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Basquete brasileiro celebra 10 anos de NBB sem voltar a ser referência mundial

Modalidade é tradicional no Brasil e liga teve uma boa primeira década, mas confederação sofre com déficit financeiro e má administração

Anderson Varejão, que disputou Olimpíadas pelo Brasil, jogando pelo Flamengo contra o Mogi pela NBB.
Anderson Varejão, que disputou Olimpíadas pelo Brasil, jogando pelo Flamengo contra o Mogi pela NBB.Staff Imagens / Flamengo
Diogo Magri
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No dia primeiro de agosto de 2018, completaram-se 10 anos de fundação da liga de basquete profissional brasileira, conhecida por uma sigla quase idêntica à famosa americana: NBB, ou Novo Basquete Brasil. Administrada pela LNB (Liga Nacional de Basquete) e com o apoio da CBB (Confederação Brasileira de Basketball), a competição substituiu o Campeonato Brasileiro de Basquete, que durou de 1990 a 2005, após três anos de inatividade profissional que simbolizavam a crise vivida pelo esporte no Brasil. A ideia do novo torneio era modernizar o basquetebol brasileiro e provar que a modalidade é financeiramente viável no país, além de capaz de voltar a conquistar público e audiência, se baseando no modelo de gestão da NBA; uma liga independente da confederação e movida pelos próprios clubes. Apesar do relativo sucesso da competição, o esporte ainda esbarra em um grande obstáculo para se desenvolver no país e voltar a ser referência de qualidade mundo afora: “Temos uma dívida de 40 milhões. Sem dinheiro, fica tudo muito difícil”, afirma Ricardo Trade, diretor sênior de operações da CBB.

A dívida, segundo Ricardo, é fruto de gestões anteriores a de Guy Peixoto, presidente da Confederação há pouco mais de um ano. “Recuperamos a credibilidade com a FIBA e estamos mudando a imagem da CBB”. Mas, para que o planejamento estratégico ideal seja seguido em prol do desenvolvimento do basquete brasileiro, a entidade necessita de um parceiro no mercado, independentemente do sucesso da NBB. “Precisamos de um patrocinador master e ainda não conseguimos por causa da nossa imagem não muito boa. A nossa realidade é de oficial de justiça na nossa porta e até já botamos recursos pessoais para pagar impostos atrasados”.

Ricardo Trade adota um discurso otimista porque, para ele, o número de fãs de basquete no Brasil é “algo impressionante”. “Estamos trabalhando muito no marketing e acredito que em breve conseguiremos um patrocínio”. Magic Paula, ex-jogadora de basquete medalhista de ouro no Panamericano de Havana (1991), ouro no Mundial da Austrália (1994) e prata nas Olimpíadas de Atlanta (1996), ciente das dificuldades da CBB, também reconhece esta como a maior dificuldade atual do esporte no país. “Qualquer perspectiva de mudança deste cenário parte do princípio de que as ideias podem ser as melhores, mas, sem recursos para colocar em prática, fica muito complicado”.

NBB em alta

Se a Confederação passa por momentos difíceis, a Liga Nacional de Basquete, que administra a NBB, comemora a primeira década de existência: “Os resultados [ano a ano] são significativos: atração de novos patrocinadores, aumento de fãs, aumento do público nos ginásios e no faturamento das equipes”. As informações vêm respaldadas por dados da própria entidade. “Tivemos um aumento de 13% na média de público desde a última temporada e saímos da 13ª posição de esporte na preferência dos brasileiros para a terceira. Temos parceria com TV aberta e TV fechada”. A Liga também explica o conceito do NBB, um torneio formado a partir do movimento dos próprios clubes. “São eles que fazem a gestão da entidade, eliminando conflitos e fazendo com que a administração foque na melhoria da gestão de clubes e campeonato”. A NBA, modelo americano na qual o NBB foi baseado, ainda mantém um relacionamento semanal de “discussão de estratégias e intercâmbios frequentes” de acordo com a LNB.

Além de estruturais, as melhorias também apresentaram resultados na qualidade do basquete jogado no Brasil para a Liga. Segundo a LNB, “o retorno veio bem antes do esperado. Há três anos nossas equipes foram campeãs de todas as competições internacionais que disputaram”. Os títulos citados são os conquistados pelo Flamengo, em 2014, quando venceu a Liga das Américas e ganhou o direito de disputar o Campeonato Mundial Interclubes de Basquete, onde foi campeão em cima do israelense Maccabi Tel Aviv. Paula, que ganhou o campeonato mundial de clubes com a Ponte Preta em 1993, comenta com certa ressalva. “É sabido que estas competições internacionais foram no âmbito mais restrito, mas já é um reflexo de uma Liga forte”. Ela diz, também, que a década de NBB mostrou o quão importante é ter uma visão a longo prazo para provar que a modalidade é atraente para parceiros. “Precisávamos desta modernização de gestão e está bem claro que a modalidade tem público. Estar entre os primeiros na preferência dependia deste resgate da credibilidade e isto era questão de tempo”.

A Confederação Brasileira de Basquete não organiza o Novo Basquete Brasil, mas chancela a competição. “Somos parceiros e temos muito a colaborar com o NBB para o esporte crescer ainda mais”, afirma Ricardo Trade. “Estar fora da NBB foi uma escolha da gestão anterior. E deu certo. Sem a liga, não tem basquete; o basquete é feito pelos clubes”. Ele também vê com bons olhos o aumento da qualidade a nível de campeonato nacional para a seleção brasileira, responsabilidade da CBB. “Se a liga se fortalece, a seleção também se fortalece. Com o nível melhor do campeonato, podemos ter a certeza de que os jogadores chegarão em boas condições à seleção”. Os resultados da equipe nacional, entretanto, não apareceram nos últimos anos. A seleção brasileira de basquete masculino, que já ganhou Mundial e Pan-americano, foi 5ª colocada nas Olimpíadas de Londres (2012), 6ª no Mundial da Espanha (2014) e eliminada na fase de grupos das Olimpíadas do Rio de Janeiro (2016). A NBA, elite do basquete mundial, chegou a ter nove brasileiros na temporada de 2014-15 e contou com seis no último ano: Nenê (Houston Rockets), Raulzinho Neto (Utah Jazz), Cristiano Felício (Chicago Bulls), Lucas ‘Bebê’ Nogueira (Toronto Raptors), Bruno Caboclo (Toronto Raptors) e Georginho de Paula (Houston Rockets). Além deles, Leandrinho e Anderson Varejão (ambos campeões da NBA) voltaram recentemente para jogar no Brasil, Marcelinho Huertas, que passou pelo Los Angeles Lakers, está no Baskonia (da Espanha) e Tiago Splitter, o primeiro brasileiro a ser campeão nos Estados Unidos, anunciou a aposentadoria em fevereiro deste ano.

Basquete feminino e base

Para Magic Paula, "para começar a gerar frutos em competições de peso, precisamos ter os jovens talentos assumindo mais o poder de decisão. Hoje ainda temos muita dependência de jogadores experientes”. Uma das soluções para o problema foi a criação da Liga Ouro de Basquete, em 2014, uma divisão de acesso na qual o campeão sobe para a NBB. “O objetivo [da Liga Ouro] é abrir espaço para o surgimento de novas equipes nas diversas regiões do país, oferecer uma competição com exigências financeiras menores e criar oportunidades para jovens atletas”.

Paula traz o problema para o basquete feminino brasileiro: “Diferentemente da nossa época, o [basquete] masculino é quem hoje está em outro patamar”. A ex-jogadora lamenta o curto campeonato para as mulheres – a atual edição da LBF, Liga Brasileira Feminina, começou em 8 de janeiro e foi decidida no dia 3 de junho – e o grande número de jogadoras que vai para o exterior. “O feminino só terá um investimento interessante quando puder ter jogadoras que atuam fora jogando a Liga, contratações de estrangeiras de peso, jogos transmitidos pela TV e preocupação dos clubes em investir na base”. Fora isso, a seleção ainda ficou pela primeira vez desde 1959 fora de um Campeonato Mundial da categoria ao ser eliminada por Porto Rico na Copa América de 2017. “O feminino deve demorar mais um tempo para se reposicionar no mercado. A situação é ainda pior”, completa Paula.

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