Possível mobilização militar dos EUA no Oriente Médio eleva tensão com o Irã
Trump desmente que haja planos de enviar mais tropas à região neste momento, mas anuncia retirada de funcionários da embaixada norte-americana em Bagdá
A tensão entre o Irã e os Estados Unidos aumenta a cada dia. Ao envio de um novo navio de guerra por parte de Washington, na sexta-feira passada, 10, somaram-se nesta semana os rumores sobre uma possível mobilização militar adicional, suficiente para disparar os alarmes. Na noite de segunda-feira, 13, o jornal The New York Times noticiou que o Pentágono já discutiu um plano que contempla o envio de até 120.000 soldados ao Oriente Médio se o Irã realizar algum ataque ou acelerar o desenvolvimento de seu armamento nuclear, o que reverteria a tendência de retirada na zona nos últimos anos. Donald Trump desmentiu essa versão na terça-feira, mas não com o objetivo de reduzir a tensão. “Acho que é mentira, certo? Agora, se eu faria isso? Claro que sim, mas não planejamos. E, se fizéssemos, enviaríamos muito mais tropas que essas”, disse o presidente a repórteres na Casa Branca.
O artigo do NYT falava de uma reunião mantida na semana passada para atualizar o plano militar sobre o Irã, a pedido do assessor de Segurança Nacional John Bolton, sem estar claro se Trump tinha sido já informado a respeito. O Irã é uma velha obsessão de Bolton, que por sua vez é um velho conhecido em Washington, pois foi um dos falcões da invasão do Iraque durante a presidência de George W. Bush. Os ecos daquele conflito ecoaram nos últimos dias nos Estados Unidos.
Teerã, por sua vez, brinca com fogo. No mês passado, ameaçou fechar o estreito de Ormuz, um canal essencial para o comércio petrolífero global, se os Estados Unidos aplicarem mais sanções ao seu petróleo (Washington revogou certas isenções). No começo de maio, além disso, anunciou que cogitava reduzir seu grau de cumprimento do acordo nuclear de 2015, negociado com seis potências mundiais, que levaria à paralisação do programa nuclear da República Islâmica em troca da suspensão das sanções internacionais.
Os EUA, artífices daquele acordo, o abandonaram depois da posse de Trump como presidente, mas os outros signatários – Reino Unido, França, Alemanha, Rússia e China – se mantinham no pacto. O presidente iraniano, Hasan Rohani, especificou que seu país passaria a ignorar os limites aos estoques de urânio enriquecido e água pesada, e que daria um prazo de 60 dias para que os países envolvidos no acordo procurassem uma fórmula através da qual o Irã pudesse continuar vendendo petróleo e realizando transações bancárias. A União Europeia rejeitou o ultimato, mas a instabilidade abre fissuras entre os aliados. A Espanha já decidiu retirar do golfo Pérsico a sua fragata Méndez Núñez, do grupo de combate dos EUA.
Retirada de funcionários da embaixada no Iraque
Em um reflexo dessa tensão com o Irã, o Departamento de Estado dos EUA ordenou que todo o pessoal não essencial deixe a embaixada norte-americana em Bagdá, no Iraque, e o consulado em Erbil. A emissão de vistos nesses estabelecimentos diplomáticos está temporariamente suspensa, segundo nota da Embaixada.
Esse comunicado, que não explica o motivo das medidas, alerta que a capacidade de prestar serviços de emergência aos cidadãos norte-americanos no Iraque será "limitada" enquanto durar a suspensão. A Embaixada recomendou a seus cidadãos que saiam do Iraque "assim que possível", usando meios de transporte comerciais, e também que evitem instalações norte-americanas no país, revisem seus planos de segurança pessoal e fiquem atentos aos meios de comunicação locais.
A atual crise entre Washington e Irã provoca grandes repercussões no vizinho Iraque. Na última semana, os EUA enviaram ao golfo Pérsico seu porta-aviões USS Abraham Lincoln, o navio de assalto anfíbio USS Arlington, além de mísseis Patriot e bombardeiros, depois de denunciar "indícios" de planos ofensivos iranianos contra suas forças e interesses no Oriente Médio.
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