Estados Unidos golpeiam finanças da família Ortega na Nicarágua
Trump ataca várias empresas controladas por um filho do casal e Ortega responde nacionalizando distribuidora de gás
Os Estados Unidos deram mais um passo em sua estratégia para impedir que a família do presidente Daniel Ortega desfrute das riquezas acumuladas durante anos de despótico governo na Nicarágua. O Departamento do Tesouro aprovou na quinta-feira um pacote de medidas por corrupção e lavagem de dinheiro contra várias empresas controladas por Rafael Ortega Murillo, filho de Daniel Ortega e da vice-presidenta Rosario Murillo. Entre elas estão as companhias Distribuidora Nicaraguense de Petróleo (DNP), Zanzibar e El Goliat, dedicadas à distribuição de gás ou à segurança particular.
Com as sanções aprovadas, já são 15 funcionários e quatro entidades vinculadas ao regime punidas pelos EUA por violações dos direitos humanos e atos de corrupção. Uma medida destinada a conseguir uma saída para a crise política que o país enfrenta.
Ao último ataque da Administração Trump, o sandinismo respondeu nacionalizando a DNP, vinculada à família Ortega. No sábado, a Assembleia Nacional aprovou a medida para evitar o bloqueio da principal rede de postos de gasolina, que controla um terço das vendas de gás no país. Segundo o Departamento do Tesouro, a DNP é de propriedade ou está sob o controle dos Ortega e foi comprada com dinheiro público antes de ser transferida à família. O filho de Daniel Ortega “usa duas empresas para lavar dinheiro para sustentar o regime de Ortega à custa do povo nicaraguense”, disse o secretário do Tesouro Steven T. Mnuchin.
O Escritório de Controle de Ativos Estrangeiros disse que a DNP foi usada por membros da família Ortega para seu enriquecimento pessoal em contratos não competitivos com instituições governamentais da Nicarágua. Como resultado, todos os bens dessas empresas nos EUA foram bloqueados.
“Os hidrocarbonetos foram um dos negócios mais lucrativos da família governante. Ela controla 45% das vendas de diesel e 34% das vendas de gasolina, além de mais de 30% das importações de hidrocarbonetos. Como este negócio é diário e em dinheiro, representa um grande fluxo de caixa. As sanções suspendem o negócio das importações [65% vem dos Estados Unidos e 17% do Equador], perturbam os fluxos financeiros e obrigam a ‘colocar a barba de molho’ em relação aos outros negócios, em particular a energia elétrica, onde [a família] exerce um poder dominante maior”, diz de Manágua o economista Enrique Sáenz.
Sobre a empresa de segurança El Goliat, os EUA afirmam que recebeu milhões em contratos governamentais e que a empresa fornece serviços de proteção para empresas familiares de Ortega. Em setembro, a Prefeitura de Manágua decidiu contratar a empresa para vigiar importantes instalações esportivas.
Com as sanções por lavagem de dinheiro, todos os bens do filho da família presidencial nos EUA ficam bloqueados e ele tampouco pode fazer negócios com cidadãos norte-americanos, que também poderiam ser sancionados por descumprirem a proibição. No mês passado, o Governo Trump sancionou três funcionários nicaraguenses acusados de abusos contra os direitos humanos, fraude eleitoral e corrupção como medida de pressão.
Nos últimos 20 meses, 328 nicaraguenses morreram, milhares foram presos e outros 70.000 seguiram para o exílio, de acordo com as Nações Unidas, desde que estouraram os protestos contra o presidente Ortega, em abril de 2018. Os funcionários da Nicarágua chamaram os manifestantes da oposição de “terroristas” e consideraram que as manifestações equivalem a uma tentativa de golpe de Estado.
Além de “um golpe na cabeça da estrutura econômica” do regime, as sanções também representam uma mensagem clara para as bases da Frente Sandinista, principalmente “a todos esses prefeitos, paramilitares e juízes que fizeram carreira criminalizando inocentes” aos quais “estão dizendo que Ortega não vai defendê-los, que Ortega não pode defender nem sua família”, disse a comandante guerrilheira e historiadora Dora María Téllez ao jornal Confidencial, da Nicarágua.
O analista Enrique Sáenz concorda que “o significado político das medidas [dos EUA] não é imediato, mas pode ser visto em termos estratégicos: obriga a medidas econômicas que prejudicam sua clientela política, afastam aliados empresariais, atemorizam aliados políticos e círculos de poder”, explica.
Ao mesmo tempo, as medidas aumentam o cerco ao casal Ortega. Rafael Ortega Murillo é o terceiro membro da família sancionado pelos Estados Unidos. Antes foi seu irmão Laureano Ortega Murillo, considerado o herdeiro da família. Rosario Murillo, vice-presidenta e esposa de Daniel Ortega, também foi sancionada.
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