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China confirma que deteve o presidente da Interpol

Comissão de Supervisão investiga Meng Hongwei por “violações da lei” não especificadas

Macarena Vidal Liy
Meng Hongwei em julho de 2017, em Cingapura.
Meng Hongwei em julho de 2017, em Cingapura.Wong Maye-E (AP)

A China confirmou que deteve o presidente da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal) e vice-ministro chinês de Segurança Pública, Meng Hongwei, como suspeito de crimes não especificados. Meng estava desaparecido desde 25 de setembro, depois de desembarcar na China vindo de Estocolmo. Na sexta-feira foi divulgado que a polícia da França, onde fica a sede da Interpol, em Lyon, estava à sua procura depois que a esposa denunciou seu desaparecimento.

Em um breve comunicado divulgado por volta da meia-noite de domingo na China, a Comissão Nacional de Supervisão, o novo órgão encarregado de vigiar o comportamento dos funcionários públicos, revelou que Meng, de 64 anos, está em seu poder enquanto é investigado por “violações da lei”.

Uma vez nas mãos da Comissão, o presidente da Interpol pode, de acordo com as normas de funcionamento desse poderoso organismo criado no início do ano, permanecer detido até seis meses em um lugar secreto, sem contato com o exterior, mediante um sistema de detenção conhecido como liuzhi.

Neste domingo, a organização informou que recebeu a renúncia com efeito imediato de Meng como presidente e que elegerá um novo chefe em uma reunião que acontecerá em novembro em Dubai. Enquanto isso, o sul-coreano Kim Jong Yang será o presidente interino. A Interpol havia informado no sábado que pedira esclarecimentos à China sobre o paradeiro de Meng, que chefiava a agência internacional de cooperação policial havia dois anos. A esposa do alto funcionário, Grace Meng, e seus filhos, foram colocados sob proteção, conforme informado pelo Ministério do Interior francês.

Em uma entrevista coletiva em Lyon, Grace Meng explicou que a última coisa que soube do marido foram duas breves mensagens enviadas por SMS no dia 25. Em uma, o emoji de uma faca informava que estava em perigo e em outra pedia que ela aguardasse uma chamada dele. Depois, nada mais.

“Esta é uma questão que corresponde à comunidade internacional”, disse a esposa do alto funcionário, citada pela agência AFP. “Não tenho certeza do que aconteceu com ele.”

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Desde a chegada de Xi Jinping ao poder, a China realiza uma ampla campanha de luta contra a corrupção que causou a queda da desgraça de mais de um milhão de funcionários. Entre eles estão 17 altos funcionários –ou “tigres”, como o próprio Xi os descreveu–, incluindo destacados possíveis adversários políticos.

Entre os presos e condenados à prisão perpétua está o ex-ministro da Segurança Pública, Zhou Yongkang, que foi superior direto de Meng por três anos e que, até poucos meses antes de ser preso, ocupava um dos postos no Comité Permanente, o principal órgão poder do Partido Comunista Chinês (PCC).

Da porta para fora, nada parecia indicar que Meng, cuja nomeação como chefe da Interpol fora saudada com júbilo pela China e com preocupação pelas organizações de defesa dos direitos humanos, estivesse prestes a ser preso. Mas nesta primavera, durante a reforma dos órgãos de direção do Partido e das estruturas de Governo, o alto funcionário policial perdeu seu assento no Comitê Central, o terceiro órgão de comando dentro da formação comunista. Era o único da alta hierarquia da Segurança Pública ao qual essa honra foi retirada.

“Imagino que algo urgente deve ter acontecido. É por isso que [as autoridades] escolheram uma ação tão imediata, correndo o risco de ficar em evidência no cenário internacional”, declarou o historiador e comentarista político Zhang Lifan ao jornal de Hong Kong South China Morning Post. “Se Meng estivesse envolvido em um mero caso de corrupção, não teria havido necessidade de as autoridades administrarem isso dessa maneira.”

Ninguém está acima do partido

O anúncio da prisão de Meng coincide nesta semana com uma multa de 111 milhões de euros (cerca de 478 milhões de reais) à atriz Fan Bingbing, a mais famosa e mais bem paga de toda a China, por sonegação de impostos. Fan desapareceu por três meses, também enquanto estava sob investigação. Ao reaparecer, a atriz postou em sua conta do Weibo, o Twitter chinês, onde tem 62 milhões de seguidores, uma mensagem de arrependimento na qual afirmou que sem o Partido “Fan Bingbing não existe”.

Os casos de Meng e Fan enviam uma forte advertência das autoridades chinesas: ninguém, por mais popular ou aparentemente protegido que se encontre, está acima do que o PCC dita. E para Pequim, suas leis nacionais passam por cima de outras considerações internacionais. Sintomaticamente, o comunicado da Comissão Nacional de Supervisão destaca o cargo de Meng como vice-ministro ao invés da presidência da Interpol.

Pequim também deixa claro, com essa detenção, algo que já tinha apontado ao criar a Comissão (herdeira da Comissão Central de Vigilância da Disciplina, o órgão policial do PCC): que a campanha contra a corrupção, que parecia ter perdido fôlego depois de seus primeiros e intensos anos, tornou-se permanente e continuará a ter em seu ponto de mira altos funcionários que derem motivos para suspeitas. De acordo com o South China Morning Post, no dia 29 de setembro, o chefe de gabinete de Xi, Ding Xuexiang, instou os funcionários do Estado e do Partido a permanecerem vigilantes contra a corrupção.

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