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O brasileiro que relatou ao vivo o assassinato da própria família na Espanha senta no banco dos réus

“As crianças se agarram enquanto vou matá-las”, contou Patrick Nogueira a um amigo enquanto matava e esquartejava seus tios e primos em 2016

O assassino confesso da chacina de Pioz, Patrick Nogueira, durante o julgamento
O assassino confesso da chacina de Pioz, Patrick Nogueira, durante o julgamentoPepe Zamora (EFE)
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Com os olhos fixos no chão, imutável, Patrick Nogueira escutou nesta quarta-feira, 24, uma e outra vez, os detalhes de como cortou o pescoço de seus tios e de seus primos em uma casa de Pioz, na província espanhola de Guadalajara, em agosto de 2016; como, depois de desmembrá-los, colocou os cadáveres em sacos de lixo e os fechou com fita adesiva; e como, enviando mensagens e fotos pelo WhatsApp, contou tudo ao vivo a um amigo. Porque ninguém, nem mesmo sua defesa, negou nada disso durante a primeira sessão do julgamento que começou na manhã desta quarta-feira na Audiência Provincial de Guadalajara para decidir o destino desse jovem brasileiro de 22 anos que perpetrou um dos “crimes mais horripilantes e terríveis” cometidos na Espanha, segundo as palavras da promotoria.

À espera de que Nogueira prestasse depoimento à tarde, o período da manhã serviu para que as partes apresentassem suas estratégias. O ministério público e os advogados particulares de acusação, que pedem que o brasileiro seja condenado à prisão perpétua com possibilidade de revisão a cada 25 anos, insistiram na “frieza” e “crueldade” do acusado, assim como na tese de que ele cometeu os assassinatos de forma premeditada. A defesa, por sua vez, sustenta que ele foi movido por uma desordem cerebral. “Caso se considere que Patrick tem uma doença mental, que é o que pretende sua advogada, ele receberá um prêmio: sua sentença será reduzida. Mas para matar não é preciso ser louco, é preciso ser mau”, afirmou a promotora, que fez, juntamente com os advogados de acusação, a primeira reconstrução do dia do crime, insistindo que se baseia nas próprias mensagens de WhatsApp que o réu enviou.

A campainha da casa número 594 da rua Los Sauces tocou por volta das quatro da tarde de 16 de agosto de 2016. Naquele momento, só Janaína Santos e seus dois filhos, Maria Carolina, de quatro anos, e David, de um ano, estavam em casa. “Foi algo preparado. Ele chega quando sabe que Marcos não está. Porque sabia onde seu tio trabalhava e a que horas chegava”, alegou Alberto Martín, advogado da acusação. A tia abriu a porta e se deparou com o jovem, que tinha comprado duas pizzas minutos antes. Com absoluta “frieza”, como insistiu a promotoria, Nogueira os convidou a comer. E assim fizeram. Almoçaram juntos no jardim, como prólogo da série de assassinatos que o acusado estava a ponto de cometer.

Mensagens cômicas

A primeira vítima foi Janaína. Enquanto ela lavava os pratos na pia, Nogueira se aproximou pelas costas e ficou a seu lado. Então, de surpresa, esfaqueou-a no pescoço. Sem que ela tivesse tempo de perceber nada. “Aí ele vai atrás de seus primos. E, com a mesma faca, também corta o pescoço deles”, contou a procuradora-chefe de Guadalajara, que ressaltou a crueldade do crime: “Patrick, enquanto vai cometendo estes fatos, conta a seu amigo Marvin tudo que está fazendo através de mensagens de WhatsApp e fotos. E, se as fotos já são assustadoras, os comentários são mais ainda. Porque ele escreve mensagens cômicas, zombando. Diz a seu amigo: ‘As crianças não correm quando vou matá-las’ e ‘As crianças se agarram enquanto vou matá-las’”.

“Ele ria das crianças porque não corriam!”, exclamou também o advogado Alberto Martín.

Depois, Nogueira se senta para descansar. Limpa o local. Toma banho. “Comenta para seu amigo Marvin que está com fome e que vai fazer um sanduíche de atum”, especifica a promotora, acrescentando que, depois, o brasileiro sai para o jardim, onde fica esperando seu tio. Espera durante horas. “Tranquilamente. Com total frieza”, acrescentou o ministério público. Até que Marcos Santos chega, depois da dez horas da noite. Os dois conversam antes de entrar na casa. O tio entra primeiro e o acusado vai atrás. “Atrás, atrás, atrás”, repete o advogado de acusação, acrescentando que nesse momento é desfechado o ataque. “‘Eu estava cara a cara com ele quando enfiei a faca’, escreveu Patrick depois em uma mensagem”, detalhou Martín. Marcos Santos também foi esfaqueado no pescoço. “[Patrick Nogueira] queria cortar a jugular para que [o tio] se dessangrasse rapidamente”, afirma o advogado de acusação.

“Não venho para convencê-los de que Patrick não fez isso. É evidente que fez”, admitiu a advogada de Nogueira, Barbara Royo. “Patrick assassinou as crianças. Matou-as com aleivosia. Mas não os pais, ele os matou sem aleivosia”, acrescentou a advogada, depois que a sessão teve de ser suspensa por 10 minutos quando um dos nove membros do júri passou mal diante do impressionante relato dos fatos. Royo delineou assim uma das chaves de sua defesa. Tentará demonstrar que o acusado tem um dano neuronal que o levou a cometer o crime: “Patrick não é como nós. Infelizmente para ele e para nós. Tem um dano cerebral que predetermina o comportamento”. Um argumento que a promotoria e os advogados particulares de acusação rejeitam totalmente.

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