O último apelo de Ciro Gomes para ser a alternativa da esquerda e da direita
Terceiro colocado nas pesquisas, ex-governador do Ceará mobiliza eleitores contra Bolsonaro e Haddad. Datafolha indica que Ciro é a segunda opção de 26% dos eleitores do petista e de 20% do capitão
Estagnado há várias pesquisas em terceiro lugar, com uma taxa próxima a 11% dos votos, Ciro Gomes (PDT) busca um urgente fôlego final nas últimas horas que antecedem a eleição. O candidato pedetista quer se firmar como alternativa à polarização entre os dois primeiros colocados nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), e, por isso, se empenha em emplacar a imagem de que é a melhor solução tanto para os que odeiam o militar reformado quando para os que não suportam o partido de Luiz Inácio Lula da Silva. Para os primeiros, se reforça como o único candidato capaz de vencer Bolsonaro no segundo turno com folga —Haddad empata tecnicamente com o candidato do PSL. Já, para os segundos, se coloca como o único candidato mais ao centro com alguma chance de alcançar o segundo turno —Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (REDE) e todos os demais apresentam taxas mais baixas de intenção de voto— o que lançou entre seus partidários, o apelo a uma união desses candidatos em torno do pedetista.
Nesta quarta-feira, a hashtag Alcirina figurou entre os temas mais comentados do Twitter. Referia-se a uma chapa que mistura os nomes de Ciro, Marina e Alckmin e que ganhou até um abaixo-assinado que reuniu 13.000 assinaturas em dois dias circulando pelas redes sociais. "Fazemos um apelo para que os senhores e a senhora unifiquem os seus votos em uma única candidatura, sinalizando aos seus eleitores que votem no candidato escolhido. Pela conjuntura atual, sugerimos que esse candidato seja Ciro Gomes (PDT), o candidato dentre vocês que está mais bem colocado na pesquisa, conta com menor rejeição e ganha tanto de Bolsonaro quanto Haddad com folga", diz o texto, que segue: "Em troca, pedimos que Ciro incorpore pontos das propostas de Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB), garantindo também que ambos partidos tenham uma posição de destaque em seu Governo".
Gomes foi questionado sobre a proposta nesta quarta-feira, durante uma agenda de campanha em São Paulo. "Não posso cometer a indelicadeza de pedir a meus adversários que abram mão de suas candidaturas", disse. Afirmou que não gosta de "oportunismo", mas que aceitaria incorporar pautas de candidatos mais ao centro, como Marina e Alckmin. "A Marina é uma pessoa que trabalhou para o Brasil a vida inteira. Do Alckmin, posso adotar algumas coisas. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado), por exemplo, é uma proposta minha. Se eu for procurado aceito o apoio deles", disse.
O desafio para isso, entretanto, seria o de achar um consenso em relação ao nome, já que esta não é a primeira tentativa de unificação. Na semana passada, uma reunião convocada para criar unidade ao redor de Alckmin não chegou sequer a ocorrer. Também em setembro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um apelo aos eleitores: "É hora de juntar forças e escolher bem, antes que os acontecimentos nos levem para uma perigosa radicalização. Pensemos no país e não apenas nos partidos, neste ou naquele candidato. Caso contrário, será impossível mudar para melhor a vida do povo. É isto o que está em jogo: o povo e o país. A Nação é o que importa neste momento decisivo", escreveu o ex-presidente "Há meses repito ser necessário um 'centro popular e progressista'. Parece que na conjuntura água mole não racha pedra dura. O que não muda minhas convicções", explicou.
Se você não quer Bolsonaro presidente, vote CIRO 12 já no primeiro turno. #CiroSim #Ciro12 pic.twitter.com/ghss2gldKK
— Ciro Gomes (@cirogomes) October 2, 2018
Para o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, é muito difícil que um movimento de aglutinação como esse ocorra. "O eleitor é independente, não segue muito imposição de ninguém. Tem sua liberdade de escolha. O que a gente pode fazer é o que estamos fazendo, trabalhar, mostrar as vantagens da candidatura Ciro Gomes", diz o líder partidário. Lupi prefere se concentrar nos indecisos, que hoje compõem um terço do eleitorado. "A eleição está começando, ainda há uma eternidade. Não tem essa definição. A rejeição de Bolsonaro é alta, assim como a de Haddad. Temos tudo para ganhar", acredita ele, que acha possível atrair votos tanto do candidato do PSL quanto do representante do PT.
Os votos de Bolsonaro e de Haddad, contudo, são os mais consistentes, segundo a última pesquisa Datafolha. Entre os primeiros colocados em intenção de votos, os dois são aqueles que apresentam eleitores com o maior nível de decisão: 84% para o deputado e 82% para o ex-prefeito. No caso de Ciro, por exemplo, apenas 57% se dizem decididos a lhe dar o voto. Os eleitores de Alckmin (52% decididos) e Marina (38% decididos) estão ainda menos certos da escolha. A mesma pesquisa mostra que Ciro é a segunda opção de 26% dos eleitores petistas e de 20% dos eleitores de Bolsonaro — os números indicam que Alckmin estaria em condição muito parecida de receber votos dos dois primeiros colocados, como segunda opção de 24% dos eleitores de Bolsonaro e de 22% dos de Haddad.
Pelo #Elenão
Do lado da esquerda, os apelos de uma união em torno do nome de Gomes contra Bolsonaro também ganharam fôlego. A candidatura do pedetista já vinha mobilizando parte do meio artístico, puxada principalmente por Caetano Veloso, que cedeu sua casa para o candidato reunir outros artistas, como o músico Tico Santa Cruz, o humorista Marcelo Adnet e os atores Debora Bloch e Vladimir Brichta. Nesta quarta-feira, o humorista Gregório Duvivier aderiu à candidatura do ex-governador do Ceará. "Estava hesitando por várias razões. Mas não dá mais. Precisamos dele no segundo turno. Vou votar #Ciro12. Ele tem um projeto de país. E ganha do Solnorabo [Bolsonaro] no segundo turno. Pronto", escreveu Duvivier em seu perfil no Twitter.
Duvivier se refere às pesquisas de segundo turno que mostram Ciro como o adversário mais difícil para Bolsonaro. O candidato do PDT aparece com 46% contra os 42% do deputado do PSL, segundo o Datafolha. O militar reformado, por sua vez, apresenta 44% quando disputa o segundo turno com Haddad, que fica com 42% —uma diferença considerada empate técnico. Já na pesquisa Ibope divulgada na noite desta quarta-feira, Haddad tem 43% contra 41% de Bolsonaro, enquanto Ciro teria vitória folgada, de 46% contra 39%.
Partindo do argumento que Gomes é a melhor opção contra Bolsonaro, outra hashtag que tomou o Twitter nas últimas horas foi a #RenunciaHaddad. Mas os números das pesquisas não são o bastante para convencer os eleitores petistas, que se engajaram em enfrentamentos nas redes sociais com os eleitores de Ciro Gomes em busca de uma vaga no segundo turno. E é justamente a visão de que o pedetista pode ser a salvação do centro que o torna tão tóxico para parte dos eleitores de Haddad, que hesitam em fazer a mudança de voto. Para alguns, o fato de Ciro aceitar incorporar trechos dos programas de Alckmin e de Marina prova que ele não é exatamente um candidato de esquerda.
Tu suscripción se está usando en otro dispositivo
¿Quieres añadir otro usuario a tu suscripción?
Si continúas leyendo en este dispositivo, no se podrá leer en el otro.
FlechaTu suscripción se está usando en otro dispositivo y solo puedes acceder a EL PAÍS desde un dispositivo a la vez.
Si quieres compartir tu cuenta, cambia tu suscripción a la modalidad Premium, así podrás añadir otro usuario. Cada uno accederá con su propia cuenta de email, lo que os permitirá personalizar vuestra experiencia en EL PAÍS.
En el caso de no saber quién está usando tu cuenta, te recomendamos cambiar tu contraseña aquí.
Si decides continuar compartiendo tu cuenta, este mensaje se mostrará en tu dispositivo y en el de la otra persona que está usando tu cuenta de forma indefinida, afectando a tu experiencia de lectura. Puedes consultar aquí los términos y condiciones de la suscripción digital.