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Casa Branca devolve credencial a jornalista da CNN que Trump havia vetado

Governo recua da decisão de tirar a autorização de Jim Acosta para cobrir a presidência. Acosta teve entrevero com o presidente que o chamou de “pessoa grosseira e terrível”

Antonia Laborde
Donald Trump interage com o repórter da CNN Jim Acosta, na Casa Branca.
Donald Trump interage com o repórter da CNN Jim Acosta, na Casa Branca.EFE

A CNN ganhou a batalha contra a Casa Branca. A disputa legal pela retirada da credencial ao jornalista Jim Acosta chegou ao fim após o Governo Trump recuar nesta segunda-feira. Isso sim, as regras do jogo mudam. Os correspondentes foram notificados sobre uma série de modificações para as futuras coletivas de imprensa. Uma dessas mudanças prevê que só poderão fazer uma pergunta por vez. O alvoroço que o presidente americano protagonizou com Acosta se produziu quando o jornalista fazia questão de fazer uso de seu “turno de seguimento” a sua primeira pergunta. Depois disso, Trump se negou a responder e pediu para outro jornalista falar. Acosta insistiu, embora a assistente da sala de imprensa tenha tentado tirar o microfone de sua mão mais de uma vez. Ato contínuo, a Casa Branca anunciou que Acosta teria agido com desrespeito pela assistente e cancelou sua credencial. E a CNN entrou com ação na Justiça contra a cassação de sua credencial.

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O fato de Trump erguer uma bandeira branca é uma clara derrota em sua cruzada contra a cadeia de televisão, à qual chama “de rede das notícias falsas”. A Casa Branca mudou da água para o vinho entre a passada sexta-feira e esta segunda-feira. Nesse ínterim, sofreu muitos golpes. O primeiro ocorreu quando o juiz Timothy Kelly, nomeado por Trump no ano passado, julgou a favor de CNN e ordenou que se lhe devolvesse temporariamente a credencial a Acosta por duas semanas. O Governo, que tinha acusado o jornalista de pôr suas mãos sobre a assistente (estagiária) durante uma coletiva de imprensa, disse que acataria a ordem. No entanto, na mesma noite enviou uma carta ao correspondente advertindo-lhe de que uma vez que se cumprisse o prazo estabelecido pelo magistrado sua credencial voltaria a ser revogada. Acosta, que junto a CNN demandou o presidente dos EUA e  cinco membros de sua equipe por “violar a Constituição”, voltou a recorrer à trincheira legal. Nesta segunda a CNN anunciou que faria um pedido de vista de urgência no Tribunal de Distrito dos Estados Unidos para resolver o assunto. Não foi necessário. A Casa Branca rendeu-se.

A CNN informou por sua conta de Twitter: "Hoje a Casa Branca restaurou por completo o credenciamento de imprensa a Acosta. Como resultado, nossa demanda já não é necessária. Queremos continuar cobrindo a Casa Branca". A cadeia de televisão acusava os membros do Governo de violar os direitos da Primeira Emenda à liberdade de imprensa e da Quinta, ao devido processo.

A porta-voz presidencial, Sarah Sanders, anunciou através de um comunicado que o Governo falou com Acosta que sua credencial de imprensa estava sendo restaurada por completo. Também aproveitou para dar a conhecer o novo protocolo que será exigido dos jornalistas: o correspondente fará só uma pergunta e depois cederá a palavra a um de seus colegas. Em caso de o presidente ou outro servidor público da Casa Branca permitam, o repórter poderá fazer uma segunda pergunta. Uma vez que termine sua vez, deve entregar o microfone a um membro do pessoal. “O não_cumprimento de qualquer das regras pode dar lugar à suspensão ou revogação do passe permanente do jornalista”, concluía a missiva.

As novas normas parecem estar feitas sob medida da rusga entre Trump e Acosta. No dia 7 de novembro o mandatário deu uma coletiva de imprensa para avaliar os resultados das eleições legislativas. O jornalista de CNN perguntou ao republicano se ele não considerava que tinha "demonizado" os imigrantes ao referir-se aos membros da caravana que saiu da América Central co m destino aos EUA como “criminosas”. "Você é uma pessoa grosseira e terrível. Não deveria estar trabalhando para a CNN", respondeu Trump secamente e lhe tirou a palavra. Acosta fez uso de seu “turno de seguimento”, e perguntou ao presidente sobre a trama russa. O magnata, bastante fora de si, lhe disse sete vezes que era “suficiente”. Uma estagiária da Casa Branca tentou tirar o microfone do correspondente, mas Acosta não o entregou. Esse choque corporal entre ambos foi o que impulsionou o Governo a revogar a credencial do jornalista. "Não toleraremos que um repórter ponha as mãos em cima de uma jovem que está tentando fazer seu trabalho", argumentou Sanders. Acosta respondeu que a acusação era falsa e a Casa Branca, embora não tenha lhe dado razão,  levantou o castigo em menos de duas semanas.

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