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OCDE reduz fortemente a previsão de crescimento da zona do euro em 2019

Maiores afetados pela freada no continente serão a Alemanha, que crescerá muito devagar, e Itália, que continuará em recessão técnica

Silvia Ayuso

Não resta muita coisa daquela “aterrissagem suave” prevista pela OCDE há apenas três meses – pelo menos para a zona do euro, constante área de turbulências, entre outros motivos por causa do Brexit, que se refletirá neste ano em um crescimento de apenas 1%, bem mais fraco do que inicialmente previsto (1,8%, segundo os dados de novembro). Mas não é só isso: a Itália, diz a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, um grupo que reúne nações de médio e alto desenvolvimento) em sua revisão trimestral das perspectivas econômicas globais, continuará em recessão técnica neste ano, confirmando assim os temores de Roma.

Contêineres no porto de Valência
Contêineres no porto de Valênciamónica torres

Em nível global, as tensões comerciais e a “persistente” incerteza política continuam ameaçando uma economia mundial que, em termos gerais, segue sua desaceleração. Segundo a revisão trimestral das previsões econômicas do organismo com sede em Paris, apresentada nesta quarta-feira, 6, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 0,2 ponto percentual a menos que o previsto no relatório de novembro, situando-se em 3,4% em 2020, no que também constitui uma leve revisão para baixo (-0,1 ponto) com relação a três meses atrás.

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Os riscos que podem agravar a desaceleração econômica são, a esta altura, velhos conhecidos: “Novos passos para aumentar as barreiras comerciais, uma incerteza política persistente, um crescimento abaixo da média na Europa, um Brexit turbulento ou uma desaceleração mais forte na China” que a já prognosticada – crescimento de 6,2% neste ano e 6% no próximo –, entre outros, enumera a OCDE.

Há, porém, alguns colchões. “Os mercados de trabalho continuam resistentes no momento, e o crescimento salarial está se recuperando lentamente, amparado pela renda e gasto familiares”, aponta o organismo.

Turbulências na zona do euro

Mais drástica é a revisão da zona do euro, que oferta 0,8 ponto percentual, com uma previsão de crescimento de 1%, e que apenas chegará a 1,2% em 2020. Especialmente dura é a retificação em dois países. Por um lado, a Alemanha, para a qual a OCDE prevê agora um crescimento de 0,7% em 2019 (há apenas três meses ainda previa 1,4%) e de 1,1% no ano que vem. E também a Itália, país que estará em recessão técnica ao registrar provavelmente uma contração de 0,2% neste ano, e uma fraca expansão de 0,5% em 2020.

Entre os principais responsáveis por essa desaceleração mais intensa que o previsto na zona euro a OCDE vê uma produção industrial “especialmente fraca”. A isso se une uma moderação da demanda externa e “fatores excepcionais”, como a “perturbação do setor automobilístico após novos testes de emissões para veículos”. A situação no entanto poderia se prolongar, sobretudo porque “um debilitado crescimento do comércio na zona do euro, uma alta incerteza política e uma confiança moderada apontam para uma desaceleração subjacente da demanda que poderia persistir”.

Os perigos de um ‘Brexit’ duro

E há também o problema do Brexit. Tanto para a Europa como para o próprio Reino Unido, cujas perspectivas de crescimento também foram revisadas para baixo: 0,8% em 2019 e 0,9% em 2020. O que mais preocupa a OCDE – como a todos os Governos da União Europeia – é a possibilidade de um Brexit duro, ou seja, uma saída sem acordo com Londres. Isso, adverte o organismo, “aumentaria de maneira substancial os custos para as economias europeias”.

Apesar de todas as medidas de contingência que possam ser tomadas, “uma separação sem acordo entre a UE e o Reino Unido continuaria sendo uma grande perturbação adversa para a Europa e provavelmente em outras partes no mundo, já que o Reino Unido é um importante sócio comercial para muitos países”, observa o organismo.

Outras economias

Comparado com a Europa, os Estados Unidos navegam por águas mais tranquilas, com um crescimento revisado apenas levemente para baixo, estimado em 2,6% neste ano e 2,2% em 2020. Não obstante, adverte a OCDE, “tarifas mais altas começaram a se somar aos custos empresariais e aos preços, e o crescimento do investimento empresarial e das exportações se moderou”. A mais longa paralisação do setor público na história norte-americana, decorrente da queda-de-braço entre o presidente Donald Trump e os democratas que se opõem à construção de seu muro na fronteira com o México, também passaram fatura à economia norte-americana no primeiro trimestre do ano, embora a OCDE considere que seu efeito será revertido nos próximos trimestres.

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