_
_
_
_
_

Maduro chama a ajuda humanitária de “show” da oposição venezuelana

Líder chavista não fecha portas a mediação da UE apesar de atacar chefe da diplomacia europeia. Ele descarta a realização de eleições presidenciais

Na foto, Nicolás Maduro durante entrevista coletiva na sexta-feira. Em vídeo, Maduro responde ao jornalista do EL PAÍS Javier Lafuente.Vídeo: A. MARTÍNEZ (REUTERS) | EPV

“Um show”. Foi assim que nesta sexta-feira Nicolás Maduro chamou a intenção da oposição, com ajuda dos EUA e da Colômbia, de levar ajuda humanitária à Venezuela. Um extremo que o líder chavista rechaçou taxativamente, da mesma forma que qualquer negociação que não seja a proposta por México, Uruguai e os países do Caribe. Maduro, que não fechou as portas a uma mediação da União Europeia apesar dos ataques feitos à chefe da diplomacia europeia, Federica Mogherini, descartou a realização de eleições presidenciais, como exigem todos os grupos internacionais que procuram uma saída à crise na Venezuela.

Mais informações
União Europeia lança missão diplomática venezuelana sem ter apoios claros
Venezuela, o dilema de um país com dois presidentes numa nação desgovernada

O choque entre o chavismo e a oposição esperado há dias pelo envio de ajuda humanitária ganha mais força com o passar do tempo. A chegada dos primeiros caminhões com alimentos e remédios aos centros de aprovisionamento da cidade fronteiriça de Cúcuta, na Colômbia, coincidiram com o fechamento da ponte de Tienditas por parte das autoridades venezuelanas. O aumento da tensão também é dialético. “A Venezuela não permitirá o show da ajuda humanitária falsa, porque não somos mendigos de ninguém”, disse Maduro em uma entrevista coletiva em Caracas.

Para o líder do chavismo, não existe a emergência humanitária e a escassez de alimentos e remédios. Maduro disse que esse discurso “foi fabricado em Washington para intervir” e é “o expediente que completa a intervenção”. Voltou a insinuar a ideia de que, por trás dos comboios que a oposição pretende trazer ao país, se esconde uma ingerência militar por parte dos EUA, uma ideia que a oposição ao chavismo — sabendo do repúdio internacional que isso teria — se esforçou por desmontar durante toda a semana.

Praticamente ao mesmo tempo, o presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, afirmou que se Maduro não permitir que a ajuda entre no país convocará seus seguidores a abrir um “canal humanitário”. Isso será feito através de uma rede de voluntários que desejarem trabalhar na distribuição de remédios e alimentos e cuja organização começará na sexta-feira, anunciou. “O pedido foi aberto, amplo, a todos os setores: Forças Armadas, incluindo o chavismo”, disse o presidente interino, que afirmou que o carregamento recebido está sendo armazenado e que não tentará fazê-lo entrar na Venezuela até que todos os centros de aprovisionamento estejam lotados. “Virá um tsunami de ajuda aos venezuelanos e poderemos anunciá-lo com alegria nos próximos dias”, disse em Cúcuta o delegado de Guaidó para a entrega dos carregamentos, Lester Toledo.

A premissa para a oposição é clara: dividir os militares e colocar em evidência os que impedirem a entrada. Sobre se estaria disposto a usar a força, Maduro afirmou que impedirá a passagem da ajuda de maneira “legal”.

Diante do choque frontal entre o chavismo e a oposição, respaldada por boa parte da comunidade internacional, Maduro continua aferrado à ideia de procurar uma saída dialogada, ainda que só defenda a tese colocado pelo México, Uruguai e os países do Caribe, esses últimos tradicionalmente aliados de Caracas em troca de regalias do petróleo.

Eleições presidenciais

De qualquer forma, Maduro descartou convocar eleições presidenciais, como pedem todos os grupos que procuram uma solução à crise. O líder chavista tomou posse para um segundo mandato de seis anos em 10 de janeiro e, ainda que segundo o Parlamento e as principais instâncias internacionais esteja usurpando seu cargo após eleições realizadas sob suspeitas de fraude e sem rivais de peso, se recusa a voltar às urnas. Sua única oferta, que já fez anteriormente e reiterou na sexta-feira, é antecipar as eleições legislativas.

“O diálogo precisa ser com agenda aberta, não para impor condições ao país. Quais são as prioridades dos venezuelanos? Realizar eleições? Acho que não”, disse ao ser perguntado sobre o assunto. “Se convocássemos eleições [presidenciais], inventariam qualquer coisa para não participar. Como aconteceu em 2017”, continuou em referência à oposição ao chavismo que se recusou a participar. Essa decisão se deveu, principalmente, à imposição das regras do jogo da convocatória e ao fato de seus principais dirigentes estarem proibidos de concorrer.

Maduro atacou Guaidó e tentou demonstrar que seu desafio não é válido. “Se a palhaçada deles de assumir a presidência interina tivesse algum valor, já deveriam ter convocado eleições, como eu fiz em 2013. Foi a primeira coisa que fiz. Eles dizem que irão esperar 12 meses”, continuou antes de chamar de golpista o presidente da Assembleia Nacional. “Não querem eleições, querem um golpe de Estado. Como Pinochet. Eles querem impor um Pinochet à Venezuela”.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_