferência viria acontecer cinco anos depois do Mundial, em fevereiro de 2019.
Já a Justiça de São Bernardo do Campo condenou, em primeira instância, Gê a 18 anos de prisão, Galego a 20 anos e Corintiano a 22 anos por tráfico de drogas e associação à organização criminosa.
Mas a 6ª Câmara de Direito Criminal do TJ-SP absolveu os três das acusações e mandou expedir alvará de soltura em julgamento realizado em 28 de fevereiro do ano passado.
A reportagem foi originalmente publicada no site da Ponte Jornalismo.
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