_
_
_
_

Milhares de ultranacionalistas participam da marcha do Governo polonês pela independência

Cerca de 200.000 pessoas se manifestam em Varsóvia para celebrar o centenário do país numa exibição extremista e ultracatólica

Milhares de ultras marcham neste domingo em Varsóvia durante o dia da independência da Polônia.
Milhares de ultras marcham neste domingo em Varsóvia durante o dia da independência da Polônia.JANEK SKARZYNSKI (AFP)
Mais informações
Governo ultraconservador polonês fecha cerco sobre o movimento feminista
A magistrada que desafia o Governo ultraconservador da Polônia
Polônia aprova polêmica lei que impede vincular o país aos crimes do Holocausto

“Estamos aqui para apoiar nossos irmãos poloneses. Hoje é um grande dia para eles!, diz Jan Sunka, um nacionalista da Eslováquia que veio com cerca de 30 amigos a Varsóvia para participar, neste domingo, da marcha da independência polonesa. A República da Polônia completa 100 anos hoje, e centenas de milhares de cidadãos saíram às ruas para festejar aquele 11 de novembro de 1918, quando o país voltou a aparecer no mapa, depois de passar 120 anos invadido por três potências que retalharam seu território: Rússia, o Império Austro-Húngaro e a Prússia.

Houve atos comemorativos o dia todo, mas o principal foi a marcha organizada pelo Governo em coordenação com os grupos de extrema-direita do país. A manifestação foi realizada no centro da capital, apesar de uma tentativa da prefeita de Varsóvia de proibi-la. O Ministério do Interior estima que 200.000 pessoas compareceram. O lema que os extremistas escolheram este ano foi “Deus, honra e pátria”.

A marcha foi inicialmente convocada pelos grupos ultranacionalistas, que a organizam todo ano neste dia desde 2009. A prefeita de Varsóvia, Hanna Gronkiewicz-Waltz, que está concluindo seu mandato, havia tentado proibir a manifestação na quarta-feira passada, citando a violência de seus participantes, mas um tribunal rejeitou a medida. “Varsóvia já sofreu bastante com o nacionalismo agressivo”, declarou a prefeita, que pertence ao partido opositor Plataforma Cívica: Finalmente, os ultranacionalistas e o Governo do partido Lei e Justiça (PiS) acordaram realizar uma manifestação conjunta.

“Uma polonesa de verdade, não essa senhora, nunca teria proibido a marcha”, critica Halina, uma aposentada de 74 anos que não quis revelar o sobrenome. Alguns chamam a prefeita pejorativamente de “judia”, embora ela não seja. Halina vem todos os anos a essa marcha com um grupo de amigas aposentadas e defensoras das políticas do Governo conservador do PiS. “Estamos aqui porque apoiamos nossos governantes e queremos que os poloneses emigrados voltem a esta grande pátria. O que não queremos são muçulmanos”, ela sentencia, com a bandeira polonesa numa das mãos, enquanto tenta conseguir um lugar entre a multidão.

O percurso da marcha tem três quilômetros: vai da rotatória Dmowskiego, ao lado do emblemático Palácio da Cultura, até o estádio nacional de futebol de Varsóvia, do outro lado do rio Vístula. Um grupo de húngaros do partido xenófobo e ultradireitista Jobbik que veio até a cidade se reunia perto da rotatória antes que o presidente da República, Andrzej Duda, tomasse a palavra. “Estes 100 anos foram 100 anos de glória e amizade entre os poloneses e os húngaros. Viemos para apoiá-los”, disse o porta-voz da Juventude do Jobbik, Szabolcs Szaley. E o que acha das medidas do Governo do PiS que estão afastando a Polônia da União Europeia (UE)? “É bom que haja debate”, ele responde.

Em vários pontos fora do trajeto havia diversos grupos de manifestantes que se opunham à marcha nacionalista com bandeiras da Polônia, da UE e do Orgulho Gay. Todos fazem parte do movimento cívico Obywatele RP (Cidadãos da República) e protestam desde 2016 contra o rumo autoritário do Executivo. Um grupo que ainda não havia cruzado a ponte do Vístula, formado por cerca de 200 pessoas, estava completamente rodeado por um exército de agentes antidistúrbios que o protegia contra possíveis ataques dos ultranacionalistas. Ao passar ao seu lado, vários setores radicais da marcha lançaram rojões e insultaram seus membros com frases como: “Vamos bater nos vermelhos com a foice e o martelo.”

A divisão entre os dois grupos reflete as duas Polônias desta sociedade fraturada: a mais tradicional e ultracatólica, que apoia o PiS, e a mais europeísta e democrática, que apoia a Plataforma Cívica. “O Governo, muito polarizado, divide as pessoas entre as que são patriotas e as que não são. Isso está provocando um fosso profundo”, disse, ao telefone, Anne Applebaum, colunista do The Washington Post e prêmio Pulitzer de ensaio em 2004 com seu livro Gulag: A History (Gulag: uma história).

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_