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Militar que depôs contra brigadistas de Alter do Chão diz que o fez ‘em tom de brincadeira’

Jean Carlos Leitão diz que não acusou de crimes os voluntários que chegaram a ser presos com base em três depoimentos, incluindo o dele. Juristas que defendem os jovens querem arquivamento do inquérito

Membros da Brigada Alter do Chão.
Membros da Brigada Alter do Chão.Reprodução/Redes sociais

Uma das seis testemunhas cujos depoimentos serviram de base para o indiciamento dos voluntários da Brigada de Alter do Chão, no Pará, pelos incêndios florestais na Área de Proteção Ambiental (APA) da região afirmou que a suspeita relatada à Polícia Civil foi feita “em tom de brincadeira”. Em entrevista ao programa Cartas na Mesa, da rádio Guarany FM, de Santarém (PA), que foi ao ar nesta quinta-feira, Jean Carlos Leitão, militar da reserva e membro da Associação dos Reservistas de Santarém (Ares) declarou: "Eu disse que a gente estava lá conversando entre nós e surgiu essa conversa lá no meio do pessoal: ‘Será que não foram esses caras que tocaram fogo aí?’. E foi até em tom de brincadeira que todo mundo estava, num momento de descontração”.

Na mesma entrevista, Leitão nega ter acusado Daniel Govino, Marcelo Aron Cwerner, João Romano e Gustavo de Almeida Fernandes de terem cometido crime. “Não tenho envolvimento algum nessa questão de afirmar, até porque eu não vi. O que eu não vejo, eu não tenho como afirmar nada em relação a isso”, disse o militar à rádio.

Essa declaração contradiz, no entanto, o depoimento prestado às autoridades, em que Leitão diz que, enquanto transitava pelos focos de incêndio tentando combatê-los, percebeu a presença dos voluntários e achou “estranha a atuação deles”, porque “a Brigada foi criada em um dia e, uma semana depois, Alter do Chão estava cheia de focos de incêndio”. Em outro trecho do depoimento, o militar recorda que viu dois membros da Brigada “saindo do meio do mato e logo depois eles começaram a gritar ‘Fogo! Fogo! Fogo!’".

Após a divulgação das declarações de Leitão na rádio, a Aliança, rede de juristas que defende os voluntários acusados, publicou uma nota em que defende o arquivamento do inquérito. “Essa declaração é mais uma prova da ilegalidade, da arbitrariedade e da injustiça dessa investigação. Espera-se que o Ministério Público e a Justiça arquivem definitivamente essa investigação contra jovens inocentes e entidades reconhecidas no Brasil e no mundo. Como todos em Alter do Chão, espera-se que a apuração avance sobre os verdadeiros culpados, como já apontado por autoridades públicas locais e pela imprensa", diz a mensagem assinada por Beto Vasconcelos, idealizador do Projeto Aliança. Uma investigação conduzida pelo Ministério Público Federal aponta para a participação de grileiros nos incêndios de Alter do Chão.

Ainda na entrevista à rádio, Jean Carlos Leitão disse que pode ter havido uma “confusão” entre seu depoimento e sua posição política. “Eu fui depor porque a Polícia Civil veio aqui atrás de mim”, afirmou. O militar negou ser contrário à atuação de ONGs, mas também defendeu sua relação com o antropólogo Edward Luz, conhecido antagonista de ambientalistas e comunidades indígenas da região. Luz é assessor do Instituto Cidadão Pró Estado do Tapajós, do qual Leitão é presidente.

Luz também é um evangelizador da New Tribes Mission Brasil, criada na década de 50 por missionários norte-americanos para “salvar os tribais não alcançados” pela Bíblia, e sua atuação na Amazônia rendeu-lhe, em 2016, a expulsão da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). Em novembro, Luz liderou o pequeno grupo de representantes de entidades ruralistas que hostilizaram o cacique Raoni Metuktire durante a abertura da jornada da Amazônia Centro do Mundo na Universidade Federal do Pará (UFPA) de Altamira.


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