Justiça dos EUA condena El Chapo à prisão perpétua por narcotráfico
Tribunal de Nova York também o sentencia a 30 anos por violência com armas e 20 por lavagem de dinheiro
Joaquín El Chapo Guzmán, o cruel líder do cartel de Sinaloa, passará o restante de sua vida isolado em uma prisão de segurança máxima nos Estados Unidos. O juiz de Nova York Brian Cogan o condenou na quarta-feira à prisão perpétua por tráfico de drogas, mais 30 anos de prisão por violência com armas e 20 por lavagem de dinheiro. A sentença não foi uma surpresa levando-se em consideração a gravidade dos crimes cometidos por El Chapo durante as três décadas no comando da maior organização dedicada ao narcotráfico entre o México e os Estados Unidos. Guzmán teve direito a se pronunciar antes de ouvir a sentença judicial, momento em que aproveitou para criticar sua prisão nos EUA, desde a extradição, como “uma tortura psicológica, emocional e mental 24 horas por dia”, e chamou o julgamento de injusto.
El Chapo, de 62 anos, foi preso pela última vez em janeiro de 2016 – antes escapou duas vezes da cadeia – e extraditado um ano depois, em 2017, aos EUA. Um júri popular o declarou culpado em 12 de fevereiro por 10 crimes penais após 11 semanas de julgamento. O mais importante, por dirigir uma organização criminosa. A condenação se completa com outros crimes por distribuição de droga, uso de armas de fogo e lavagem de dinheiro. Apesar da prisão e julgamento de Joaquín Guzmán, o cartel de Sinaloa continua sendo considerado a mais importante organização criminosa dedicada ao tráfico de drogas no México.
O Departamento de Justiça norte-americano queria a prisão perpétua a Guzmán como principal líder do cartel de Sinaloa, e que recebesse mais 30 anos por violência com armas de fogo. Nos EUA basta traficar mais de 150 quilos de cocaína e obter 10 milhões de dólares (37 milhões de reais) com sua venda para ser preso por toda a vida. Das 27 acusações de crimes que o júri popular precisou examinar, estipula-se que El Chapo cometeu 25.
O Governo norte-americano também pediu para recuperar 12,666 bilhões de dólares (47 bilhões de reais) pelos lucros ilícitos que El Chapo obteve graças ao narcotráfico. O cálculo corresponde às quantidades de droga sobre as quais o júri baseou seu veredito a partir das provas apresentadas pela acusação e os depoimentos de 14 testemunhas colaboradoras, como seu ex-sócios Chupeta, Jorge Cifuentes e os irmãos Flores.
Os fornecedores de droga do cartel de Sinaloa relataram durante os três meses de duração do processo como forneceram quantidades maciças de cocaína a El Chapo para que a introduzisse e distribuísse nos EUA. O mexicano tinha a fama de ser o traficante mais rápido e por isso faziam negócios com Guzmán, com quem dividiam os riscos, mas também os lucros.
A Promotoria concluiu que El Chapo traficou durante três décadas 528 toneladas de cocaína, em um valor estimado no mercado de 11,81 bilhões de dólares (44 bilhões de reais). Além disso, somam-se 423 toneladas de maconha, cuja venda gerou 846 milhões de dólares (3,18 bilhões de reais), e 202 quilos de heroína, por 11 milhões (41 milhões de reais). São quantidades provadas e consideradas “conservadoras” em relação ao montante mencionado durante todo o processo.
O júri também determinou que El Chapo conspirou para matar 2 pessoas que representavam uma ameaça ao cartel de Sinaloa, incluindo informantes, membros de organizações rivais, agentes de segurança, associados que o traíram e até familiares.
As provas, como disse o juiz, eram esmagadoras e demonstraram como Guzmán utilizou o sequestro, a tortura e o assassinato como ferramenta para disciplinar os membros da organização e contra os inimigos do cartel.
O julgamento serviu para mostrar detalhadamente como o cartel operava e movimentava o dinheiro para funcionar. Os lucros gerados pela venda da droga eram revertidos em novos carregamentos, dar segurança aos enviados através de subornos às autoridades e financiar as guerras com organizações rivais. Paralelamente, além disso, foram utilizados vários métodos para lavar o dinheiro.
O desafio agora é identificar as propriedades e sociedades utilizadas por El Chapo. Joaquín Guzmán chegou a estar na lista de bilionários da Forbes e vários testemunhas relataram sua vida de novo rico durante o boom da cocaína nos anos oitenta. Mas sua defesa afirma que El Chapo é só um pobre camponês endividado que passou sua vida fugindo da Justiça e que o verdadeiro líder, Ismael El Mayo Zambada, continua foragido. De fato, a defesa de El Chapo tentou desmontar a acusação do Governo norte-americano dizendo que seu processo era uma conspiração com as autoridades mexicanas para manter Ismael Zambada no comando.
Ambição
O caso demonstrou também como a sede de notoriedade e a ambição de El Chapo por controlar tudo acabaram transformando-se em sua maior vulnerabilidade. É o que o colocou nas mãos da Justiça norte-americana. Alguns de seus colaboradores foram sentenciados recentemente, como Vicente Zambada Niebla, que, entretanto, se beneficiou com uma redução importante de sua condenação por cooperação no processo. Assim como Edgar Galván.
A atenção da Justiça dos EUA se dirige agora aos Chapitos. Um dia depois do veredito de 12 de fevereiro em que o júri popular declarou El Chapo culpado, foram apresentadas acusações contra os dois filhos de Guzmán, Joaquín e Ovidio. Os dois irmãos ainda precisam ser presos para poder ser extraditados aos EUA e submeter-se a julgamento na corte federal no distrito de Columbia. As acusações foram apresentadas baseando-se no depoimento dos colaboradores.
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