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Fernando Azevedo e Silva, o mais político dos generais, fica com a Defesa no Governo Bolsonaro

General que entrou no radar por inusual assessoria no STF já serviu a três Governos. Militares da Marinha são os únicos fora do primeiro escalão até o momento

Bolsonaro durante evento no TST, em Brasília.
Bolsonaro durante evento no TST, em Brasília.SERGIO LIMA (AFP)

Um militar político com trânsito em todos os Poderes e que costuma dialogar com vários partidos. Assim é definido dentro das Forças Armadas e entre especialistas o futuro ministro da Defesa de Jair Bolsonaro (PSL), o general Fernando Azevedo e Silva. Aos 66 anos, o general Fernando, como é chamado, ocupou funções políticas em ao menos três governos federais. Na gestão Fernando Collor de Mello (1990-1992) foi ajudante de ordens do presidente. Em parte do Governo Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) esteve na assessoria parlamentar da força, um órgão em contato direto com o Congresso Nacional. E nos anos de Dilma Rousseff (2011-2016) chefiou a Autoridade Pública Olímpica. Ainda foi o número dois do Exército, já quando o comando era do atual chefe, o general Eduardo Villas Bôas. Atualmente era assessor especial do presidente do Supremo Tribunal Federal, Antonio Dias Toffoli.

Para além do currículo político, o que pesou para Bolsonaro decidir por ele foi a proximidade com o general Augusto Heleno, ambos trabalharam nas operações de paz no Haiti, e a indicação do atual comandante do Exército, o general Eduardo Villas Bôas. O futuro ministro também é amigo do vice-presidente eleito, o general Hamilton Mourão. Durante a campanha, ele ofereceu um almoço ao então candidato. Fernando é o terceiro militar a ser indicado para o primeiro escalão de Bolsonaro. Os outros foram o estratégico Heleno, para o Gabinete de Segurança Institucional, e Marcos Pontes, que é tenente-coronel da Aeronáutica e chefiará o Ministério de Ciência e Tecnologia.

Ainda que não se fale publicamente, outro fator que interferiu na escolha por Fernando foi a proximidade dele com o presidente do STF, num momento que não faltam indicações de que a principal corte do país pode ser uma barreira para alguns dos planos de Bolsonaro. Desde a redemocratização do país, na década de 1980, o Supremo jamais teve um militar como assessor de um presidente do Supremo. Foi Toffoli quem trouxe o general para os holofotes em setembro, quando o nomeou assessor especial. “Bolsonaro procurou alguém com um perfil político. E, certamente, houve essa conversa de cúpula com o comando do Exército e do Supremo”, afirmou o cientista político, Eurico de Lima Figueiredo, diretor do Instituto de Estudos Estratégicos da Universidade Federal Fluminense (UFF).

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Quando questionado quem indicou Fernando para o cargo, Bolsonaro disse: “Não foi sugestão do ministro Toffoli. Foi uma questão entre nós. E eu ouço muito o general Heleno para bater o martelo nessas questões.” Heleno chegou a ser anunciado pelo presidente eleito para a Defesa. Mas depois foi “promovido” para o Gabinete de Segurança Institucional (GSI), pasta que fica mais próxima do presidente e que passou a ter papel centralizador da segurança desde a criação da força-tarefa de Inteligência, criada o mês passado pela gestão Michel Temer.

Com a vacância da Defesa, uma disputa se abriu entre os militares. O Exército queria manter o ministério, hoje ocupado pelo general Joaquim Silva e Luna. A Aeronáutica corria por fora. E a Marinha era a favorita com o almirante Eduardo Leal Ferreira, atual comandante da Força. Com a escolha pelo general Fernando, a única sem representação no primeiro escalão do futuro governo de extrema direita é a Marinha, por enquanto. “Até onde eu sei, o atual ministro tem desempenhado muito bem, inclusive na composição dos interesses das três forças. O general Fernando vai tentar seguir esses passos, de apaziguar, conciliar e estabelecer um consenso entre todos os militares”, avaliou o professor Figueiredo, da UFF.

Não será um ministro qualquer. O Governo Temer já deu protagonismo sem precedentes aos militares desde 1988. Foi o atual presidente que convocou os militares para atuar na intervenção federal do Rio - tema sobre o qual a nova gestão terá de deliberar até o fim de dezembro, quando expira o mandato legal da medida. Foi também Temer que rompeu a tradição estabelecida pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso de nomear um civil para a pasta da Defesa. Agora, com a escolha de um general para o posto, Bolsonaro ignora o conselho de general Villas Bôas, que à Folha de S. Paulo havia dito que preferia alguém de fora da caserna. Na mesma entrevista, ele foi explícito sobre o temor de partidarização nos quartéis com o novo Governo.

Nesta terça, ao saber da nomeação, o atual comandante do Exército elogiou a escolha, mas voltou a reforçar a mensagem de que a chegada de Bolsonaro ao poder –algo que não acontecia a um militar pela via eleitoral desde 1945– não deve implicar um maior envolvimento dos militares no Governo. “Embora muitos militares estejam sendo chamados a participar do Governo, isso não significa que o Exército, como instituição, esteja fazendo isso. O Exército continua no seu papel de instituição de Estado, apolítica e apartidária", frisou.

Corrida nas Forças

A substituição nos comandos das forças deve ser uma das primeiras pautas a serem tratadas pelo general Fernando. A depender do grupo que hoje orbita o presidente, os atuais comandantes da Aeronáutica, Nivaldo Rossato, e da Marinha, Leal Ferreira, devem ser mantidos. No Exército a troca é dada como certa, pois o general Villas Bôas sofre de uma doença degenerativa.

Entre a força terrestre a tradição prevê que o general mais antigo assuma o comando. A maioria dos presidentes costuma seguir essa regra informal, nos últimos anos –apenas Dilma Rousseff (PT) a quebrou.

Os três generais da ativa mais antigos no topo da hierarquia militar foram colegas de Bolsonaro nos anos em que frequentou a escola de formação de oficiais, a Academia Militar dos Agulhas Negras (Aman). Pela ordem de antiguidade: Edson Leal Pujol, chefe de do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército, Paulo Humberto César de Oliveira, chefe do Estado Maior (o número dois da corporação), e Mauro César Lourena Cid, chefe do departamento de Educação e Cultura do Exército. Três fontes relataram ao EL PAÍS que o favorito para a função é o general Paulo Humberto porque teria maior proximidade com o presidente eleito. Pujol e Cid correriam por fora.

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