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O último apelo de Ciro Gomes para ser a alternativa da esquerda e da direita

Terceiro colocado nas pesquisas, ex-governador do Ceará mobiliza eleitores contra Bolsonaro e Haddad. Datafolha indica que Ciro é a segunda opção de 26% dos eleitores do petista e de 20% do capitão

Ciro Gomes em ato de campanha perto de fábrica da General Motors em Sao Caetano do Sul (SP) na terça-feira.
Ciro Gomes em ato de campanha perto de fábrica da General Motors em Sao Caetano do Sul (SP) na terça-feira.Sebastiao Moreira (EFE)
Rodolfo Borges
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Estagnado há várias pesquisas em terceiro lugar, com uma taxa próxima a 11% dos votos, Ciro Gomes (PDT) busca um urgente fôlego final nas últimas horas que antecedem a eleição. O candidato pedetista quer se firmar como alternativa à polarização entre os dois primeiros colocados nas pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), e, por isso, se empenha em emplacar a imagem de que é a melhor solução tanto para os que odeiam o militar reformado quando para os que não suportam o partido de Luiz Inácio Lula da Silva. Para os primeiros, se reforça como o único candidato capaz de vencer Bolsonaro no segundo turno com folga —Haddad empata tecnicamente com o candidato do PSL. Já, para os segundos, se coloca como o único candidato mais ao centro com alguma chance de alcançar o segundo turno —Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (REDE) e todos os demais apresentam taxas mais baixas de intenção de voto— o que lançou entre seus partidários, o apelo a uma união desses candidatos em torno do pedetista.    

Nesta quarta-feira, a hashtag Alcirina figurou entre os temas mais comentados do Twitter. Referia-se a uma chapa que mistura os nomes de Ciro, Marina e Alckmin e que ganhou até um abaixo-assinado que reuniu 13.000 assinaturas em dois dias circulando pelas redes sociais. "Fazemos um apelo para que os senhores e a senhora unifiquem os seus votos em uma única candidatura, sinalizando aos seus eleitores que votem no candidato escolhido. Pela conjuntura atual, sugerimos que esse candidato seja Ciro Gomes (PDT), o candidato dentre vocês que está mais bem colocado na pesquisa, conta com menor rejeição e ganha tanto de Bolsonaro quanto Haddad com folga", diz o texto, que segue: "Em troca, pedimos que Ciro incorpore pontos das propostas de Marina Silva (REDE) e Geraldo Alckmin (PSDB), garantindo também que ambos partidos tenham uma posição de destaque em seu Governo".

Gomes foi questionado sobre a proposta nesta quarta-feira, durante uma agenda de campanha em São Paulo. "Não posso cometer a indelicadeza de pedir a meus adversários que abram mão de suas candidaturas", disse. Afirmou que não gosta de "oportunismo", mas que aceitaria incorporar pautas de candidatos mais ao centro, como Marina e Alckmin. "A Marina é uma pessoa que trabalhou para o Brasil a vida inteira. Do Alckmin, posso adotar algumas coisas. O IVA (Imposto sobre Valor Agregado), por exemplo, é uma proposta minha. Se eu for procurado aceito o apoio deles", disse.

O desafio para isso, entretanto, seria o de achar um consenso em relação ao nome, já que esta não é a primeira tentativa de unificação. Na semana passada, uma reunião convocada para criar unidade ao redor de Alckmin não chegou sequer a ocorrer. Também em setembro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez um apelo aos eleitores: "É hora de juntar forças e escolher bem, antes que os acontecimentos nos levem para uma perigosa radicalização. Pensemos no país e não apenas nos partidos, neste ou naquele candidato. Caso contrário, será impossível mudar para melhor a vida do povo. É isto o que está em jogo: o povo e o país. A Nação é o que importa neste momento decisivo", escreveu o ex-presidente "Há meses repito ser necessário um 'centro popular e progressista'. Parece que na conjuntura água mole não racha pedra dura. O que não muda minhas convicções", explicou.

Para o presidente nacional do PDT, Carlos Lupi, é muito difícil que um movimento de aglutinação como esse ocorra. "O eleitor é independente, não segue muito imposição de ninguém. Tem sua liberdade de escolha. O que a gente pode fazer é o que estamos fazendo, trabalhar, mostrar as vantagens da candidatura Ciro Gomes", diz o líder partidário. Lupi prefere se concentrar nos indecisos, que hoje compõem um terço do eleitorado. "A eleição está começando, ainda há uma eternidade. Não tem essa definição. A rejeição de Bolsonaro é alta, assim como a de Haddad. Temos tudo para ganhar", acredita ele, que acha possível atrair votos tanto do candidato do PSL quanto do representante do PT.

Os votos de Bolsonaro e de Haddad, contudo, são os mais consistentes, segundo a última pesquisa Datafolha. Entre os primeiros colocados em intenção de votos, os dois são aqueles que apresentam eleitores com o maior nível de decisão: 84% para o deputado e 82% para o ex-prefeito. No caso de Ciro, por exemplo, apenas 57% se dizem decididos a lhe dar o voto. Os eleitores de Alckmin (52% decididos) e Marina (38% decididos) estão ainda menos certos da escolha. A mesma pesquisa mostra que Ciro é a segunda opção de 26% dos eleitores petistas e de 20% dos eleitores de Bolsonaro — os números indicam que Alckmin estaria em condição muito parecida de receber votos dos dois primeiros colocados, como segunda opção de 24% dos eleitores de Bolsonaro e de 22% dos de Haddad.

Pelo #Elenão

Do lado da esquerda, os apelos de uma união em torno do nome de Gomes contra Bolsonaro também ganharam fôlego. A candidatura do pedetista já vinha mobilizando parte do meio artístico, puxada principalmente por Caetano Veloso, que cedeu sua casa para o candidato reunir outros artistas, como o músico Tico Santa Cruz, o humorista Marcelo Adnet e os atores Debora Bloch e Vladimir Brichta. Nesta quarta-feira, o humorista Gregório Duvivier aderiu à candidatura do ex-governador do Ceará. "Estava hesitando por várias razões. Mas não dá mais. Precisamos dele no segundo turno. Vou votar #Ciro12. Ele tem um projeto de país. E ganha do Solnorabo [Bolsonaro] no segundo turno. Pronto", escreveu Duvivier em seu perfil no Twitter.

Duvivier se refere às pesquisas de segundo turno que mostram Ciro como o adversário mais difícil para Bolsonaro. O candidato do PDT aparece com 46% contra os 42% do deputado do PSL, segundo o Datafolha. O militar reformado, por sua vez, apresenta 44% quando disputa o segundo turno com Haddad, que fica com 42% —uma diferença considerada empate técnico. Já na pesquisa Ibope divulgada na noite desta quarta-feira, Haddad tem 43% contra 41% de Bolsonaro, enquanto Ciro teria vitória folgada, de 46% contra 39%.

Partindo do argumento que Gomes é a melhor opção contra Bolsonaro, outra hashtag que tomou o Twitter nas últimas horas foi a #RenunciaHaddad. Mas os números das pesquisas não são o bastante para convencer os eleitores petistas, que se engajaram em enfrentamentos nas redes sociais com os eleitores de Ciro Gomes em busca de uma vaga no segundo turno. E é justamente a visão de que o pedetista pode ser a salvação do centro que o torna tão tóxico para parte dos eleitores de Haddad, que hesitam em fazer a mudança de voto. Para alguns, o fato de Ciro aceitar incorporar trechos dos programas de Alckmin e de Marina prova que ele não é exatamente um candidato de esquerda.

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