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Ortega aumenta cerco a jornalistas na Nicarágua

Apoiadores do presidente agridem e intimidam repórteres nacionais e estrangeiros que cobrem a crise no país centro-americano

Carlos S. Maldonado
Altar em Manágua em homenagem ao jornalista Ángel Gahona.
Altar em Manágua em homenagem ao jornalista Ángel Gahona.Carlos Herrera

Sandra Weiss, jornalista alemã enviada à Nicarágua pelo jornal suíço Neue Zürcher Zeitung, foi agredida em 10 de agosto quando fazia a cobertura de uma invasão de terras na província de Chinandega, no oeste do país. Weiss queria documentar os danos causados ao projeto “Chinandega Passion Fruit Company (Chimaco)”, uma enorme plantação de maracujá com um investimento de 20 milhões de dólares (80 milhões de reais) de propriedade de uma empresa suíça e do Grupo Coen —uma das maiores neste país centro-americano, que havia sido invadido por grupos armados leais ao Governo do presidente Daniel Ortega. A repórter foi obrigada a descer do táxi que havia contratado e entregar aos agressores câmera, gravador, anotações e cartão de crédito, este último foi usado, posteriormente, para pagar 2.000 dólares em compras nos postos de gasolina locais. O ataque a Weiss é a mais recente agressão contra o jornalismo em um país onde o Governo persegue e criminaliza essa profissão, segundo relatos de repórteres e diretores de comunicação.

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Em 18 de abril, quando o presidente Ortega ordenou um ataque a manifestantes contrários às reformas da previdência social em Manágua, os simpatizantes de Ortega —armados de canos e paus— agrediram jornalistas que cobriam o protesto, incluindo correspondentes da imprensa estrangeira. A indignação com a resposta violenta do Executivo a quem se opunha às reformas levou a uma série de manifestações que, desde 19 de abril, exigem a saída do líder sandinista e já deixaram pelo menos 317 mortos. Em 21 de abril, quando se completavam três dias de repressão brutal, Angel Gahona, jornalista e proprietário do noticiário El Meridiano, foi morto na cidade de Bluefields, localizada no Caribe nicaraguense. Gahona transmitia no Facebook Live um confronto entre tropas de choque e manifestantes, quando foi baleado na cabeça.

Os colegas de Gahona em Bluefields repudiaram o assassinato e culparam a Polícia Nacional, que começou a assediar e intimidar os repórteres que testemunharam o incidente. A jornalista Ileana Lacayo relatou que ela e outros repórteres foram “perseguidos” por “policiais à paisana e uniformizados” e que também “monitoraram os movimentos” de seus familiares, o que a levou a deixar a Nicarágua.

A essas agressões se somou a censura meios de comunicação independentes, depois da ordem da Telcor —a empresa estatal reguladora das telecomunicações— de retirar o sinal aberto de pelo menos quatro canais de televisão que cobriam ao vivo as manifestações antigovernamentais. O Canal 100% Notícias foi a mídia mais afetada pela censura de Ortega: foi retirado do ar sem explicações durante vários dias em abril. Os sites da revista Confidencial e do jornal La Prensa também sofreram ataques que os deixaram fora da Internet durante horas.

Em junho, quando o Governo armou agrupamentos irregulares que atacaram as barricadas erguidas em protesto pela população em várias cidades do país, um grupo parapolicial investiu contra jornalistas que pretendiam realizar uma cobertura do ataque contra a cidade de Masaya, localizada 35 quilômetros a sudeste de Manágua. Os encapuzados cercaram os jornalistas Leticia Gaitán, do 100% Notícias, e Daliana Ocaña e Luis Alemán, do Canal 12, e os ameaçaram com armas de grosso calibre. Roubaram parte de seu equipamento.

Enquanto isso, Roberto Collado Urbina, correspondente do informativo Acción 10 na cidade colonial de Granada, era espancado e sequestrado por grupos parapoliciais. O jovem teve ferimentos graves na cabeça —que tiveram de ser suturados— e o dedo mindinho de sua mão esquerda ficou inutilizado pelos golpes. Outro repórter do Acción 10, Paco Espinoza, denunciou que estava sendo alvo de perseguição, por isso teve de se esconder nas montanhas do norte da Nicarágua. A polícia acusa Espinoza, que cobriu as manifestações contra o Governo em Jinotega, cidade do norte do país, de “terrorismo, roubo e tortura”. O jovem repórter disse que puseram um “preço” por sua captura: oferecem 7.000 dólares (cerca de 28.000 reais). Denúncia semelhante fez a direção da Rádio Corporación, de Manágua, ao informar na semana passara que em perfis das redes sociais ligados ao Governo estavam oferecendo até 5.000 dólares (20.000 reais) pela captura do correspondente dessa emissora em Masaya.

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