Milhares de ultranacionalistas participam da marcha do Governo polonês pela independência
Cerca de 200.000 pessoas se manifestam em Varsóvia para celebrar o centenário do país numa exibição extremista e ultracatólica
“Estamos aqui para apoiar nossos irmãos poloneses. Hoje é um grande dia para eles!, diz Jan Sunka, um nacionalista da Eslováquia que veio com cerca de 30 amigos a Varsóvia para participar, neste domingo, da marcha da independência polonesa. A República da Polônia completa 100 anos hoje, e centenas de milhares de cidadãos saíram às ruas para festejar aquele 11 de novembro de 1918, quando o país voltou a aparecer no mapa, depois de passar 120 anos invadido por três potências que retalharam seu território: Rússia, o Império Austro-Húngaro e a Prússia.
Houve atos comemorativos o dia todo, mas o principal foi a marcha organizada pelo Governo em coordenação com os grupos de extrema-direita do país. A manifestação foi realizada no centro da capital, apesar de uma tentativa da prefeita de Varsóvia de proibi-la. O Ministério do Interior estima que 200.000 pessoas compareceram. O lema que os extremistas escolheram este ano foi “Deus, honra e pátria”.
A marcha foi inicialmente convocada pelos grupos ultranacionalistas, que a organizam todo ano neste dia desde 2009. A prefeita de Varsóvia, Hanna Gronkiewicz-Waltz, que está concluindo seu mandato, havia tentado proibir a manifestação na quarta-feira passada, citando a violência de seus participantes, mas um tribunal rejeitou a medida. “Varsóvia já sofreu bastante com o nacionalismo agressivo”, declarou a prefeita, que pertence ao partido opositor Plataforma Cívica: Finalmente, os ultranacionalistas e o Governo do partido Lei e Justiça (PiS) acordaram realizar uma manifestação conjunta.
“Uma polonesa de verdade, não essa senhora, nunca teria proibido a marcha”, critica Halina, uma aposentada de 74 anos que não quis revelar o sobrenome. Alguns chamam a prefeita pejorativamente de “judia”, embora ela não seja. Halina vem todos os anos a essa marcha com um grupo de amigas aposentadas e defensoras das políticas do Governo conservador do PiS. “Estamos aqui porque apoiamos nossos governantes e queremos que os poloneses emigrados voltem a esta grande pátria. O que não queremos são muçulmanos”, ela sentencia, com a bandeira polonesa numa das mãos, enquanto tenta conseguir um lugar entre a multidão.
O percurso da marcha tem três quilômetros: vai da rotatória Dmowskiego, ao lado do emblemático Palácio da Cultura, até o estádio nacional de futebol de Varsóvia, do outro lado do rio Vístula. Um grupo de húngaros do partido xenófobo e ultradireitista Jobbik que veio até a cidade se reunia perto da rotatória antes que o presidente da República, Andrzej Duda, tomasse a palavra. “Estes 100 anos foram 100 anos de glória e amizade entre os poloneses e os húngaros. Viemos para apoiá-los”, disse o porta-voz da Juventude do Jobbik, Szabolcs Szaley. E o que acha das medidas do Governo do PiS que estão afastando a Polônia da União Europeia (UE)? “É bom que haja debate”, ele responde.
Em vários pontos fora do trajeto havia diversos grupos de manifestantes que se opunham à marcha nacionalista com bandeiras da Polônia, da UE e do Orgulho Gay. Todos fazem parte do movimento cívico Obywatele RP (Cidadãos da República) e protestam desde 2016 contra o rumo autoritário do Executivo. Um grupo que ainda não havia cruzado a ponte do Vístula, formado por cerca de 200 pessoas, estava completamente rodeado por um exército de agentes antidistúrbios que o protegia contra possíveis ataques dos ultranacionalistas. Ao passar ao seu lado, vários setores radicais da marcha lançaram rojões e insultaram seus membros com frases como: “Vamos bater nos vermelhos com a foice e o martelo.”
A divisão entre os dois grupos reflete as duas Polônias desta sociedade fraturada: a mais tradicional e ultracatólica, que apoia o PiS, e a mais europeísta e democrática, que apoia a Plataforma Cívica. “O Governo, muito polarizado, divide as pessoas entre as que são patriotas e as que não são. Isso está provocando um fosso profundo”, disse, ao telefone, Anne Applebaum, colunista do The Washington Post e prêmio Pulitzer de ensaio em 2004 com seu livro Gulag: A History (Gulag: uma história).
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