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Briga patética entre dois heróis olímpicos

Os maratonistas Mo Farah e Gebrselassie se envolvem em acusações mútuas por furto em um hotel

Mo Farah, em Londres
Mo Farah, em LondresNigel Roddis (Getty)

As corridas de fundo seguem um ritmo, mas são resolvidas no sprint, como se costuma dizer. Ou em um ringue, a socos, acrescenta-se agora quando se contempla o imbróglio terrível e desesperador em que se envolveram Haile Gebrselassie e sir Mo Farah, dois dos mais venerados atletas de provas de fundo.

O mundo do atletismo assiste com a boca aberta, entre surpreso e entristecido, a uma luta entre campeões cujas razões ninguém entende e ninguém sabe aonde vai parar, e que começou quarta-feira, 24, na coletiva de imprensa prévia à Maratona de Londres, que será disputada no próximo domingo e tem Farah como um dos favoritos. Nela, sem que fosse o caso e sem que ninguém lhe perguntasse, Farah, britânico, 36 anos, começou a contar que se preparou durante três meses na Etiópia, e que no dia do seu aniversário, em 23 de março, lhe furtaram do quarto do hotel Yaya Village, 3.000 dólares (cerca de 12.000 reais), dois telefones e um relógio Tag Heuer que sua mulher lhe dera de presente. "E o pior", acrescentou, "é que Gebrselassie, que é o dono do hotel, não fez nada para me ajudar. Nem respondeu as minhas mensagens. E eu só quero que ele assuma a responsabilidade pelo roubo".

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Ao ataque direto, que considerou gratuito, Gebrselassie, de 46 anos, respondeu alguns minutos mais tarde com um comunicado em que desmentia que tivesse sumido. Disse que cooperou com a polícia e teve de aguentar a irritação de seus funcionários porque cinco deles foram detidos por três semanas numa delegacia de polícia até que sua inocência foi comprovada. Afirmou ainda que Farah é um ingrato, pois lhe deu um desconto de 50% e, apesar disso, ele havia saído sem pagar os extras de sua hospedagem, que chegavam a 3.000 dólares. "E a única mensagem que recebi dele pareceu antes de tudo uma ameaça, uma chantagem", acrescentou. Dizia: 'Querido Haile, quero informá-lo de que estou muito decepcionado que você não tenha feito nenhum esforço para encontrar o dinheiro roubado nem, especialmente, o relógio ... Você tem que saber que não sou responsável pelo que disser na coletiva de imprensa de Londres nem como isso pode influenciar na sua personalidade ou nos seus negócios. Saudações de um amigo muito desapontado. Sir Mo '".

E, não contente com isso, Gebrselassie, um dos maiores na história do atletismo da Etiópia, da estirpe de Abebe Bikila e Kenenisa Bekele, e também empresário de sucesso, continuou com dureza seu contra-ataque, recordando como justamente ele havia livrado Farah de uma prisão policial algumas semanas antes. Gebrselassie diz que, estando na academia um dia em janeiro, Farah ficou furioso com um casal e o agrediu a chutes. “A polícia o queria prender, mas eu lhes pedi que não fizessem isso.”

As relações de Farah, herói dos Jogos de Londres, com a imprensa britânica não poderiam ser definidas como fluidas. Recentemente a mídia recordou que o atleta, que chegou da Somália, fugindo da guerra quando era criança, gosta de se cercar de personalidades suspeitas por suas ligações com doping, como Alberto Salazar, o treinador com quem se prepara na Califórnia, ou Jama Aden, o técnico de origem somali detido há alguns anos pela Polícia da Catalunha em Sabadell em uma operação contra o doping.

Quanto à acusação de ter agredido um casal, Farah disse por meio de seu advogado: "Um etíope estava zombando dos exercícios de Mo na academia e tentou agredir seu colega de treino. Mo o defendeu, soltando o punho, mas depois teve de se defender de uma mulher que o atacou armada de halteres".

Os fãs costumam avaliar os seus heróis por suas marcas e títulos, a lembrar a maratona de 2h3m59s de Gebre, de 2h5m11s de Mo; os quatro títulos olímpicos e seis mundiais nos 5.000m e 10.000m do britânico, os dois e cinco do etíope. Agora, perplexa, esquece os cronômetros e as medalhas, e espera segurando a respiração para ver quem vai dar o golpe do nocaute.

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