Banco da Inglaterra adverte que Brexit pode ser pior do que a crise de 2008
Governo de May admite que, mesmo com seu plano, a economia será prejudicada. Mas o alerta feito pela instituição financeira pode ajudá-la a aprovar um programa em dezembro
O Banco da Inglaterra (BoE na sigla em inglês) publicou um relatório demolidor na quarta-feira que pode ajudar Theresa May a conseguir que seu plano do Brexit seja aprovado pelo Parlamento em 11 de dezembro. A autoridade monetária do país afirma que uma saída desordenada da UE, se os deputados rejeitarem o acordo fechado com Bruxelas, poderia causar um prejuízo maior do que a recente crise financeira, com uma queda do PIB de até 8%. Os preços da moradia, segundo o documento da instituição, podem cair até 30% e a inflação disparar para 6,5%. Na recessão de 2008, a economia do Reino Unido despencou 6,5%. O BoE afirma, em uma tentativa de amenizar seu discurso, que já foram feitos os preparativos necessários para enfrentar um cenário tão negativo e que as instituições financeiras do país teriam força para resistir.
O relatório BoE foi publicado horas após de outro, elaborado pelo Governo de May, que considera os diferentes cenários posteriores à saída da UE para concluir que em nenhum deles é melhor para o Reino Unido do que a situação atual de permanência nas instituições comunitárias.
O Reino Unido crescerá menos depois do Brexit, mesmo que Theresa May consiga levar adiante no Parlamento o plano acordado com a União Europeia e seja capaz de negociar a futura relação comercial que pretende. O ministro da Economia, Philip Hammond, admitiu que a proposta que May pretende levar à Câmara dos Comuns deixará o país em uma situação pior do que a atual. “Mas não muito pior”, tentou atenuar Hammond na rede BBC.
De acordo com o relatório, de 90 páginas, mesmo que o acordo alcançado por May com a UE siga adiante, o PIB cairia 3,9% ao longo dos próximos 15 anos.
“Se levarmos em consideração apenas as considerações econômicas”, explicou o ministro, “está claro que esta análise mostra que permanecer na UE é claramente um resultado melhor para a economia do Reino Unido, mas não por muito. Mas as pessoas olham apenas para a economia. Também contempla os benefícios políticos e constitucionais da saída”.
IMPACTO DA SAÍDA DA UE NA ECONOMIA BRITÂNICA
Menor crescimento com respeito a permanecer na UE.
Em % do PIB, em 15 anos
▆ Sem mudanças em imigração
▆ Sem imigração da UE
A análise de Governo — cuja vontade última é demonstrar que uma saída da UE sem acordo, como pretendem os eurocéticos, seria muito pior do que uma retirada negociada— pretende ser um fator decisivo na campanha lançada por May para convencer os deputados a apoiar o acordo alcançado com a UE na votação de 11 de dezembro próximo.
Dominic Raab, ex-ministro para o Brexit
Existe uma brecha de credibilidade nestas previsões do Tesouro Dominic Raab, ex-ministro para o Brexit
Segundo o relatório, o PIB do Reino Unido cairia até 10 pontos (ou seja, cerca de 170 bilhões de euros, aproximadamente 744 bilhões de reais) ao longo dos próximos 15 anos se o país abandonar as instituições comunitárias sem maiores considerações. Mas até mesmo outras opções, como um pacto semelhante ao acordo de livre comércio que existe entre a UE e o Canadá e a Noruega, que permitiria que o Reino Unido permanecesse no Espaço Econômico Europeu, reduziria o PIB do país em 1,4%.
Os eurocéticos reagiram com fúria a essas previsões e imediatamente diminuíram a importância de um relatório que o próprio Governo pretende apresentar mais como uma análise do que como uma previsão. “Existe uma lacuna de credibilidade nessas previsões do Tesouro”, disse Dominic Raab, ex-ministro do Brexit e hoje um dos candidatos desse grupo para uma eventual substituição de May.
O ministro da Economia, um firme defensor da permanência na UE, recusou-se a contemplar a possibilidade de que o plano de May seja derrotado no Parlamento e que o Governo deva trabalhar em um plano B. “As outras opções só apresentam desvantagens. E precisamos nos concentrar não apenas na economia, mas em começar a cicatrizar as feridas sofridas como país”, disse.
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