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“Foi infeliz”, diz Dirceu sobre afirmar que PT iria “tomar o poder” em caso de golpe

Ex-ministro recua sobre polêmica declaração que fez em entrevista ao EL PAÍS e ataca Jair Bolsonaro: "Grave foi o que ele falou"

José Dirceu, em entrevista há duas semanas.
José Dirceu, em entrevista há duas semanas.Divulgação
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José Dirceu disse nesta segunda-feira em entrevista coletiva em São Luís do Maranhão que foi "infeliz" a declaração que fez de que o PT iria "tomar o poder" em caso de um golpe. Em entrevista ao EL PAÍS na semana passada, o ex-ministro-chefe da Casa Civil de Lula havia sido perguntado se acreditava na possibilidade de o PT ganhar essas eleições e não levar. Em resposta, afirmou achar "improvável" que isso ocorresse, mas que,se viesse a acontecer, seria "uma questão de tempo para a gente tomar o poder. Aí a gente vai tomar o poder, o que é diferente de ganhar uma eleição".

A polêmica foi repercutida por grande parte da imprensa ao longo da semana passada e foi reproduzida, no Twitter, pelo candidato Jair Bolsonaro (PSL). Procurado, Dirceu não quis falar novamente com a reportagem. Em caravana para o lançamento de seu novo livro - Zé Dirceu - Memórias volume 1 -, a reportagem apurou que o petista passou o final de semana se preparando para responder sobre suas declarações na entrevista coletiva que daria nesta segunda em São Luís.

Questionado, ele afirmou que "tiraram do contexto completamente" sua resposta, mas reconhece que não foi uma boa declaração. "Foi infeliz porque dá condições para se explorar, como se existisse uma coisa que é ganhar a eleição, e existisse outra coisa que é ganhar o poder. Não é isso que eu quis dizer", afirmou. "Eu estava respondendo no caso de golpe de Estado. No caso de golpe de Estado não tem mais eleição". E afirmou que "jamais defenderia" que invés de ganhar a eleição, o PT deveria tomar o poder.

Tentando mudar o foco de sua polêmica, o ex-ministro aproveitou para atacar o principal rival de Fernando Haddad (PT) nesta eleição, Bolsonaro, líder nas pesquisas. "O grave é o que Bolsonaro falou, não o que eu falei". Ele se refere a uma declaração feita pelo candidato no programa policial de José Luis Datena, na TV Bandeirantes, na semana passada. Na primeira entrevista que concedeu após o ataque que sofreu no último dia 6, o presidenciável disse que não aceitaria um resultado diferente de sua vitória nesta eleição. "Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição", afirmou.

O candidato também acabou tendo que se retratar depois, ao afirmar ao jornal O Globo que não foi exatamente isso que ele quis dizer. "Sei que não tenho nada para fazer [em caso de derrota]. O que quis dizer é que não iria, por exemplo, ligar para o Fernando Haddad depois e cumprimentá-lo por uma vitória", disse. Em vídeo exibido durante manifestação organizada por seus apoiadores em São Paulo no domingo, o presidenciável reforçou a tentativa de explicação. "Vamos ganhar essas eleições no primeiro turno. A diferença será tão grande que será impossível qualquer possibilidade de fraude", disse o candidato que vem contestando sistematicamente a segurança das urnas eletrônicas.

Mais polêmicas

Após a polêmica com a declaração que deu a este jornal, José Dirceu concedeu outra entrevista que lhe custou novas contestações. No sábado, ao portal do AZ Piauí, ele defendeu que é preciso "tirar o poder de investigação" do Ministério Público. "O Ministério Público serve para causar. Virou uma polícia política, não há controle nenhum. E mais: uma das maiores corporações que existem no Brasil", afirmou. Ele defendeu que o MP se limite à tarefa de "acusar" e não de investigar.

Após a entrevista, o ex-ministro foi questionado pelo jornal O Globo sobre a declaração, e respondeu, minimizando. "Não falei nada extraordinário. Não estou querendo impedir que o MP atue na Lava Jato. Estou discutindo em geral. O MP não pode investigar e acusar".

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