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Indignação se volta contra a Vale, que agora promete fim de barragens como a de Brumadinho

Empresa diz que vai por fim a represas como a de Brumadinho em dez locais. Prazo para concluir trabalho é de até três anos

Familiares no enterro de vítimas da tragédia.
Familiares no enterro de vítimas da tragédia.A. M. (REUTERS)
Naiara Galarraga Gortázar

O impacto inicial da catástrofe da mina de Brumadinho foi derivando com a passagem dos dias em uma crescente indignação e ira de familiares das vítimas, ambientalistas, políticos, seus próprios acionistas e os cidadãos em geral com a Vale, a empresa proprietária que já esteve envolvida em um desastre semelhante em 2015, em Mariana. A exigência de que se faça justiça, desta vez, já é um clamor. Cinco engenheiros que avaliaram em dezembro a barragem que se rompeu foram detidos provisoriamente na terça-feira por ordem de uma juíza que está considerando acusá-los de homicídio, crime ambiental e falsidade. Três deles, funcionários da Vale, estiveram envolvidos diretamente na última autorização da mina Córrego do Feijão, em dezembro. Os outros dois trabalham para a auditora alemã Tuv-Sud, responsável por avaliar o risco da instalação. Todas as licenças estavam em ordem.

As prisões, feitas no início da manhã, aconteceram depois do aumento –na véspera– das críticas à cúpula da maior empresa de mineração no Brasil pela magnitude da tragédia e porque é reincidente. Imediatamente depois de tomar conhecimento do desastre desta sexta-feira, a empresa, um gigante de 100.000 empregados entre diretos e indiretos, começou a ser castigada na Bolsa de Valores de Nova York. Naquele dia, a Bolsa de São Paulo estava fechada porque a cidade comemorava seu 465º aniversário, mas na segunda-feira as ações chegaram a cair 22% no índice Bovespa. As cifras se recuperaram um pouco na terça, mas nada capaz de compensar as perdas do dia anterior e os problemas futuros da companhia, na mira das agências classificadoras de risco.

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Também parte do plano de reação, o presidente da Vale, Fabio Schvatsman, anunciou no final da tarde que a empresa vai acabar de vez com barragens como as de Brumadinho e Mariana. Prometeu por fim a dez represas, que contêm bolsões de resíduos de mineração, mas já não recebiam, segundo a empresa, novos rejeitos. O tipo de barragem é chamada à montante, feita da maneira mais barata, considerada menos segura e até proibida em alguns países, como o Chile.

“A decisão da companhia é que, depois que esse desastre aconteceu, não podemos mais conviver com esse tipo de barragem, tomamos a decisão de eliminar com todas as barragens à montante, descomissionando (esvaziando) todas elas com efeito imediato. Para tanto será necessário paralisar as operações de mineração em todos os sítios que estão nas proximidades dessas barragens”, disse o presidente da Vale, que prometeu também absorver os cerca de 5.000 trabalhadores em minas ligadas a essas barragens em outras atividades. O plano pressupõe uma queda de 10% na produção da Vale e o investimento de 5 bilhões de reais, segundo a própria companhia.

O novo discurso da Vale deve ser comemorado pelas comunidades que convivem com o medo próximo de represas como a de Brumadinho, mas não deve conter de todo os críticos, que lembram, por exemplo, que a companhia há anos posterga o pagamento de multas ambientais próprias, sem contar as de empresas que controla, como a Samarco, responsável pelo desastre de Mariana, onde morreram 19 pessoas.

Outro dado que é que a Vale diz que vai precisar de até três anos para encerrar o tipo de barragem como as das tragédias de Minas. A represa em Brumadinho já estava em processo de desativamento (sem receber novos resíduos), tinha um plano aprovado para acabar com o armazenamento de rejeitos e reintegrá-los ao ambiente e mesmo assim o acidente aconteceu. No Brasil existem cerca de 4.000 represas que são oficialmente consideradas de “alto potencial nocivo”. Destas, 205 contêm resíduos minerais, como explicou o ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto. O ministro especificou que, como o Governo não tem capacidade para auditar todas elas, dará prioridade àquelas que apresentarem maiores riscos.

A Vale já tinha lançado mão de vários recursos para conter o choque e diminuir a dor dos afetados. Anunciou uma doação de 100.000 reais para as famílias de cada um dos mortos e das pessoas que não foram localizadas, independentemente de trabalharem na mina ou não, anunciou a contratação de médicos do hospital Albert Einstein –precisamente onde o presidente, Jair Bolsonaro, está se recuperando de uma cirurgia para remover a bolsa de colostomia após o ataque sofrido na campanha eleitoral– para atender os afetados e o pagamento de mais taxas aos municípios onde desenvolve suas atividades de mineração.

Um grupo de investidores entrou com uma ação civil nos EUA contra a Vale, responsabilizando-a pela perda de valor de suas ações ADR, que na segunda-feira caíram 27% naquele país.

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