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Coluna
Artigos de opinião escritos ao estilo de seu autor. Estes textos se devem basear em fatos verificados e devem ser respeitosos para com as pessoas, embora suas ações se possam criticar. Todos os artigos de opinião escritos por indivíduos exteriores à equipe do EL PAÍS devem apresentar, junto com o nome do autor (independentemente do seu maior ou menor reconhecimento), um rodapé indicando o seu cargo, título académico, filiação política (caso exista) e ocupação principal, ou a ocupação relacionada com o tópico em questão

Amor, 2019

Hoje acredito que o que é amor e o que é sexo, e as múltiplas combinações entre ambos, é algo tão pessoal e intransferível quanto a senha do celular

Luz Sánchez-Mellado

Quando era jovem, e tinha mente e quadris mais estreitos, julgava o próximo com a arrogância de uma juíza suprema. Esta é uma fresca, aquele, um sacana; aquela, uma chifruda. Até que certa vez uma cabeleireira, enquanto me fazia mechas, me falou que ficava uma vez por mês com seu ex-marido, de quem se divorciara de uma forma ruim, e se envolviam em consagrações sexuais, sem motivo, às escondidas de seus novos parceiros, com quem estavam felicíssimos. Eu disse que bom, que europeus, que modernos, mas me escandalizei tanto que meu sangue subiu e a vermelhidão chegou ao meu loiro platinado. As coisas estavam mal em casa e eu começava a pôr minhas barbas de molho, para que não me fossem cortadas num golpe só. E me cortaram, é claro. Desde então, tenho me alargado. Na cabeça e no traseiro. Hoje, acredito que o que é amor e o que é sexo, e as múltiplas combinações entre ambos, é algo tão pessoal e intransferível quanto a senha do celular. E que cada um ama como quer ou pode, e ainda bem.

Uma garota de 23 anos me contou que, na idade dela, é mais fácil encontrar alguém para ir para a cama do que para se conhecerem. E depois de passar dos 50, nem te conto. Nos dá mais vergonha, mais preguiça e mais medo tirarmos a máscara o tempo suficiente para que surja algo mais do que estar em pelo na cama com um desconhecido. Culpemos a falta de tempo, o excesso de expectativas, o pavor da rejeição, os celulares inteligentes, mas estamos cada vez mais sozinhos. Hoje é o dia dos namorados, como no filme de Concha Velasco e Tony Leblanc a caminho do altar até que a morte os separe. Era 1959. No Dia dos Namorados em 2019, restaurantes e hotéis estarão lotados e, para a celebração, até o estoque de flores nas lojas vai se esgotar. O que une esses casais é o de menos. Por que dizemos amor quando queremos dizer sexo. e vice-versa? O que importa como chamamos? Enquanto insistimos em nomear tudo, a vida passa e nós a perdemos.

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