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Padre argentino acusado de abusos a menores se suicida

As humilhações, que nunca serão julgadas, foram cometidas quando Eduardo Lorenzo trabalhou em dois lugares próximos de La Plata

Enric González
O sacerdote argentino Eduardo Lorenzo.
O sacerdote argentino Eduardo Lorenzo.
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O padre argentino Eduardo Lorenzo segurou uma arma e disparou na própria cabeça. Seu corpo foi encontrado poucas horas depois, na noite de segunda-feira, nas dependências da Caritas, em La Plata, onde estava alojado pelo arcebispado. Lorenzo estava prestes a ser preso por corrupção de menores e por abuso sexual de pelo menos cinco meninos. O arcebispo de La Plata disse na terça-feira que o padre “tirou a própria vida depois de longos meses de tensão e sofrimento” e pediu orações por ele. As vítimas declararam que a morte de Lorenzo “não repara o dano” e criticaram a lentidão da Justiça.

Eduardo Lorenzo cometeu os supostos abusos entre 1990 e 2001. A primeira denúncia contra ele foi apresentada em 2008, mas a promotora de La Plata, Ana Medina, decidiu que não havia “elementos suficientes para provar a existência do ato ilícito” e ordenou que o caso fosse arquivado. O assunto ficou semiesquecido, mas não encerrado, e em fevereiro deste ano o advogado do padre, Alfredo Gascón, solicitou que o caso fosse encerrado. Em julho, no entanto, duas novas denúncias foram apresentadas por dois homens que deram detalhes sobre os “jogos sexuais” que Lorenzo organizava com coroinhas de idades entre 13 e 16 anos.

Uma das vítimas, Julián, deu uma entrevista coletiva na qual explicou que durante 20 anos havia mantido em segredo os abusos sofridos e que a leitura na imprensa do que aconteceu com outra vítima, León, o primeiro denunciante, o havia mergulhado em uma crise. Finalmente, decidiu falar. “Quero que meus filhos vejam como o pai deles enfrentou dois anos e meio de abuso”, disse. Julián, um ex-escoteiro, deu detalhes de como o padre o recebia nu e o atraía para sua cama. “Quase toda sexta-feira organizava jantares com meninos”, disse ele.

Duas outras vítimas apresentaram denúncias. O caso foi reaberto e a promotora Ana Medina pediu à juíza de Garantias de La Plata, Marcela Garmendia, que ordenasse a prisão de Eduardo Lorenzo. Algumas semanas atrás, a juíza pediu a realização de um laudo psicológico do padre. Os especialistas concluíram que Lorenzo tinha “uma personalidade com características de manipulação, elevado autocentramento e egocentrismo, com pouca autocrítica e auto-observação impregnada de traços narcisistas”. Tentou dominar os psicólogos levantando continuamente a voz. “Tornei-me padre para dar uma mão, não quero que vejam agora como desmorono”, comentou.

Na semana passada, a juíza determinou a prisão provisória. O suicídio ocorreu quando a ordem ainda não havia sido expedida.

Os supostos abusos, que nunca serão julgados, foram cometidos quando Lorenzo trabalhou na igreja de San José Obrero, em Berisso, e na paróquia Inmaculada Madre de Dios, em Gonnet, duas localidades próximas de La Plata. Nos últimos anos foi capelão do Serviço Penitenciário de Buenos Aires e tornou-se amigo do padre Julio César Grassi, que cumpria pena de 15 anos de prisão por corrupção de menores e abuso sexual.

O arcebispo de La Plata, Víctor Manuel Fernández, divulgou uma declaração falando do sofrimento de Eduardo Lorenzo, pedindo orações por ele e dizendo: “O próprio Senhor nos ajudará a compreender algo no meio desse mistério sombrio e nos ensinará algo mesmo através dessa dor”.

As palavras do arcebispo indignaram os denunciantes, reunidos na Rede de Sobreviventes de Abuso Eclesiástico da Argentina. “A morte não repara o dano, a única coisa que repara o dano causado às vítimas é a justiça. A morte do padre Eduardo Lorenzo confirma que os sobreviventes disseram e sempre dizem a verdade”, declararam em um comunicado. Acrescentaram que tudo o que aconteceu foi possível “por causa de uma intolerável demora da Justiça”.

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