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“Bonucci diz o que muita gente pensa: os negros merecem o que acontece com eles”

O ex-jogador francês Thuram critica o zagueiro italiano por suas palavras após o episódio de racismo sofrido por seu colega de equipe, Moise Kean

Lilian Thuram, ex-jogador da seleção francesa.
Lilian Thuram, ex-jogador da seleção francesa.ALEJANDRO GARCÍA (EFE)
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O caso de racismo sofrido por Moise Kean domingo passado, no jogo entre Juventus e Cagliari, continua dando o que falar. O atacante italiano, ao marcar um dos gols da vitória do líder do Campeonato Italiano, recebeu insultos racistas ao comemorar na frente da torcida adversária. Foram muitas as manifestações de apoio que o jovem italiano recebeu desde então. Colegas de profissão como Paul Pogba, Sterling, Yaya Touré, Kevin Prince Boateng e Mario Ballotelli condenaram o episódio. Mas entre todas as expressões se destaca, por sua contundência, a do ex-jogador francês Lilian Thuram, de 47 anos. No jornal Le Parisien, Thuram mostrou sua rejeição pelo insulto e criticou duramente o defensor da Juventus Leonardo Bonucci pela falta de fibra ao falar do caso e por dividir a culpa com os torcedores e com o próprio Kean após o jogo. "Eu acho que ele tem 50% de culpa, porque Moise não deveria comemorar diante da torcida adversária", disse o zagueiro italiano.

“Bonucci diz basicamente o que muita gente pensa: que os negros merecem o que acontece com eles. A pergunta correta para Bonucci seria: o que Kean fez para merecer tanto desprezo? [Bonucci] não disse para os torcedores que estão errados. O que fez foi dizer a Kean que ele estava provocando. A reação de Bonucci é tão violenta quanto os insultos. É como acontece quando uma mulher é estuprada e algumas pessoas falam sobre a forma como estava vestida. Por causa dessas pessoas é que as coisas não vão para frente”, disse Thuram ao Le Parisien.

Kean, filho de imigrantes da Costa do Marfim, suportou durante todo o jogo os cantos racistas procedentes da “curva norte”, onde ficam os torcedores extremistas do Cagliari. Quando marcou o gol que decidiu a vitória da Juve, já na reta final da partida, ele se posicionou diante dos torcedores com os braços em cruz, numa atitude desafiadora. Na coletiva após o jogo, Bonucci dividiu a culpa entre os torcedores e o próprio Kean, por seu gesto. “Houve um buuu racista depois do 2 a 0, mas Kean deve se conter mais e pensar em comemorar com o time. Os jogadores devem dar o exemplo aos torcedores, não devem fazer essas coisas. Kean errou, e a torcida errou”, disse o defensor italiano. Depois quis suavizar as declarações. “Após 24 horas, quero esclarecer meus sentimentos. Ontem me entrevistaram no final do jogo, e minhas palavras foram claramente mal interpretadas, provavelmente porque me apressei na forma de expressar meus sentimentos. Horas e anos não seriam suficientes para falar sobre esse tema. Condeno todas as formas de racismo e discriminação. Certas atitudes são sempre injustificáveis, e não pode haver mal-entendidos sobre isso”, escreveu Bonucci no Instagram, acompanhando suas palavras com uma foto em que abraça Kean.

Mas a retificação do zagueiro italiano não é suficiente para Thuram: “Os comentários de Bonucci são vergonhosos. Devemos ser claros sobre o racismo. Os jogadores que não sofrem racismo devem estar em solidariedade com seus companheiros de equipe. Essas vaias representam o desprezo a todas as pessoas, incluindo as crianças, que têm a cor da pele de Kean.” Thuram também parabenizou Kean por sua atitude. “Fez muito bem ao manter o orgulho e a retidão na adversidade. Convido todas as pessoas negras a fazer o mesmo e exigir respeito quando as pessoas como Bonucci querem o pior para elas.”

Por último, Thuram criticou o papel das instituições nos casos de racismo. “O árbitro interrompeu o jogo? Algo foi feito? Isso acontece há anos. Todos dizem que vamos interromper o jogo da próxima vez, mas não é assim. A realidade é que as autoridades do futebol não se importam. Se realmente se incomodassem com isso, o jogo seria interrompido. O time teria deixado o campo e teríamos encontrado uma solução”, concluiu.

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