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Três dos melhores alpinistas do mundo morrem soterrados por avalanche no Canadá

Autoridades consideram mortos os austríacos David Lama e Hansjörg Auer, e o norte-americano Jess Roskelley

David Lamba, escalando em Stubai (Áustria) em 2018.
David Lamba, escalando em Stubai (Áustria) em 2018.Manuel Ferrigato (Red Bull)

Não foram encontrados os corpos dos alpinistas austríacos David Lama e Hansjörg Auer e do norte-americano Jess Roskelley, mas o pai deste último, John Roskelley, sabe que a perda é irremediável: “Sei que meu filho não voltará. Empreendeu uma escalada em uma montanha na qual se as condições não são perfeitas, se transforma em um pesadelo”, disse na quarta-feira ao diário The Spokesman Review, horas depois de avisar os serviços de emergência que operam em Icefields Parkway, em Alberta (Canadá). O filho prometeu ligar para ele na terça-feira, mas não o fez. O trio seguia uma rota no Howse Peak, um lugar especialmente sensível ao risco de avalanches. Um helicóptero dos serviços de resgate conseguiu ver três avalanches e, em uma delas, restos de material de escalada e um corpo semisoterrado. Agora esperam que o risco de avalanches diminua para buscar os restos mortais dos três alpinistas de elite, a verdadeira ponta de lança do montanhismo de vanguarda.

John Roskelley, o pai de Jess, é um dos legendários alpinistas norte-americanos dos anos setenta e oitenta, autor, entre outras grandes ascensões, de uma impressionante escalada da face noroeste do Nanda Devi, um dos picos mais altos do Himalaia, e da primeira ascensão da Grande Torre Trango, no Paquistão. Seu filho pegou o bastão para se tornar igualmente um alpinista enorme logo depois que ambos escalaram o Everest juntos, em 2003. Jess era então a pessoa mais jovem a chegar ao topo do mundo. Aos 36 anos, ele fazia parte da equipe de atletas da The North Face, exatamente a mesma equipe de Lama e Auer. Jess cresceu convencido de que não seria montanhista: havia visto sua família sofrer por causa do compromisso do pai com as montanhas, e o equilíbrio de uma vida familiar ligada às montanhas lhe parecia utópico. Mas logo entendeu a paixão do pai e se lançou atrás de seus passos.

Durante uma visita a Bilbao há três anos para explicar sua paixão pela escalada sem corda, Hansjörg Auer olhava uma noite os callos [prato à base de tripa] servidos em seu prato. Estava com medo de experimentá-los, uma ironia para um homem que escalou sem corda a terrível via dolomítica Attraverso il Pesce logo depois de ter prometido ao irmão que nunca mais escalaria sem corda. Auer era um superdotado, capaz de escalar picos virgens de 7.000 metros, encarar rotas de misto extremo, alcançar o nono grau em escalada esportiva ou voar de parapente de uma montanha para outra para ligar ascensões em solo integral. Os irmãos alaveses Iker e Eneko Pou, da mesma equipe, lembram-se dele assim: “Acima de tudo, perdemos um grande amigo com quem compartilhamos duas expedições. Era, junto com David Lama, um dos melhores alpinistas que conhecemos em nossa carreira”.

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Austríaco como Auer, mas de pai nepalês, Lama realizou em 2012 um marco na história da escalada: conseguiu fazer uma escalada livre [usando apenas mãos e pés] na rota do Compressor do Cerro Torre, na Patagônia argentina. Recentemente, tinha divulgado um vídeo mostrando suas grandes ascensões de 2018, incluindo o cume do Lunag Ri, na fronteira entre o Tibete e o Nepal, sozinho. Tanto ele como Auer eram a ponta de lança de um alpinismo profundamente ético que não desdenhava do treinamento científico e rigoroso: ser mais rápidos, mais ligeiros, mais eficazes para sobrevoar as montanhas sem se exporem a esse tipo de perigos finalmente caçaram suas vidas.

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