Bolsonaro é esfaqueado durante ato de campanha em Juiz de Fora
Candidato participava de passeata em Juiz de Fora quando foi atingido por homem de 40 anos. A facada causou lesão no abdômen, segundo o hospital onde ele é operado
O candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL-RJ) foi esfaqueado na tarde desta quinta-feira enquanto realizava campanha pelas ruas de Juiz de Fora, em Minas Gerais. De acordo com informações da Santa Casa de Juiz de Fora, para onde o deputado federal foi levado após ser atingido, ele foi alvejado na região do abdômen, passou por uma cirurgia e teve que receber uma transfusão de sangue, mas está estável. Imagens da agressão, que circulam pelas redes sociais, mostram de diversos ângulos o momento em que Bolsonaro, carregado por apoiadores, contrai o corpo ao ser atingido. Depois, uma lâmina se afasta do corpo dele. Na sequência, o autor da facada é identificado pelos apoiadores do deputado, que o seguram e o agridem com murros.
Bolsonaro tomou uma facada agora em Juiz de Fora. pic.twitter.com/QDTF0PoUnp
— pelo menos levantou o debate (@robsonbroy) September 6, 2018
No final desta noite, a diretora Médica e Técnica do hospital, Eunice Dantas, explicou que Bolsonaro chegou ao hospital "em choque e em estado grave, em virtude de um sangramento vultuoso". Ele apresentava uma lesão em uma veia do abdômen, que foi suturada, além de outras três lesões no intestino delgado, que também foram suturadas. A cirurgia para estancar os ferimentos durou cerca de 2h30. Havia, ainda, um ferimento no intestino grosso, que não foi costurada inicialmente por risco de contaminação. Por isso, ele terá que usar uma bolsa de colostomia por cerca de dois meses, quando terá que ser submetido novamente a uma outra cirurgia para refazer o trânsito intestinal. No final da noite desta quinta, ele já respirava sem a ajuda de aparelhos, mas permanecia na UTI, em estado grave, ainda que estável. A estimativa do hospital é que ele fique entre uma semana e dez dias internado. Médicos do hospital Sírio Libanês foram até o hospital mineiro para avaliar a viabilidade de ele ser transferido para São Paulo nos próximos dias.
O ataque da tarde desta quinta-feira foi atribuído pela Polícia Federal a Adélio Bispo de Oliveira, de 40 anos. Foi instaurado inquérito policial para apurar as circunstâncias do fato. Ainda não há pistas sobre a motivação do crime. De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele foi filiado ao PSOL de 2007 a 2014 — o partido publicou nota para repudiar a agressão, que "configura um grave atentado à normalidade democrática e ao processo eleitoral". O agressor foi preso em flagrante e levado para a Delegacia da Polícia Federal do município". A Polícia Federal informou ainda que Bolsonaro "contava com escolta de policiais federais quando foi atingido por uma faca durante o ato público".
Em sua página do Facebook, Adélio Bispo de Oliveira fazia comentários críticos a Bolsonaro e chegou a elogiar o presidente venezuelano Nicolás Maduro. “Dá nojo só de ouvir (...) dizer que a ditadura deveria ter matado pelos uns 30.000 comunistas”, escreveu Oliveira após postar um vídeo com entrevista do presidenciável do PSL realizada em data desconhecida. Bispo também usava a rede social para criticar o que chama de “direita maçônica”. “Na maçonaria a maior parte dos maçons não passam do terceiro grau, servindo de capachos para os mais graduados, e para lhes satisfazer certas vaidades e serviços exclusos (sic)”. Segundo fotos postadas em seu perfil, ele teria ido a ao menos um ato contra o presidente Michel Temer.
Um dos filhos de Bolsonaro, Flávio, que é candidato ao Senado, também se manifestou por meio de seu perfil no Twitter. "Infelizmente foi mais grave que esperávamos", disse. "A perfuração atingiu parte do fígado, do pulmão e da alça do intestino. Perdeu muito sangue, chegou ao hospital com pressão de 10/3, quase morto... Seu estado agora parece estabilizado. Orem, por favor!". Apoiador de Bolsonaro, o deputado Fernando Francischini (PSL-PR) publicou uma foto do candidato sendo atendido com a mensagem "O Capitão está vivo e passará para a história!". “Está na cara que foi um crime político", disse Francischini ao EL PAÍS. "Como líder do nosso partido na Câmara, vou encaminhar um requerimento para a Polícia Federal investigar se havia mandante ou se esse militante de esquerda agiu sozinho. Ele já foi filiado ao PSOL e agiu da pior maneira possível”. Francischini não estava em Juiz de Fora nesta quinta-feira, mas está a caminho da cidade.
O incidente ocorre no dia seguinte à publicação pesquisa que confirmava a liderança do deputado na corrida presidencial sem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e em meio a uma campanha tensa, que já tinha registrado gestos de agressão durante a caravana pré-eleitoral de Lula, em março.
Repercussão
A notícia do ataque refletiu no mercado financeiro. A partir das 16h10, a Bolsa de Valores de São Paulo, que operava em queda durante todo o dia, começou a subir. O principal índice do mercado, Ibovespa, fechou o dia em alta de 1,76% e o dólar caiu 1%. Segundo analistas consultados pelo EL PAÍS, isso não significa, no entanto, que o mercado financeiro endosse Bolsonaro ou se posicione contra ele. O presidente Michel Temer criticou a intolerância que tem pautado a campanha. "A Polícia Federal e a polícia local já estão trabalhando nessa matéria, foi agora há pouco. Mas isso revela algo que devemos nos conscientizar. É intolerável num Estado democrático de direito que não haja a possibilidade de uma campanha tranquila, que uma campanha que as pessoas vão e apresentem seus projetos", disse Temer durante cerimônia no Palácio do Planalto.
Nunca calarão as vozes dos brasileiros que querem mudança no Brasil. Um Comunista, ex filiado do PSOL, defensor do Lula...
Gepostet von Delegado Francischini am Donnerstag, 6. September 2018
A Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) divulgou nota para repudiar o "ato de violência praticado contra o candidato Jair Bolsonaro". "A democracia não comporta esse tipo de situação. A realização das eleições em ambiente saudável depende da serenidade das instituições e militantes políticos. O processo eleitoral não pode ser usado para enfraquecer a democracia", diz na nota Claudio Lamachia, presidente nacional da OAB. "Neste momento, cabe a reflexão a respeito do momento marcado por extremismos, por discursos de ódio e apologia à violência. Tudo isso apenas estimula mais violência, numa situação que prejudica a todos. A OAB acompanha atenta o desdobramento desse fato. É preciso que todas as forças políticas possam participar do pleito e que os eleitores tenham assegurado o direito à livre escolha", finaliza o presidente do OAB.
Os outros candidatos à presidência se manifestaram sobre o incidente. “Eu repudio todo e qualquer ato de violência. Por isso a violência nunca deve ser estimulada. Eu não estimulo”, disse o senador Alvaro Dias (Podemos-PR). O candidato do Novo, João Amoêdo, disse que "é lamentável e inaceitável o que aconteceu há pouco com o candidato Jair Bolsonaro". "Independentemente de divergências políticas, não é possível aceitar nenhum ato de violência. O Brasil lutou muito para voltar à democracia e a ter eleições limpas e livres. A violência não pode colocar essas conquistas em risco. Que o agressor sofra as devidas punições. Meus votos de melhoras para o candidato", completou.
Atualmente candidato a vice-presidente da chapa do PT à presidência, o ex-prefeito Fernando Haddad publicou em seu perfil no Twitter que repudia "totalmente qualquer ato de violência" e deseja "pronto restabelecimento a Jair Bolsonaro". A ex-ministra Marina Silva (Rede) escreveu que "a violência contra o candidato Jair Bolsonaro é inadmissível e configura um duplo atentado: contra sua integridade física e contra a democracia". "Neste momento difícil que atravessa o Brasil, é preciso zelar com rigor pela defesa da vida humana e pela defesa da vida democrática e institucional do nosso País. Este atentado deve ser investigado e punido com todo rigor. A sociedade deve refutar energicamente qualquer uso da violência como manifestação política", completa Marina.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso escreveu: "Há tempos menciono e critico o ódio que se difunde na sociedade. A facada em Bolsonaro fere a democracia. É inaceitável humana e politicamente". O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, disse que "política se faz com diálogo e convencimento, jamais com ódio". "Qualquer ato de violência é deplorável. Esperamos que a investigação sobre o ataque ao deputado Jair Bolsonaro seja rápida, e a punição, exemplar", disse o tucano, acrescentando que espera que o candidato se recupere rapidamente. Candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes também se manifestou por meio das redes sociais: "Acabo de ser informado em Caruaru, Pernambuco, onde estou, que o Deputado Jair Bolsonaro sofreu um ferimento a faca. Repudio a violência como linguagem politica, solidarizo-me com meu opositor e exijo que as autoridades identifiquem e punam o ou os responsáveis por esta barbárie".
A diretora do Human Rights Watch no Brasil, Maria Laura Canineu, disse em seu perfil no Twitter que "a HRW condena com veemência o ataque contra o candidato Bolsonaro". "Diferenças políticas ou ideológicas devem ser resolvidas por meio de diálogo e nunca da violência. As autoridades devem realizar uma investigação imediata e completa sobre o ataque e garantir a responsabilização", completou.
Colaborou Regiane Oliveira.
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