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Um Djokovic de titânio bate Federer

Número um se impõe a Federer na final mais longa da história de Wimbledon, após salvar dois match points. Conquista seu 16º torneio de Grand Slam, o quinto em Londres

Djokovic celebra seu triunfo contra Federer.
Djokovic celebra seu triunfo contra Federer.Clive Brunskill (Getty)
Alejandro Ciriza

Novak Djokovic bate no peito como Tarzan, porque acaba de desembaraçar o novelo e acabar com a agonia de uma tarde épica. Acaba de se impor diante do majestoso Roger Federer na final mais longa da história de Wimbledon – 7-6, 1-6, 7-6, 4-6 e 13-12, em 4h57m, superando dessa forma as 4h48m entre o suíço e Rafael Nadal em 2008 – e obtém assim um triunfo que já o faz levitar com 16 taças de Grand Slam, cinco delas conquistadas no santuário britânico. E acelera a corrida para ser o tenista mais vencedor e derrota Federer pela terceira vez em uma final de Londres, também pela terceira ocasião em um duelo decisivo terminado após uma maratona de cinco sets.

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Não haviam se passado cinco minutos e a pele dos presentes já havia arrepiado. Cabelos em pé na Catedral. Federer começou produzindo zumbidos, esse som persuasivo que se ouve cada vez que seu cordame solta um revés seco e trisca repetidamente o topo da rede. Então se escuta o murmúrio, porque a carícia não é mais do que a antessala da intervenção violenta de sua direita, sempre afiada e sempre cortante, Djokovic que o diga. O homem de borracha cansou de se contorcer para devolver todas e cada uma das bolas da primeira parcial, jogando ao ritmo imposto pelo suíço e encantado pela magnifica exibição de habilidades do rival.

Disputava duas partidas ao mesmo tempo. Diante dele estava Federer, e por dentro os demônios tentando abrir o cadeado e escapar da jaula, porque a arquibancada torcia descaradamente por seu adversário e ele, pessoa de caráter, mas também muito orgulhoso, fica bem irritado com isso. O homem de Basel o castigava com slices de efeito e golpes milimétricos, planos e angulados em profusão, mas ele chegava em todos, uma ode à elasticidade. Não há tenista que domine essa faceta como o de Belgrado, que resistiu ao assédio e salvou um game envenenado para guiar a disputa a um pântano enganoso, um tie break resolvido a seu favor após uma mudança dupla de ritmo.

Djokovic esconde mil truques na manga, e ainda que tenha caído na armadilha – de 3-1 a favor a 4-5 adverso – o ardil lhe saiu bem: envolveu Federer e virou o set (7-5), infligindo teoricamente maior dano. Já com um set de desvantagem, muitos previam uma queda física e psicológica do suíço que não veio, porque longe de desmontar o rei da grama reagiu como um furacão: queda de adrenalina do adversário e 25 minutos de tênis orgástico. O duelo retornava então ao ponto de partida e a sequência teve os mesmos parâmetros, Federer tentando aprofundar e Djoko, eterno insurgente, excepcional na devolução.

Surgiu o competidor feroz, o combatente aguerrido que não se curva nunca por pior que a situação esteja, e resolveu uma situação limite que desequilibrou novamente a partida. Com 5-4 e Federer tocando com a ponta dos dedos seu segundo set, deu um saque soberbo e apagou as chamas. Djokovic domina todas as leis, mestre do resto e de tantas outras variáveis, o tenista total que talvez não tenha o carisma de Nadal e o virtuosismo inato de gênio, mas que possui mais ferramentas do que qualquer um porque conjuga pausa, aceleração e personalidade: técnica, físico e um caráter indômito; atributos do tênis clássico com a velocidade da modernidade.

Voltou a vencer o desempate (7-4) e então a Catedral se pronunciou novamente sem nenhum tipo de contenção: “Let’s go, Ro-ger, let’s go!”. E o Aladdin da raquete, sempre fiel ao chamado de seus fiéis, se refez pela segunda vez. Duas quebras no quarto set, tirando partido de outra indecifrável queda de Djokovic, e caminho traçado à comemoração final. Quinto set. Bofetada de Djokovic e resposta imediata (4-3). Mirka Vavrinec, esposa e maior de fã de Federer, não conseguia olhar, com o coração na boca durante a troca de bolas. O suíço voltou a quebrar o saque e parecia ter resolvido a partida, mas de repente teve um apagão e Djokovic salvou dois match points, contra-atacando com outra quebra (8-8).

Federer devolve de revés durante o final.
Federer devolve de revés durante o final.Laurence Griffiths (Getty)

Mais dinamite. Antes, com 6-5, Djoko se confundiu e perguntou ao juiz se havia desempate. Depois, com 11-11, salvou uma dupla quebra e recebeu as vaias da torcida, e um aviso do árbitro após bater em um microfone ambiente. A tensão disparou a mil em Wimbledon, mas o balcânico de sangue quente se manteve frio como gelo e o imutável Federer perdeu a precisão. Devolveu a bola com o cabo, em forma de home-run, e a interminável final caiu do lado do campeão de titânio após o desempate (7-3), pela primeira vez após o inédito limite de 12-12.

Já são 16 títulos de Grand Slam para Djoko, cinco deles em Londres. Os mesmos que um tal Björn Borg, mas isso para ele não basta: Djokovic só quer ser o melhor.

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