Coreia do Norte oferece desmantelar instalações de mísseis sob supervisão internacional
Pyongyang também inutilizará sua central nuclear se os EUA derem passos recíprocos, anunciou o presidente sul-coreano, Moon Jae-in, durante a cúpula coreana
A Coreia do Norte se prontificou preliminarmente a desmantelar por completo seus locais de testes nucleares e de mísseis e permitir que os inspetores internacionais sejam testemunhas. O relato foi feito pelo presidente sul-coreano, Moon Jae-in, em uma entrevista coletiva conjunta com o líder da Coreia do Norte, Kim Jong-un, em Pyongyang, onde ambos realizaram sua terceira cúpula bilateral. Kim, segundo o chefe de Estado do Sul, também visitará Seul muito em breve, talvez ainda neste ano. Seria o primeiro líder norte-coreano a visitar a capital do Sul desde o final da guerra na península (1950-1953).
Os dois países assinaram nesta quarta-feira um acordo em Pyongyang comprometendo-se a eliminar "toda ameaça" de guerra entre seus respectivos países e a obter uma península sem perigos nem armas nucleares. "O Norte e o Sul concordaram em fazer da península coreana uma base para a paz, onde não haja ameaças nem armas nucleares, e buscarão progressos substanciais para obter este fim rapidamente", diz o documento.
É a primeira vez, salientou Moon, que as duas Coreias concordam em passos específicos para a desnuclearização. O regime norte-coreano, acrescentou, fechará de modo permanente seu centro de testes de mísseis em Tongchang-Ri. E o fará, segundo o comunicado, "sob a supervisão de especialistas dos países implicados".
Ainda poderão ser dados mais passos, como o desmantelamento total de sua central nuclear de Yongbyon, onde em 2008 o regime derrubou uma torre de resfriamento como gesto de boa vontade. Mas essas medidas estarão condicionados a ações recíprocas por parte dos Estados Unidos.
É uma grande condicionante. No decorrer do processo de negociações sobre seu programa nuclear, a Coreia do Norte exigiu que Washington suspendesse as sanções e, sobretudo, assinasse um tratado que pusesse fim definitivamente à Guerra da Coreia, suspensa há décadas apenas por um armistício. Mas os Estados Unidos replicavam que Pyongyang devia dar passos significativos para sua desnuclearização, além dos gestos de boa vontade já empreendidos com o cancelamento de seus testes de armas e a detonação de seu centro de provas nucleares de Punggye-Ri. O acesso dos inspetores internacionais era um dos passos exigidos; outro era a entrega de uma lista completa das instalações e equipamentos nucleares norte-coreanos. Uma lista que, pelo menos aparentemente, não figura entre os compromissos aceitos nesta quarta-feira.
Se os Estados Unidos derem seu aval ao comunicado conjunto, poderia ser reativado o seu processo de negociação com a Coreia do Norte. Um processo encalhado desde a cúpula de junho, em Singapura, entre Kim e o presidente norte-americano, Donald Trump, pelas exigências respectivas de que seja o outro que se mova primeiro.
Por enquanto, Trump já respondeu em um tuíte no qual mostra sua satisfação pela decisão norte-coreana de "permitir inspeções nucleares, sujeitas a negociações finais, e de desmantelar permanentemente um local de provas e lançamentos na presença de especialistas internacionais".
À espera de como será o desenrolar dessas conversações, as duas Coreias definiram também nesta quarta-feira uma série de medidas para estreitar suas relações mútuas e incrementar sua confiança.
Antes do final do ano, os dois países farão uma cerimônia para conectar seus sistemas ferroviários nas costas leste e oeste. Também, "quando houver condições", retomarão a cooperação no polígono industrial fronteiriço de Kaesong, fechado em 2016 depois do quarto teste nuclear norte-coreano, e as visitas turísticas sul-coreanas ao monte Kumgang, no lado norte da fronteira. Também apresentarão uma candidatura conjunta para organizar os Jogos Olímpicos de verão de 2032.
"O Norte e o Sul impulsionarão seus intercâmbios e cooperação sobre uma base de reciprocidade, interesses compartilhados e prosperidade, e proporão medidas substanciais para desenvolver a economia nacional", indica o comunicado.
Além disso, a visita de Kim a Seul, "a primeira de um líder supremo norte-coreano, e um ponto de inflexão" nas relações, segundo Moon, também terá lugar ainda neste ano, a menos que se deem "circunstâncias especiais".
As duas Coreias também assinaram um acordo militar para aumentar sua comunicação e evitar situações que possam levar ao início acidental de um conflito. Entre outras coisas, concordaram em cancelar todas as manobras de artilharia na zona fronteiriça.
Começa "uma nova era de paz e prosperidade", declarou Kim Jong-un em seu comparecimento junto a Moon, no qual o líder norte-coreano leu um texto previamente preparado.
A cúpula de Pyongyang, a terceira da história entre líderes das duas Coreias e também a terceira ocasião em que Moon e Kim se veem frente a frente, tinha como objetivo tentar destravar as negociações entre a Coreia do Norte e os Estados Unidos. O presidente sul-coreano prevê retornar a Seul nesta quinta-feira, após três dias de conversações.
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