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Sandy & Junior, produto nostálgico sob medida para os ‘millennial’

O fenômeno se cola à tendência de "re-branding" para uma geração ávida por rememorar experiências comuns e com mais dinheiro para pagar por isso

A dupla Sandy e Junior.
A dupla Sandy e Junior.César Fonseca (Divulgação)

Tudo começou com os rumores no início de fevereiro, até que veio a confirmação de que este outono não será sempre igual aos outros. A dupla de cantores mais icônica dos anos 1990, Sandy & Júnior, voltará a dividir os palcos para comemorar 30 anos desde sua primeira apresentação. A confirmação das datas da turnê Nossa História (que terá 10 shows) fez sorrir o coração dos millennials (esses jovens adultos nascidos entre 1979 e 1995), que fizeram filas reais e virtuais na terça-feira para garantir um dos ingressos na pré-venda. Em poucos minutos —e com mais de 180 mil pessoas na fila online—, as entradas disponibilizadas com exclusividades para clientes do cartão da Caixa Econômica Federal estavam esgotadas. Nas redes sociais, cambistas negociavam ingressos de até mil reais. Para a pré-venda presencial, fãs passaram a noite na fila (as vendas para o público geral começaram à meia-noite desta sexta-feira e esgotaram em menos de meia hora). 

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O fenômeno prova que a paixão por Sandy & Júnior nunca foi lenda —graças, em grande parte, ao fervor dos frequentadores de karaokês, que nunca deixaram de homenagear os hits da dupla. Além das emoções que os irmãos despertam, especialistas explicam que a nostalgia tem um papel fundamental nesse fenômeno. O dossiê BrandLab - The Millennial Divide, elaborado pelo Google, indica, por exemplo, que os millennials entre 25 e 34 são os que mais consomem conteúdos relacionados aos anos 1990 no YouTube.

Os avanços tecnológicos e, em consequência, a rapidez com que novas marcas, bandas, filmes, produtos e experiências vêm e vão nos dias atuais são algumas das causas disso. "Nos anos 1990, a relação emocional que se criava com uma banda, uma série ou uma marca era muito maior. E esse vínculo era compartilhado: todos os amigos ouviam, assistiam, usavam a mesma coisa. Você assistia uma série durante 10 anos e, quando ela acabava, ficava desesperado", diz Henrique Diaz, diretor de planejamento da Box 1824, uma agência de pesquisa de tendências de consumo. Hoje —com a abundância de oferta de música, cada pessoa consome um produto, surgem mil músicas a cada semana e séries são maratonadas em poucos dias até que comece a próxima que "você tem que assistir"— tudo é mais efêmero, explica ele.

Daí nasce o conceito de retro branding, a renovação ou relançamento de uma marca de produtos ou serviços de um período histórico atualizada a padrões contemporâneos de performance, funcionalidade e gosto. "É por isso que hoje entramos em uma loja de roupa ou de tênis e parece que estamos em 1994", acrescenta Diaz.

"Sandy & Júnior não só cantaram músicas que marcaram essa geração, como também criaram uma marca com diferentes significados que se insere nesse conceito do retro branding", comenta Cecilia Troiano, psicóloga e diretora da consultoria TroianoBranding. Ela pondera, no entanto, que o apego nostálgico não é exclusivo dessa geração de jovens. "Os baby boomers [nascidos entre 1946 e 1964], por exemplo, continuam sendo fãs de Paul McCartney".

A diferença, afirma Diaz, é que os millennials podem pagar para viver essa nostalgia. "É uma geração que tem menos filhos, não priorizou a construção de uma família e, em consequência, pode investir mais em si mesma", diz. O especialista explica que mesmo um millennial que não é muito bem sucedido financeiramente tem a possibilidade de morar com os pais —um de cada quatro jovens de 25 a 34 anos ainda vive com a família— e, por isso, tem mais dinheiro para gastar como quiser, em produtos e experiências. É a filosofia do "vamos curtir" (ou no caso, "vamos pular").

Outro fator que contribui para o (re)ssurgimento de Sandy & Júnior como fenômeno musical é a sofrência da vida adulta —para os acadêmicos, adulting, esse eterno fingir que já se é um adulto responsável simplesmente por ter que limpar o próprio banheiro, fazer um macarrão para levar de marmita para o trabalho e pagar os boletos. "Há uma fuga da maturidade", diz a psicóloga Giovana Zaparoli. Ela e outros colegas ponderam que a entrada dos millennials na vida adulta aconteceu em momentos traumáticos na história global, como o atentado de 11 de setembro, nos EUA, ou as recessões econômicas em diferentes países. Para eles, a década anterior a esses eventos era uma "era da inocência".

“Não deveria ser uma surpresa que eles estejam escavando a nostalgia no meio de uma severa recessão econômica”, diz o escritor Jeff Gordinier, autor do livro X Saves the World, não publicado no Brasil, em entrevista ao The New York Times. “A nostalgia conforta as pessoas e os millennials provavelmente desejam conforto agora”, acrescenta.

Zaparoli faz uma analogia com a tensão política e social que temos vivido nos últimos anos no Brasil. "Esse sentimento se acentua em momentos de crise. Da mesma forma que é comum voltar para casa, para o colo da família, quando nos sentimos mal, buscamos essa sensação com experiências como um show que fez parte da nossa infância", completa a psicóloga. E quem nunca gostou de Sandy & Júnior, não é mesmo?

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