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COP25

2019 encerra a pior década da crise climática

Organização Meteorológica Mundial alerta que este ano estará entre os três mais quentes já registrados

Manuel Planelles
Crianças brincam em um açude seco na África do Sul.
Crianças brincam em um açude seco na África do Sul.Mike Hutchings (REUTERS)

O ano de 2019 põe fim a uma década sombria na crise climática que atinge todo o planeta, devido ao acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera, segundo a maioria dos cientistas. Assim alerta a Organização Meteorológica Mundial (OMM), que apresentou nesta terça-feira na COP25, conferência realizada em Madri, seu relatório anual sobre o estado do clima.

"2019 encerra uma década de calor global excepcional, perda de gelo e recorde no aumento do nível do mar, impulsionados pelos gases do efeito estufa expelidos por atividades humanas", detalhou a organização. Dois dados específicos dão uma ideia da magnitude do problema: as temperaturas médias para os atuais períodos de cinco anos (2015-2019) e dez anos (2010-2019) quase certamente serão “as mais altas já registradas". E, faltando quase um mês para seu final, este 2019 já é apontado pela OMM como o segundo ou terceiro ano mais quente desde que existem registros confiáveis, a partir de 1850. "O retrato geral não vai mudar", observou Petteri Taalas, secretário-geral da OMM, em referência ao tempo que ainda falta para o final do ano.

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No ano em curso –os dados usados pela organização abrangem de janeiro a outubro–, a temperatura média no planeta esteve aproximadamente 1,1 grau Celsius acima do registrado no período pré-industrial. E as concentrações de dióxido de carbono na atmosfera, que superaquecem o planeta, alcançaram um nível recorde de 407,8 partes por milhão em 2018 e continuaram subindo em 2019.

Taalas alertou que os países não estão no caminho de conseguir limitar o aquecimento a certas margens seguras. O Acordo de Paris determina que esse limite de segurança seria de 1,5°C a 2°C em relação aos níveis pré-industriales. Acima disso, os impactos do aquecimento serão mais duros, na forma, por exemplo, de fenômenos meteorológicos extremos mais frequentes e intensos. Para cumprir o Acordo de Paris, recordou Taalas, é preciso que até 2050 o saldo líquido das emissões caia a zero, uma meta que a maioria dos países não assume atualmente. "Estamos nos dirigindo agora a um aumento da temperatura de mais de 3°C até o final do século", observou o diretor da OMM, um organismo vinculado à ONU. "O nível de ambição tem que ser maior", concluiu.

Uma das consequências mais evidentes do aquecimento é o aumento do nível do mar, que "se acelerou desde o início das medições por satélite, em 1993, devido ao derretimento das camadas de gelo na Groenlândia e na Antártida". Em setembro e outubro foram registrados níveis mínimos diários de gelo no Ártico nunca vistos anteriormente.

Os oceanos funcionaram durante décadas como reguladores do clima, ao absorver o calor e o dióxido de carbono. Mas, segundo alerta a Organização Meteorológica Mundial, eles já estão "pagando um alto preço". A temperatura alcança níveis recordes no mar, e a acidificação da sua água cresceu 26% desde o início da era industrial, o que está danificando os ecossistemas marinhos, segundo Taalas.

Fenômenos extremos

A mudança climática não está ligada apenas ao aumento das temperaturas médias, mas também a fenômenos meteorológicos extremos. Por exemplo, as inundações como as vividas neste 2019 no centro dos Estados Unidos, no norte do Canadá, no norte da Rússia e no Sudoeste da Ásia, que "receberam precipitações anormalmente altas". O relatório da OMM faz um repasse das principais inundações deste ano, como as do Irã, que "foi gravemente afetado" em março e abril.

No lado contrário estão as secas que atingiram o Sudeste Asiático e o Sudoeste do Pacífico em 2019. E a OMM põe o foco desta vez nas chamadas secas de longa duração. Um exemplo é a Austrália, país onde muitas zonas do interior registram estiagem aguda desde 2017. No caso da zona central do Chile, aponta o relatório, viveu-se outro ano "excepcionalmente seco".

As ondas de calor também fazem parte do resumo apresentado esta terça-feira. Este fenômeno golpeou especialmente a Europa em junho e julho. "Na França, em 28 de junho se marcou um recorde nacional de 46°C"; também se chegou a temperaturas nunca vistas na Alemanha (42,6°C), Países Baixos (40,7°C), Bélgica (41,8°C), Luxemburgo (40,8°C) e Reino Unido (38,7°C).

Risco para a saúde e a segurança alimentar

A OMM também faz um balanço em seu relatório dos impactos dos fenômenos extremos sobre a saúde humana. E recorda, por exemplo, que a onda de calor de julho no Japão causou "mais de 100 mortes e 18.000 hospitalizações". Na Europa, é mencionada a onda de calor de junho, com as mortes registradas na França e Espanha. A mais mortífera, porém, foi a segunda onda de calor, a de julho. "Nos Países Baixos, ela foi associada a 2.964 mortes, quase 400 a mais que durante uma semana média do verão".

Em relação à segurança alimentar, as secas na África farão que a “produção regional de cereais seja aproximadamente 8% menor que a média dos últimos 15 anos”. “Espera-se que 12,5 milhões de pessoas na região sofram uma grave insegurança alimentar até março de 2020”, adverte a OMM, apontando que a cifra é 10% superior à do ano anterior.

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