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Descoberta de pelo menos 166 corpos em uma vala de Veracruz revive o horror da violência no México

Restos humanos foram encontrados em um terreno de 300 metros quadrados e têm mais de dois anos

Roupas encontradas na vala.
Roupas encontradas na vala.Fiscalía de Veracruz
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A Promotoria de Veracruz informou na quinta-feira a descoberta de uma vala com 166 crânios e outros restos humanos em um local não revelado por “razões de segurança”. Na área, de 300 metros quadrados, os agentes também encontraram 200 peças de roupas, 114 identidades e outros artigos pessoais das vítimas. Esse seria o segundo maior cemitério clandestino localizado no Estado assolado pela violência. Há dois anos integrantes do Coletivo Solecito, uma associação de familiares com pessoas desparecidas, descobriram um prédio próximo ao porto de Veracruz chamado Colinas de Santa Fe, onde encontraram 295 corpos.

Em uma mensagem à imprensa o promotor geral de Veracruz, Jorge Winckler Ortiz, informou que o departamento da Promotoria encarregado de receber denúncias por desaparecimento de pessoas obteve um depoimento que revelou a localização da vala. Durante a investigação, que durou 30 dias, as autoridades utilizaram georadares, sondas de busca e drones para rastrear o terreno. “Pela análise antropológica das descobertas foi possível determinar que são sepultamentos clandestinos de pelo menos dois anos”, afirmou. O funcionário disse que os coletivos com familiares desaparecidos não foram informados sobre os trabalhos de busca por questões de segurança, mas adiantou que colocarão à disposição um catálogo com as roupas e outros acessórios encontrados.

Lucy Díaz Henao, uma das integrantes do Coletivo Solecito, questionou o fato da Promotoria ocultar os trabalhos de busca das diversas organizações. “A Promotoria não é confiável e nós não temos nenhuma razão para confiar neles. Fazem um péssimo trabalho e tememos que manipulem, percam indícios e escondam informação”, disse. Além disso, afirmou, as autoridades não utilizaram a Lei Geral em Matéria de Desaparecimento Forçado de Pessoas, que entrou em vigor no ano passado e que prevê que nas buscas as autoridades devem permitir a participação direta dos familiares.

A Promotoria, disse Díaz Henao, deve avançar na identificação dos restos pelas exumações. No prédio de Colinas de Santa Fe foram exumados 295 corpos e somente 25 deles foram identificados. No Estado, um dos mais populosos do país com oito milhões de habitantes, os coletivos calculam que existem 20.000 desaparecidos. Em grande parte dos casos, afirmou, houve participação de policiais e funcionários públicos. “Os desaparecimentos por parte dos policiais continuam. Quando Yunes (o atual governador) chegou deixou nos postos os antigos comandantes, com os mesmos velhos hábitos ruins”, afirmou.

Veracruz, no Golfo do México, tem mais valas do que municípios: mais de 300 contra pouco mais de 200 localidades. Em janeiro, Winckler Ortiz notificou o Congresso sobre os estragos do crime organizado: nos últimos seis anos as autoridades periciais encontraram, até esse momento, 343 valas clandestinas distribuídas em 102 pontos pelo Estado. Nas valas estavam enterrados 225 corpos, mas somente 111 pessoas foram identificadas por suas famílias.

O Estado foi atingido pela violência fruto da disputa entre grupos do crime organizado e suas finanças públicas foram assoladas pelos recorrentes casos de corrupção que se agravaram durante a gestão do ex-governador Javier Duarte, atualmente preso. Em 2017, o ano mais sangrento na história do México, Veracruz teve 1.641 homicídios dolosos, uma taxa de 20,7 assassinados para cada 100.000 habitantes. Nos primeiros sete meses do ano foram abertas 784 pastas de investigação por esse tipo de crime.

Durante a gestão do ex-mandatário Duarte, Arturo Bermúdez Zurita, à época secretário de Segurança, e Roberto González Meza, diretor da Força Civil, uma corporação que agia sob o comando de Bermúdez, ordenavam e executavam a prisão ilegal de pessoas em total impunidade. Os policiais, sob seu comando, capturavam e torturavam quem eles ordenavam. Os dois policiais atualmente estão presos. Em outubro do ano passado, a Comissão Estatal dos Direitos Humanos de Veracruz emitiu uma recomendação a diversas autoridades após documentar o desparecimento de 81 pessoas entre fevereiro de 2011 e outubro de 2016. Em 22 casos a suposição era de desaparecimento forçado, ou seja, existiu participação material e intelectual de servidores públicos. A CEDH denunciou a simulação por parte da Promotoria estadual nas investigações dos casos.

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