_
_
_
_

De piada na TV brasileira a presidente eleito

“Jamais imaginaríamos que muitas pessoas se identificariam com ele”, lamenta ex-repórter do CQC

Pablo Cantó
Mais informações
Educação, o primeiro ‘front’ da guerra cultural do Governo Bolsonaro
E agora, o que fazer com o Brasil de Bolsonaro?
Eldorado, uma visita às origens de Bolsonaro
Primeiro teste de Bolsonaro: quantas mulheres terá seu Governo?

Jair Bolsonaro foi, durante anos, objeto de piada da televisão brasileira. O presidente eleito, em sua época como parlamentar, era uma mina de comentários polêmicos e controversos que alguns programas, como o CQC, Pânico e Superpop, tentaram explorar. Em 28 de outubro, Bolsonaro venceu as eleições brasileiras. Monica Iozzi, ex-repórter do CQC, lamentou em seu Instagram ter dado tanto espaço a ele: “Eu me arrependo de tê-lo entrevistado tantas vezes”, diz.

Dois dias antes da realização das eleições, a repórter Monica Iozzi fez uma transmissão ao vivo no Instagram em se mostrava arrependida de ter entrevistado tantas vezes Bolsonaro. “Nós as mostrávamos [as entrevistas com Bolsonaro] para que as pessoas vissem o péssimo nível dos parlamentares que estávamos elegendo, era uma denúncia”, diz. “Jamais imaginaríamos que muitas pessoas se identificariam com ele”.

O CQC procurava Bolsonaro em sua época de parlamentar em busca de declarações incendiárias. E as encontravam. Em 2011, a cantora Preta Gil perguntou a Bolsonaro no programa o que ele faria se seu filho se apaixonasse por uma negra. O futuro presidente respondeu que “não corria esse risco” porque seus filhos “eram muito bem-educados”. Também disse que seus filhos não poderiam ser homossexuais porque “haviam recebido uma boa educação”. Essas declarações lhe custaram em 2017 uma multa de 150.000 reais.

O programa criava conteúdo até mesmo com as polêmicas que Bolsonaro gerava em seu próprio programa. Por exemplo, a resposta racista dada a Preta Gil repercutiu em outros veículos de comunicação tanto escritos como impressos. E o CQC voltou a entrevistar Bolsonaro para falar das reações que suas próprias declarações receberam:

Guga Noblat, outro dos ex-repórteres do CQC, não concorda com Iozzi. Noblat compara Bolsonaro com outro dos personagens que o CQC procurava para zombar, o religioso (e agora tentando ser youtuber) Inri Cristo. “O programa deu tanto espaço a Bolsonaro como a Inri Cristo. Sempre os tratou como uma piada”, disse no Twitter. “Um se tornou presidente. E o outro, virou santo? Não, Inri desapareceu depois do CQC. A culpa não é do programa”.

Conquistar espaço com declarações polêmicas

Muitos veículos de imprensa compararam a ascensão de Bolsonaro com a de Donald Trump. Os dois conquistaram seu espaço midiático com declarações polêmicas, em muitos casos machistas e racistas. Quando um veículo de imprensa tentava ridicularizá-los, também estava servindo como alto-falante. “Não os levamos suficientemente a sério [Trump e seus seguidores]”, afirmou a analista de imprensa do Washington Post, Margaret Sullivan, após a vitória do candidato norte-americano.

Kyle Pope, editor da revista de análises jornalísticas Columbia Journalism Review, chamou o trabalho da imprensa anterior à vitória de Trump como “o anti-Watergate”: no escândalo Watergate, a imprensa conseguiu derrubar um presidente. Nesse caso, o levantou. “A predisposição dos repórteres para ridicularizar Trump e seus seguidores primeiro, repudiá-los depois e, por fim, advogar e argumentar a favor de sua derrota nos levou a um momento em que toda a infraestrutura jornalística deve ser repensada e reconstruída”, criticou.

Outro dos pontos em comum das campanhas dos dois candidatos foi o peso decisivo das redes sociais. Após os protestos contra o aumento da passagem do transporte público em São Paulo convocadas nas redes sociais em 2013, alguns políticos tradicionais viram no Facebook e no Twitter a possibilidade de conquistar uma relevância maior. Bolsonaro foi um deles. Desde o começo da campanha eleitoral, fez transmissões ao vivo diárias para se dirigir ao seu público, e esse foi o canal escolhido para dar seu primeiro discurso após a vitória. Atualmente, entre todos os perfis de suas redes sociais, tem mais de 16 milhões de seguidores.

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo

¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?

Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.

¿Por qué estás viendo esto?

Flecha

Tu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.

Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.

En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.

Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.

Mais informações

Arquivado Em

Recomendaciones EL PAÍS
Recomendaciones EL PAÍS
_
_