_
_
_
_
_

Cultivo de coca no Peru se desloca para as fronteiras com o Brasil e a Bolívia

O incremento do consumo e do tráfico em países do Mercosul e no Chile, e mais remessas para a Ásia, reconfiguram o mapa do plantio com fins ilegais

Plantação de coca na região de Ayacucho, Peru
Plantação de coca na região de Ayacucho, PeruMariana Bazo (REUTERS)
Mais informações
A cocaína regressa a Colômbia
Aqueles 40 anos dourados da cocaína legal
São Paulo como centro nervoso do tráfico internacional da cocaína

Mudança radical no mapa peruano da coca. O diretor do órgão antidrogas do país, Rubén Vargas, informou nesta terça-feira, 27, que houve ampliação da área cultivada nas regiões da Amazônia peruana que fazem fronteira com o Brasil e a Bolívia, como resultado do aumento do consumo de drogas no Brasil, Argentina e Chile, e também do envio da droga a mercados emergentes, especialmente na Ásia.

“O mercado de drogas no Brasil está alterando o mapa da droga no Peru", frisou Vargas em uma reunião com a imprensa estrangeira. Ele preside a Comissão Nacional de Desenvolvimento e Vida sem Drogas (conhecida pela sigla Devida). "Além disso, há uma reconfiguração do mercado em países do Mercosul, como Argentina e Chile, onde está sendo consumida uma grande quantidade de cocaína. Mas não são apenas os consumidores, são pontos de reembarque para outras partes do mundo."

As cifras sobre a superfície ocupada pela coca para tráfico de drogas no Peru estão estancadas desde 2016, quando foi divulgado o último relatório anual sobre Peru do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC). No entanto, sua distribuição mudou. "Fica claro para nós que há um aumento em áreas de fronteira: no Baixo Amazonas, em Caballococha – tríplice fronteira com a Colômbia e o Brasil –, na província de Sandía – região de Puno, fronteira com a Bolívia, embora bem conectada com o Brasil pela Rodovia Interoceânica Sul – e na região de Madre de Dios – fronteiriça com o Brasil e a Bolívia", explicou Vargas nesta terça-feira.

O diretor disse a El Pais que não há estudos de rastreabilidade e, por isso, não é possível saber quanto da cocaína produzida no Peru permanece nos dois maiores países do Mercosul – Brasil e Argentina – e no Chile, e quanto é destinado a novos mercados na Ásia, sul da África e Oceania. Em 2017, autoridades locais de Caballococha, citadas pela agência EFE, contabilizaram de 10.000 a 15.000 hectares de cultivos de coca na região de Mariscal Castilla (da qual Caballococha é a capital), embora em 2016 o relatório do UNODC tenha registrado apenas 370 hectares nessa jurisdição.

As entidades envolvidas na luta contra as drogas no Peru, incluindo agências de cooperação internacional, não entram em acordo há anos sobre a fórmula para calcular a produção de cocaína. "Algumas dizem que são necessárias 300 folhas de coca para produzir um quilo de cocaína, outras falam em 250", diz o diretor da Devida. Diante dessa falta de informação sobre a cocaína produzida no território peruano, o Executivo não reconhece se é o maior produtor de cocaína, em comparação com a Colômbia e a Bolívia. De acordo com o relatório anual sobre controle de drogas do Departamento de Estado dos Estados Unidos, publicado em março, o Peru é o segundo maior produtor de cocaína e o segundo maior cultivador da folha de coca no mundo, depois da Colômbia.

O vale dos rios Apurimac, Ene e Mantaro (na floresta centro-sul do país) permanece como o que concentra a maior produção. E somente em nove distritos está 41% da área nacional de cultivo de coca, segundo os dados divulgados nesta terça-feira. De acordo com o relatório do UNODC de 2016, a superfície ocupada pela planta da coca nesta área alcança 20.304 hectares. Desde 2009 a cifra cresce ao ritmo de 1.500 hectares por ano, com uma produção potencial total de 66.000 toneladas métricas de cocaína por ano (ou 308 toneladas de cocaína), 75% do que o Peru produz.

O plano da Devida para alterar essa situação é construir mais infraestrutura no vale para que os produtores de cacau, café, barbasco e amendoim possam levar seus produtos para os mercados, e entregar equipamentos para gerar valor agregado aos produtos alternativos à coca.

Em vários vales de plantio de coca, uma agência do Ministério do Interior destrói manualmente os arbustos, a fim de conter o avanço do narcotráfico, mas essa atividade não é realizada no vale dos rios Apurimac, Ene e Mantaro. Lá, um grupo armado de cerca de 250 homens sob o comando dos irmãos Quispe Palomino executa ações ligadas ao tráfico de drogas e também intimida bases do Exército e mata membros das forças de segurança em emboscadas. O clã é um remanescente do grupo terrorista Sendero Luminoso, que surgiu em 1980 na cidade de Ayacucho.

Nem tudo é ilegal

No Peru, cerca de 11.000 toneladas de folha de coca têm destino lícito, ou seja, para o consumo tradicional nos Andes (para chacchar ou mastigar), ou para chás, biscoitos e doces para evitar o mal da altura. Nem tudo é ilegal, mas o problema do narcotráfico não para de crescer.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_