Trump para Fernández: “Instruí o FMI a trabalhar com a Argentina”
Presidente dos EUA quebrou o gelo e telefonou na sexta-feira para o próximo mandatário argentino, a quem parabenizou por sua vitória nas eleições
Donald Trump quebrou o gelo com a Argentina. Na tarde de sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos pegou o telefone e ligou para Alberto Fernández, o peronista que foi eleito presidente da Argentina no domingo passado, no primeiro turno, derrotando Mauricio Macri. “Parabéns pela grande vitória. Vimos pela televisão. (…) Instruí o FMI a trabalhar com você”, disse Trump do outro lado da linha, segundo uma transcrição distribuída pela equipe de Alberto Fernández. O fato de Trump ter mencionado o Fundo Monetário Internacional trará alívio ao futuro presidente argentino. O apoio de Trump foi decisivo para que o organismo internacional aprovasse no ano passado um resgate financeiro de 57 bilhões de dólares (227 bilhões de reais) a Macri, uma dívida cujo pagamento o Governo de Fernández deverá renegociar após sua posse, em 10 de dezembro.
Até agora, o tom da relação entre Trump e Fernández era pura especulação. O americano sempre se considerou um amigo pessoal de Macri, com quem havia feito negócios imobiliários em sua juventude. Macri correspondeu às expectativas da Casa Branca com uma política externa alinhada às diretrizes de Washington em assuntos como a condenação ao regime da Venezuela, a luta contra o narcotráfico e a abertura comercial. O novo Governo peronista mudará esses alinhamentos, principalmente em relação à Venezuela. Promoverá, além disso, um novo esquema de integração regional que sirva de contrapeso aos Estados Unidos.
Trump, no momento, optou por um apoio entusiasmado o Fernández. “Você vai fazer um trabalho fantástico. Espero poder conhecê-lo imediatamente. Sua vitória foi comentada no mundo inteiro”, disse-lhe por telefone. Fernández ouviu em seguida a promessa de que o FMI já recebeu a determinação da Casa Branca para trabalhar com a Argentina, o dado político mais significativo do diálogo telefônico.
As negociações com o FMI marcarão a agenda do próximo Governo argentino. Macri tinha admitido, após sua derrota nas primárias de agosto e antes de perder as eleições gerais, que a dívida contraída com o FMI era impagável nos prazos acordados. No final de agosto, pediu que o FMI negociasse novos prazos, mas o organismo preferiu esperar o resultado das eleições e conhecer os planos do novo Executivo. O apoio prometido por Trump será imprescindível se a Argentina pretende quebrar a desconfiança dos integrantes mais duros do Fundo, que prefeririam não ter nada que ver com um Governo peronista.
Fernández atendeu o telefonema de Trump em seu escritório no bairro de San Telmo, em Buenos Aires, transformado até 10 de dezembro no centro da transição de Governo. O argentino lhe pediu para “fazer coisas juntos” e antecipou que sua intenção é manter com os Estados Unidos “uma relação madura e cordial” em torno de “muitos assuntos comuns, no quadro de uma situação complexa em que a Argentina precisa de ajuda”.
Foi um bom começo para Fernández, mas agora dependerá da política que a boa sintonia perdure. Fernández embarcou na noite de sexta-feira para o México, onde terá na segunda-feira um encontro informal com o presidente López Obrador. O próximo Governo argentino pretende somar o México a um novo eixo regional “progressista” que, imagina, será a alternativa natural ao que ele considera uma crise das políticas liberais que hoje dominam a região.
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