Conservadores buscam precipitar queda de May para evitar novo referendo sobre o ‘Brexit’
Primeira-ministra cogita apresentar sua demissão nesta sexta-feira, segundo o jornal ‘The Times’
Desta vez parece definitivo. Theresa May considera seriamente a ideia de apresentar sua demissão nesta sexta-feira, 24, depois de uma humilhante reunião com o poderoso Comitê 1922, conforme antecipou o jornal The Times, embora sem citar nada além de supostos “aliados” da primeira-ministra. O comitê reúne todos os deputados conservadores que não têm cargos no Governo. São a maioria da bancada partidária, e têm total liberdade para atuar, porque não se espera nem se exige deles que tenham lealdade ou disciplina de voto. Se finalmente apresentar sua renúncia, será 24 horas depois da eleição para o Parlamento Europeu, que acontece nesta quinta-feira em todo o Reino Unido, e na qual as pesquisas apontam uma derrota histórica dos conservadores. Oficialmente, os resultados só serão anunciados por volta das 18h de domingo (hora de Brasília), para respeitar as votações nos demais países da UE, mas é indubitável que o entorno de May terá conhecimento interno do nível da catástrofe.
O resultado das eleições europeias pode ser o arremate da crise que espreita a equipe de Downing Street, mas não a razão principal da previsível saída de May. Esta se encontra em seu último e desesperado esforço para salvar seu plano do Brexit, com a oferta de um possível segundo referendo e uma união alfandegária temporária com a UE. São duas concessões à oposição trabalhista, em que May decidiu se apoiar para conseguir aprovar seu texto em 7 de junho, mas com isso ela se pôs em pé de guerra com os eurocéticos conservadores.
Em circunstâncias anteriores, a revolta dos eurocéticos já era dada como um fato consumado e não representou perigo para a primeira-ministra. Em dezembro passado ela superou uma moção de censura interna, e, segundo os estatutos do partido, ninguém pode voltar a tentar derrubá-la no prazo de um ano. Mas as novas circunstâncias não são normais. O rechaço generalizado à sua nova proposta foi imediato, e a especial gravidade da reação interna se plasmou na sessão de controle do Parlamento nesta quarta-feira, quando metade dos ministros estava ausente do plenário.
Andrea Leadsom, a ministra de Relações com a Câmara dos Comuns, demitiu-se logo depois. Ela foi a principal rival de May na disputa pela liderança dos tories depois da demissão do ex-premiê David Cameron, provocada pelo resultado do referendo de 2016 em que os britânicos decidiram retirar seu país da União Europeia. Até agora, apesar de ser uma das vozes eurocéticas mais duras dentro do Gabinete, mantinha-se fiel. O revide da primeira-ministra com a oferta de um possível segundo referendo foi a gota d’água para ela. Leadsom seria a responsável por protocolar a proposta nesta sexta-feira no Parlamento, mas optou por renunciar para não violar seus princípios. “Não acredito que o Reino Unido continue sendo um país soberano depois da última oferta de pacto que se acaba de oferecer”, escreveu a May numa carta de demissão respeitosa, mas duríssima.
A primeira-ministra está encurralada e foge do contato direto com os membros de seu Governo. Até três deles, segundo a imprensa britânica, a procuraram para tentar convencê-la a não apresentar o texto ou abandonar o cargo, segundo algumas versões. O ministro do Interior, Sajid Javid, o de Relações Exteriores, Jeremy Hunt, e o de Relações com a Escócia, David Mundell, depararam-se com a recusa em serem ouvidos. Este último expressou seu temor de que a ideia de um segundo referendo inflame o desejo independentista escocês.
Michael Gove, o ministro para o Meio Ambiente e um dos futuros candidatos à liderança dos tories, foi incapaz, nesta quinta-feira, quando questionado por jornalistas, de assegurar que o Governo protocolaria a nova proposta no Parlamento, apesar do anúncio feito horas antes pela própria May. Àquela altura, já tinham começado as manobras internas para impedi-la.
A primeira-ministra ofereceu sua futura demissão em troca de que Westminster aprove seu plano para o Brexit. Pouco depois, comprometeu-se a marcar data para sua retirada depois dessa nova votação, independentemente do resultado. Até agora, ela retinha o controle do calendário. Nas últimas horas, ficou claro que já não conserva nenhum rastro de autoridade, e que os conservadores decidiram precipitar uma substituição que lhes permita aproveitar o tempo restante até 31 de outubro, última data do Brexit concedida por Bruxelas, para reverter a situação e recuperar apoio eleitoral.
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