OCDE reduz fortemente a previsão de crescimento da zona do euro em 2019
Maiores afetados pela freada no continente serão a Alemanha, que crescerá muito devagar, e Itália, que continuará em recessão técnica

Não resta muita coisa daquela “aterrissagem suave” prevista pela OCDE há apenas três meses – pelo menos para a zona do euro, constante área de turbulências, entre outros motivos por causa do Brexit, que se refletirá neste ano em um crescimento de apenas 1%, bem mais fraco do que inicialmente previsto (1,8%, segundo os dados de novembro). Mas não é só isso: a Itália, diz a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE, um grupo que reúne nações de médio e alto desenvolvimento) em sua revisão trimestral das perspectivas econômicas globais, continuará em recessão técnica neste ano, confirmando assim os temores de Roma.

Em nível global, as tensões comerciais e a “persistente” incerteza política continuam ameaçando uma economia mundial que, em termos gerais, segue sua desaceleração. Segundo a revisão trimestral das previsões econômicas do organismo com sede em Paris, apresentada nesta quarta-feira, 6, a economia mundial crescerá 3,3% neste ano, 0,2 ponto percentual a menos que o previsto no relatório de novembro, situando-se em 3,4% em 2020, no que também constitui uma leve revisão para baixo (-0,1 ponto) com relação a três meses atrás.
Os riscos que podem agravar a desaceleração econômica são, a esta altura, velhos conhecidos: “Novos passos para aumentar as barreiras comerciais, uma incerteza política persistente, um crescimento abaixo da média na Europa, um Brexit turbulento ou uma desaceleração mais forte na China” que a já prognosticada – crescimento de 6,2% neste ano e 6% no próximo –, entre outros, enumera a OCDE.
Há, porém, alguns colchões. “Os mercados de trabalho continuam resistentes no momento, e o crescimento salarial está se recuperando lentamente, amparado pela renda e gasto familiares”, aponta o organismo.
Turbulências na zona do euro
Mais drástica é a revisão da zona do euro, que oferta 0,8 ponto percentual, com uma previsão de crescimento de 1%, e que apenas chegará a 1,2% em 2020. Especialmente dura é a retificação em dois países. Por um lado, a Alemanha, para a qual a OCDE prevê agora um crescimento de 0,7% em 2019 (há apenas três meses ainda previa 1,4%) e de 1,1% no ano que vem. E também a Itália, país que estará em recessão técnica ao registrar provavelmente uma contração de 0,2% neste ano, e uma fraca expansão de 0,5% em 2020.
Entre os principais responsáveis por essa desaceleração mais intensa que o previsto na zona euro a OCDE vê uma produção industrial “especialmente fraca”. A isso se une uma moderação da demanda externa e “fatores excepcionais”, como a “perturbação do setor automobilístico após novos testes de emissões para veículos”. A situação no entanto poderia se prolongar, sobretudo porque “um debilitado crescimento do comércio na zona do euro, uma alta incerteza política e uma confiança moderada apontam para uma desaceleração subjacente da demanda que poderia persistir”.
Os perigos de um ‘Brexit’ duro
E há também o problema do Brexit. Tanto para a Europa como para o próprio Reino Unido, cujas perspectivas de crescimento também foram revisadas para baixo: 0,8% em 2019 e 0,9% em 2020. O que mais preocupa a OCDE – como a todos os Governos da União Europeia – é a possibilidade de um Brexit duro, ou seja, uma saída sem acordo com Londres. Isso, adverte o organismo, “aumentaria de maneira substancial os custos para as economias europeias”.
Apesar de todas as medidas de contingência que possam ser tomadas, “uma separação sem acordo entre a UE e o Reino Unido continuaria sendo uma grande perturbação adversa para a Europa e provavelmente em outras partes no mundo, já que o Reino Unido é um importante sócio comercial para muitos países”, observa o organismo.
Outras economias
Comparado com a Europa, os Estados Unidos navegam por águas mais tranquilas, com um crescimento revisado apenas levemente para baixo, estimado em 2,6% neste ano e 2,2% em 2020. Não obstante, adverte a OCDE, “tarifas mais altas começaram a se somar aos custos empresariais e aos preços, e o crescimento do investimento empresarial e das exportações se moderou”. A mais longa paralisação do setor público na história norte-americana, decorrente da queda-de-braço entre o presidente Donald Trump e os democratas que se opõem à construção de seu muro na fronteira com o México, também passaram fatura à economia norte-americana no primeiro trimestre do ano, embora a OCDE considere que seu efeito será revertido nos próximos trimestres.