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Varios
Relatório PISA 2018

Somente sete de 79 países melhoram seus resultados no relatório PISA

Apenas um de cada dez estudantes distingue entre “fato e opiniões” e um em cada quatro tem dificuldades básicas de leitura

Alunos em um instituto público do Canadá.
Alunos em um instituto público do Canadá.COLIN MCCONNELL (GETTY IMAGES)
Silvia Ayuso

Apesar do gasto por estudante de ensino fundamental e médio ter aumentado aproximadamente 15% nos países da OCDE na última década, o rendimento médio desses alunos na maioria dos Estados membros não teve praticamente nenhuma melhora. E não é somente um problema das nações pertencentes à Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico: do total de 79 países que participaram do último relatório PISA (Programa Internacional para a Avaliação de Estudantes), em 2018, somente sete melhoraram seus resultados de maneira “significativa” nas três áreas analisadas: leitura, matemática e ciências. E somente um deles, Portugal, é membro da OCDE. Algo que, para o secretário-geral do órgão sediado em Paris, Ángel Gurría, só pode ser descrito como “decepcionante”, como deixou claro na apresentação do relatório na terça-feira em Paris.

Há outro dado inquietante: em um mundo em mutação e cada vez mais digitalizado, em que as fontes de consulta se multiplicaram – quem ainda tem uma enciclopédia em papel em casa? –, a capacidade de diferenciar o que é um dado e uma opinião se reduz significativamente: menos de um em cada dez estudantes da OCDE (8,7%) “domina tarefas de leitura complexas como distinguir entre fato e opinião quando lê assuntos com os quais não está familiarizado”, alerta o relatório, que avaliou 600.000 estudantes de 15 anos em 79 países em 2018.

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Uma tendência “muito preocupante”, alertou Gurría ao apresentar o relatório em Paris. “No passado, os estudantes encontravam respostas claras às suas perguntas nos livros texto aprovados pelo Governos e, em geral, era possível confiar nessas respostas”, lembrou. Mas “hoje em dia, os estudantes precisam ter capacidades bem cimentadas para navegar em fluxos de informação online instantâneos, para diferenciar entre fatos e ficção, entre o que é verdadeiro e falso. No mundo das fake news de hoje, essas capacidades são fundamentais”, afirmou.

E a educação, disse o diretor do programa PISA, Andreas Schleicher, não esteve à altura. Nos últimos anos, “o mundo real e o digital se integraram e está claro que o mundo da educação não respondeu, não mudou”, afirmou.

Tanto ou talvez mais preocupante é o outro lado da balança: em um mundo em que até os trabalhos mais simples são realizados pela Internet, um em cada quatro estudantes da OCDE é incapaz de completar as tarefas de leitura mais básicas, como “identificar a ideia principal em um texto moderadamente longo e conectar fragmentos de informação procedentes de diferentes fontes”. Esse problema é particularmente apontado em 10 países da OCDE, em que 25% dos estudantes obtiveram um rendimento na prova de leitura abaixo do nível 2, que é quando os estudantes “começam a demonstrar sua capacidade de leitura para adquirir conhecimentos e resolver um amplo espectro de problemas práticos”. São eles o Chile, Colômbia, Eslováquia, Grécia, Hungria, Islândia, Israel, Luxemburgo, México e Turquia. Além disso, a quantidade de estudantes com pouca capacidade de leitura — algo que compromete um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para 2030 — aumentou desde 2009, a última vez em que a leitura foi a matéria principal do teste.

O problema também foi registrado em ciências, em que 22% dos estudantes da OCDE não atingiram o nível básico, e em matemática (24%).

“Sem a educação adequada, os jovens definharão à margem da sociedade, incapazes de enfrentar os desafios do mundo do trabalho do futuro, e a desigualdade continuará aumentando”, alertou Gurría.

Em termos gerais, somente sete países e economias obtiveram uma melhora no rendimento de seus estudantes em três âmbitos: Albânia, Catar, Colômbia, a região chinesa de Macau, Moldávia, Peru e Portugal.

No lado oposto da tabela estão seis países: Austrália, Coreia, Finlândia, Holanda, Islândia e a República Checa, que registraram um rendimento em queda nas três partes do teste.

A Espanha está no meio da tabela, entre os 13 países e economias nos quais “não foi possível estabelecer nenhuma melhora e queda significativas em nenhuma das matérias”, diz o relatório.

A OCDE apresentou na terça-feira os três primeiros capítulos do relatório PISA 2018. Além dos resultados gerais, se detalha em outro longo capítulo o “bem-estar” dos estudantes, em que entre outros são analisados os níveis de bullying e assédio escolar, algo que um de cada quatro estudantes da OCDE sofre em média. Um terceiro capítulo é dedicado a analisar a “igualdade”, no sentido de que o bom desempenho escolar não está relacionado com o status socioeconômico, gênero do estudante e se ele é ou não de origem imigrante.

O relatório destaca um fato positivo: um de cada 10 estudantes desfavorecidos da OCDE (que estão nos 25% mais baixos da escala socioeconômica e cultural de seu país) conseguir se colocar entre os 25% dos alunos com melhor rendimento de leitura demonstra que nascer com menos vantagens não necessariamente predestina a uma vida desfavorecida. Os dados também demonstram, diz o relatório, que “o mundo já não se divide entre nações ricas e bem-educadas e as pobres com baixa educação”. De fato, o nível de desenvolvimento econômico “só explica 28% da variação nos resultados de aprendizagem entre os países se for utilizada uma relação linear entre os dois”.

Mas “continua sendo necessário para muitos países promover a igualdade urgentemente”. Porque, como diz Gurría ao abrir o relatório, os estudantes vindos de famílias desfavorecidas “têm geralmente uma única oportunidade na vida, que é ter um excelente professor e uma boa escola”. Se essa ocasião se perde, alerta, “as oportunidades de educação subsequentes tenderão a reforçar, mais do que mitigar, as diferenças iniciais nos resultados de aprendizagem”.

Também há trabalho a ser feito em matéria de igualdade entre meninas e meninos. Enquanto as estudantes obtiveram resultados muito melhores em leitura do que seus colegas – até 30 pontos acima nos países da OCDE – e gostam mais de ler do que eles, os meninos continuam tendo melhores resultados em matemática e são maioria nos cursos tecnológicos e científicos.

IGUALDADE NA EDUCAÇÃO COMO VACINA CONTRA EXTREMISMOS

Garantir uma boa educação para meninos – e meninas – independentemente de sua origem socioeconômica e cultural é uma questão de justiça social e a maior garantia de que o elevador social funciona. Mas é, também, prevenção contra os populismos e extremismos, alertou na terça-feira o secretário-geral da OCDE, Ángel Gurría.

O chamado opportunity hoarding, o monopólio de oportunidades nas mãos de poucos, "é ruim para a sociedade e para a economia", porque há talentos que podem se perder no caminho. Mas uma baixa mobilidade social também é ruim ao sistema democrático porque "pode reduzir a participação democrática, favorecendo o extremismo político e o populismo que vemos hoje em tantos países", frisou. De fato, lembrou, a OCDE já alertou que uma baixa mobilidade social "está ligada a uma atração mais forte aos extremos, especialmente quando a confiança em instituições políticas é frágil".

Por isso, afirmou, “a igualdade na educação é a pedra angular de sociedades justas, é um motor que precisamos consertar para nos assegurar de que o elevador social volte a funcionar bem”.

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